Quem viu a foto de Lionel Messi levantando a taça da Copa do Mundo pode ter reparado algo de estranho no atleta. Diferentemente dos outros jogadores da seleção argentina, o capitão e ídolo estava usando um traje diferente na hora da celebração: uma túnica preta.
Chamada de bisht, a vestimenta foi dada a Messi pelo xeque Tamim bin Hamad Al Than, o atual emir do Catar. Ela é utilizada em momentos especiais e é um símbolo de realeza no país. Apesar de ser um elemento da cultura local, o jogador acabou usando o recebido na hora de celebrar o campeonato, ápice de sua carreira e algo que a Argentina ficou 36 anos sem realizar, o que quebrou o protocolo das seleções campeãs e gerou muita polêmica.
“Depois da forma como o Catar foi escolhido sede da Copa, as denúncias sobre a eleição da Fifa, o recorde de morte de trabalhadores e o desrespeito aos direitos humanos, eu diria que a veste no Messi é a cereja do bolo”, completou.
De fato, Messi aceitou usar a vestimenta, até porque foi dado pelas mãos do próprio xeque, mas tal situação poderia causar um desconforto se fosse com outro jogador. Messi tem 35 anos e sempre foi muito reservado nas suas opiniões e vida pessoal, então dificilmente se negaria a usar o bisht. Já o craque francês Mbappe, por exemplo, é mais novo, com 23 anos, e é um atleta de atitude forte e não tão flexível, como foram nas vezes que ele tapou o símbolo da Budweiser, patrocinadora oficial da Copa, nos seus prêmios de melhor da partida.
Se não tivesse sido Messi e sim Mbappe levantando a taça, o que teria acontecido? Como isso seria repercutido?
“Não vou acreditar nunca que o Catar está fazendo alguma coisa de maneira inocente. Teve o fator propaganda política, exaltando aquele que pode ser visto por muitos como o maior (jogador) de todos os tempos”, disse Carlos Massari, jornalista cocriador do projeto “Copa Além da Copa”. “Vi análises que diziam que o Catar roubou para si o maior momento da carreira do Messi. Foi um jeito de colocar uma imagem do país nesta foto histórica. É uma ação de sportswashing. Uma maneira de exaltar o Messi, mas também de tomar os holofotes para o Catar”.
O termo Sportwashing é utilizado para denominar a utilização do esporte para limpar a imagem de alguma instituição ou país. Vale lembrar que o Catar passou por várias polêmicas com a mídia global desde antes do início da copa, por conta de fatores como homofobia e religião.
Logo que pode, Messi tirou o bisht durante as celebrações pós-jogo.