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Cibergifting, o nome novo da antiga mania

No princípio, a humanidade tentou entender suas relações com o mundo com ferramentas de defesa e subsistência e objetos de proteção: ritos e mitos tridimensionalizados em amuletos, totens, talismãs. 

Por Marina Pechlivanis

“A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de sua capacidade de navegar no espaço do saber”.
Pierre Lévy, filósofo.

Vivemos de trocar e negociar.
Sentimentos, objetos, técnicas, conteúdos, informações que se amplificaram e sofisticaram de acordo com nossos espaços de pertencimento e interação. Desde os primórdios, sempre fomos motivados por objetos de desejo e de afeto, que nos estimulam a conquistá-los, obtê-los, organizá-los, possuí-los. Uma necessidade; uma mania.

No princípio, a humanidade tentou entender suas relações com o mundo com ferramentas de defesa e subsistência e objetos de proteção: ritos e mitos tridimensionalizados em amuletos, totens, talismãs. 
Depois, o homem acreditou domar a natureza com a agricultura, que propiciou a estruturação de cidades e, com o assentamento em uma região fixa, a organização de registros do conhecimento pela escrita, o que gerou a valorização dos objetos de acordo com a sua origem, cuja posse atribuia poder e distinção social. 

A partir de então, fluxos: econômicos, de capitais, de matéria-prima, de informações. Objetos foram massificados e ressignificados em uma nova escala de valoresassociada aos desejos criados pela mídia no mundo das mercadorias.

Hoje, em pleno Ciberespaço, nas infovias do conhecimento, existimos de acordo com o que compartilhamos, e estabelecemos assim um novo circuito de trocas: uma socialidade do saber, que nos transforma contínua e rapidamente. 

Porém, atenção: mudam-se os tempos e adaptam-se os hábitos de consumo perante as ofertas do momento, mas as pessoas ainda mantêm a necessidade de se sentirem reconhecidas nas trocas que efetivam. 

Exemplos? Um prosaico: os cartões postais, souvenires de viagem. Antes, eram objeto de desejo — quem é que não gostava de enviar e de receber, e quantas histórias não contaram? Hoje, são raridade, artigo de colecionador. Estudos indicam que as vendas cairam 30% nos últimos 10 anos. Mas muita atenção: as pessoas não deixaram o ritual de lado, apenas mudaram de plataforma: postais viraram posts, partilhados nas redes sociais e costumizados para serem apreciados — ou melhor, curtidos — em escala ainda maior. De um endereço físico para toda uma rede de contatos virtual, em poucos segundos.

Em resumo: trocar, dar, receber, retribuir, ressignificar, compartilhar sempre fará parte do nosso incessante processo civilizatório.
Vão-se os postais, mas ficam os posts — bem-vindos ao cibergifting!