Sai o tilintar dos sinos de Natal, os fogos de artifícios do Revéillon e começa o esquenta dos tamborins para o Carnaval 2020.
Mas esse ano certamente teremos um período de Momo muito desafiador para as agremiações carnavalescas, sobretudo na cidade do Rio de Janeiro.
Conhecida pelos espetáculos magnânimos, de muito luxo e requinte, que atravessam a antológica Marquês de Sapucaí, a famosa Passarela do Samba, em 2020 os mesmos terão que lidar com um componente não muito bem digerido até então: a ausência de subvenção da prefeitura.
Tal apoio vem desde a década de 30, quando o governante Pedro Ernesto, em 1933, vislumbra o potencial do Rio de Janeiro para abraçar o turismo, tendo o Carnaval um atrativo de impacto para promover a cidade.
Com toda a notória crise do Rio de Janeiro que, a cada ano, só se intensifica, o dinheiro foi diminuindo e chega ao ápice na gestão do prefeito Crivella de não autorizar efetivamente nenhum repasse de verba.
A situação crítica com os cofres públicos da cidade vazios, sem ter orçamento para ofertar o básico à população, com reflexos caóticos em saúde, educação e obras de saneamento, estão em plena harmonia com a convicção política do atual mandato, que por seus dogmas religiosos, nunca viu com bons olhos os eventos ligados ao Carnaval, já que os posiciona como uma festa profana, tendo inclusive se ausentado nas últimas edições, nem participando do ritual de entregar simbolicamente a chave da cidade ao Rei Momo e sua corte.
Isso porque sempre ouvimos a utópica frase que o Estado é Laico! Sei…
Esse cenário está induzindo as escolas de samba a reinventar-se, buscando novas formas de financiamento.
Hoje, além de ter uma equipe extremamente competente em todas as áreas técnicas, do gestor da criatividade (carnavalesco), mestre de bateria, velha guarda entre outras, é preciso investir em uma configuração que engloba um mix de relações públicas e marketing, justamente para trabalhar a imagem da agremiação, a projeção de sua marca, e, consequentemente, provocar reações de adesões como apoiadores e patrocinadores.
As escolas mais tradicionais há algum tempo entenderam esse movimento e estão em busca de forma muito mais profissional para atrair recursos que possam literalmente colocar seu Carnaval na rua.
São ações que incluem programa de sócio-torcedor, de crowdfunding, de mecenato particular, eventos customizados, produtos de merchandising, etc..
A reutilização de materiais de outras passagens carnavalescas tendem também a serem intensificadas com o novo cenário de contenção. Os orçamentos das grandes escolas fluminenses, que outrora chegavam até ultrapassar os R$ 12milhões, hoje devem ficar entre R$ 6 e 8 milhões.
O reposicionamento financeiro, certamente, fará que o luxo seja trocado por muita mais criatividade, estimulada por um pool de carnavalescos, inclusive, tal ação, tornou-se algo comum, já que muitas cabeças pensam muito melhor que uma só e podem encontrar soluções bacanas para contar seus enredos.
Assim, em sintonia com os novos tempos, o samba faz de tudo para não atravessar a avenida, sem cadência e malevolência, isso é nato, está no sangue dos foliões.
A adaptação a uma outra realidade não irá tirar toda a relevância e o glamour do Carnaval carioca, que também tem suas versões mais econômicas em todos os cantos do País.
O importante não é perder a empolgação, afinal, o famoso jeitinho brasileiro, no sentido de dar a volta por cima, precisa prevalecer e tornar-se o estandarte do primeiro Carnaval da nova década do século XXI.
Vamos ficar na torcida por um Carnaval sem economias de muito samba no pé, de sorrisos nos rostos e de muita fantasia, afinal, é impossível vivermos o cotidiano tão estressante se não podermos usar nossa imaginação e vestir a fantasia momentaneamente de ter a felicidade como companheira bamba nada frugal e cheia de ritmo contagiante, afinal, recebemos um pedido final e honraremos o compromisso: “Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar, o morro foi feito de samba, de samba para a gente sambar” para a gente sonhar!