Faz muito tempo.
Mas, depois da medalha de prata do time feminino de vôlei nos Jogos de Tóquio, resolvi compartilhar com vocês esta história.
Era um dia comum em nossa rotina na área de marketing.
Um de nossos projetos muito importantes, o Projeto BCN/Osasco, possuía desde núcleos de formação esportiva, até a equipe de alto rendimento, passando por todas as categorias de base.
Neste dia, sou convidado a uma reunião, para atender um visitante.
Ao entrar na sala, José Roberto Lages Guimarães.
O que o manager do futebol do Corinthians estava fazendo ali? Provavelmente, pedir patrocínio. Talvez.
Mas vamos em frente.
O motivo da reunião era um só: José Roberto gostaria de largar o futebol e voltar a atuar no vôlei.
Mas como seria isso? Nem em sonho poderíamos pensar em competir com os valores que ele recebia.
Entretanto, ele estava à procura de uma outra coisa, muito diferente de dinheiro.
Avançamos no tempo.
Com o Zé no comando de nosso vôlei, colecionamos uma série de medalhas de Ouro e troféus em competições estaduais, nacionais e internacionais.
O projeto de vôlei decolou.
Não demorou muito e a CBV – Confederação Brasileira de Vôlei, o convidou para ser técnico da Seleção Feminina.
Fizemos um acordo, e o Zé começou o seu trabalho na Seleção no ciclo olímpico de Atenas 2004.
Antes de viajar para a Grécia, fui convidado a ir à sua casa para uma pequena confraternização pelo seu aniversário.
Achar um presente para levar foi complicado. Acabei tendo uma ideia. Comprei uma bandeira do Brasil e disse a ele que era para ele comemorar a medalha de Ouro.
Avançamos novamente. Quartas-de-Final. Brasil x Rússia. Nossa seleção estava voando. Mas, tomamos uma virada histórica, e o Brasil foi eliminado.
Um período muito difícil: Assimilar a derrota.
Para o Zé, foi um grande ensinamento para o Beijing 2008.
Durante uma partida, ainda na fase classificatória, em Beijing, após uma vitória de nosso time, encontro o Zé ainda na quadra. Dei um forte abraço nele e disse que estaríamos na torcida.
Ele me respondeu, dizendo: Eu trouxe a bandeira para comemorar. Ele estava adivinhando.
Brasil, medalha de Ouro no vôlei feminino, em 2008.
Foi emocionante. E o Zé, como prometeu, com a bandeira.
Pela segunda vez ele ganha uma medalha de Ouro em uma olimpíada.
Avançamos. Chegou a vez de Londres 2012.
Começamos muito mal na fase de classificação, chegando ao último jogo desta fase, com o risco de sermos eliminados. Para continuarmos no torneio, era necessário que os Estados Unidos vencessem seu jogo e que o Brasil batesse a Rússia.
Novamente, a Rússia em nosso caminho.
Vencemos. Desta vez fomos nós que viramos o jogo.
Uma das partidas mais espetaculares da história.
Com a vitória, o time engrenou.
Chegamos à final, novamente contra os Estados Unidos. Perdemos o primeiro set. Mas, depois, passamos por cima: 3X1.
Bicampeã Olímpica nossa seleção feminina.
Rio 2016.
A expectativa era de uma nova medalha de Ouro. Principalmente, jogando em casa.
Como nós sabemos, perdemos, nas Quartas-de-Final, para a China.
Neste ponto, 2 fatos me chamaram muito a atenção: O primeiro, pelo total descaso; e o segundo, pela emoção que presenciamos.
O momento era definir quem seria a Porta-bandeira do Brasil, na cerimônia de abertura Rio 2016.
O COB – Comitê Olímpico do Brasil, fez uma votação para ver quem seria o indicado. Sabendo disso, e, como estava envolvido com os Jogos do Rio e com o esporte, pedi uma reunião para levar minha sugestão.
O primeiro: O meu indicado era José Roberto Guimarães. Ele foi o único brasileiro com 3 medalhas de Ouro: Uma no vôlei masculino em Barcelona 1992, e duas no feminino, 2008 e 2012, um Tricampeão Olímpico, e o primeiro Ouro em esportes coletivos.
Minha sugestão nem foi levada em consideração. A resposta foi curta e grossa: Não pode. Tem que ser um atleta. Absolutamente ridículo.
O segundo fato: A cena dos Jogos Rio 2016. Terminada a partida contra a China, em meio à tristeza e emoção, que tomou conta do Maracanãzinho, vejo o Zé sentado no banco, cabisbaixo, com olhar mareado.
De repente, do outro lado da quadra, seu neto Felipe, com seis anos, chorando, invade a quadra correndo em direção ao avô e lhe dá um abraço. Que cena. Para mim, uma das mais emocionantes dos jogos do Rio.
Tóquio 2020, os jogos que quase não aconteceram por conta da pandemia. Uma operação fantástica do povo japonês, que demonstrou sua capacidade de realização, mesmo não tendo público em nenhum local de disputa.
E lá vamos nós outra vez atrás do time do Zé. Uma equipe desacreditada por conta do difícil ciclo olímpico de preparação.
E começou a nossa equipe dar show nas quadras. Classificou-se invicta para as Quartas-de-Final e tinha como adversária, novamente, a Rússia. Outra partida memorável. E ao final, no último ponto, sai o Zé correndo, comemorando a vitória como se fosse a primeira de sua carreira.
O que dizer?
Me impressiona. 3 medalhas de Ouro e uma de Prata; uma série de títulos por onde passou; na entrevista, ao final do último jogo, já estava conjecturando com o fato de o próximo ciclo ser menor. Paris 2024.
Mas este é José Roberto Guimarães.
É assim. Sempre será. Com todos os seus hábitos.
Por exemplo, não fica em quarto de hotel, concentração ou o que for, que tenha o número 7. Não usa boné. Não usa a cor preta em sua vestimenta. Quando venceu a primeira Superliga com a equipe do BCN Osasco, fez promessa e foi fazer o caminho de Santiago de Compostela. Fato que se repetiu no ano seguinte, com o bi. Admirável.
Extremamente profissional, ético, um Ser humano fantástico, um batalhador em tudo que acredita.
Não poderia deixar esta oportunidade para cumprimentá-lo publicamente.
Volte em paz para sua família, suas filhas, seu neto, agora com 11 anos, seu time de Barueri, seu projeto no Sportville, seus desafios.
Um grande abraço, Zé das Medalhas.