O jogador que mais inteligentemente reagiu a uma provocação racista na Espanha, ao comer a banana atirada sobre ele, está preso. Não por reagir ao racismo, mas por desrespeitar um semelhante do sexo oposto.
Não sei bem o que é pior.
Lamentável.
Enquanto isso, nesse mesmo país, as manifestações vão se sucedendo sem que haja qualquer reação mais dura das autoridades do esporte em geral. Mais uma vez. Vinicius Junior foi alvo dessas ofensas.
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Vini Jr. sofre mais um ataque racista em jogo pela La Liga espanhola. Desde quando o ônibus da equipe do Real Madrid chegou ao estádio, na cidade de Valência, as primeiras manifestações racistas iniciaram, tendo como foco o atleta brasileiro: “Puto, macaco!” E atingiram seu ápice durante a partida: “Mono!” (macaco em espanhol), gritava a torcida em coro quando o atleta pegava a bola pela linha lateral do campo. O jogo parou por cinco minutos, e Vini Jr. acabou expulso pelo árbitro.
Quem viu o vídeo que ele postou, deve ter ficado completamente pasmo, ao identificar como torcer por qualquer clube, se tornou sinônimo de uma licença para ofender outro ser humano, principalmente por conta dele ser um dos melhores, no que faz, no mundo.
Ao final, como se nada disso bastasse, o presidente dessa liga afirmou que ele, Vini Jr., é quem provoca a reação dos torcedores, e por isso “deveríamos minimizar os fatos”. Uma reação grotesca. E se a ofensa fosse a ele, como seria? Até quando ações como essas ocorrerão e, tão grave quanto, teremos que ouvir declarações como a desse senhor? A pergunta parece ridícula, uma vez que estamos em 2023, nos questionando sobre um assunto que não deveria nem estar em nosso dia a dia. Afinal, racismo é crime. E é nojento.
Tenho sempre afirmado em meus artigos que os patrocinadores devem e precisam influenciar diretamente as questões conceituais dos eventos que patrocinam. Não se trata aqui de resolver administrar, dar opiniões nas regras do esporte ou mesmo ter assento num comitê das entidades. Isso não resolve em nada as situações esportivas. Existem profissionais para isso, que só precisam assumir o seu papel. Já vivi essa experiência, e quase todas as vezes as decisões vão muito mais para o lado do torcedor do que do administrador.
A liga espanhola vendeu o naming right de seu campeonato para o Banco Santander. Para ficarmos somente aí, pois existe uma quantidade bem razoável de grandes empresas envolvidas no patrocínio do Real Madrid e da Federação Espanhola de Futebol. Enquanto essas providências não vierem pelo poder econômico, dificilmente teremos algum resultado positivo. E a pergunta continuará sem uma resposta satisfatória.
Existe um relacionamento direto entre o que uma empresa patrocina e o que acontece no evento. E, meus amigos, não tem jeito, aquela marca está envolvida, no mínimo, indiretamente. Não dá para dissociar na hora que acontece um fato negativo. Nós, aqui no Brasil, como profissionais da área de marketing, brigamos muito para que naming rights de estádios, casas de espetáculos e torneios esportivos fossem veiculados pelas mídias. Conseguimos. Então, me perdoem. Tentar minimizar que La Liga não se vincula ao patrocinador, que empresta sua marca ao campeonato, é miopia de marketing braba.
Por isso minha tese de que o patrocinador deve, mais do que nunca, discutir esses aspectos. A área de marketing do patrocinador em questão deveria chamar o presidente e os representantes de La Liga para um “cordial” café. Afinal, quantos correntistas são negros? Quantos são absolutamente contra as discriminações de qualquer tipo no mundo? Qual será o tamanho do prejuízo financeiro do patrocinador? E como tal fato afetará sua marca, se o banco não se posicionar? Faço essas perguntas sem levar em consideração a parte mais importante: como essa perseguição racista está influindo ou influenciará a vida desse rapaz?
E de todos os outros que são discriminados no esporte, ou que simplesmente gostam de assistir ao vivo ou por qualquer tela a que tenha acesso.
Infelizmente, também os colegas profissionais do futebol, reagiram de forma morna. Será que não era o caso de sair de campo por total falta de respeito da plateia presente, para uma disputa desportiva, limpa? Mais do que isso, uma vez que essa injúria estava sendo dirigida a um colega de trabalho, não era o caso de as duas equipes deixarem o campo de jogo?
De o árbitro decretar o final da partida por ofensas morais a humanidade? Total utopia pensar assim, não é verdade? O oponente é quase sempre visto como inimigo e não como adversário. Imaginem, só por um décimo de segundo, que somente existisse um único time em La Liga. O problema estaria resolvido?
Mas ainda não acabou! O que terá acontecido hoje no chá das cinco, com nossos amigos conselheiros da FIFA? Como será que foram os comentários dos principais executivos que dirigem o futebol no mundo? Nada fizeram com o nosso fantástico Emiliano Martinez e sua luva de ouro transformada em pênis na premiação da Copa do Mundo. Ao contrário, ainda foi eleito o melhor goleiro do mundo. Assim, o que podemos esperar da FIFA, protagonista de escândalos horripilantes nos últimos anos, a esta altura do campeonato?
Meus amigos, infelizmente não vejo saída diferente de punições financeiras no futebol. Existe muita grana rolando. Os patrocinadores precisam assumir seus papeis de protagonistas, volto a dizer, nos conceitos da ética e dos valores de uma sociedade voltada para o ser humano. Não podem e não devem descansar enquanto não conseguirem uma solução para se ter respeito às marcas patrocinadoras, uma vez que são muito poucos os casos em que clubes exigem respeito às suas camisas, e principalmente aos seus torcedores.
Triste.