Um jogo que nunca acaba, isto é, é dinâmico, extremamente ativo e volátil.
Essa foi uma das constatações sobre o varejo feitas por Camila Salek, especialista em varejo, relações de consumo e fundadora da Vimer Retail Experience durante a NRF 2022, principal evento do setor que reúne especialistas e profissionais do mercado do mundo todo para discutir insights e tendências para o varejo.
Leia também: Especialistas fazem review da NRF 2022
Na mala, a profissional trouxe muitos aprendizados para o varejo — incluindo as pequenas lojas — que buscam vida longa no mercado.
Um dos pontos observados por Camila é a relevância da loja física, em um momento de grande expansão do varejo virtual e da integração entre os dois canais.
“A loja física está assumindo um papel de coração que conecta pessoas e marcas”.
Na opinião dela, o próximo passo do varejo já tem um percurso certo. “É hora de focar na manutenção dos resultados da relação transacional — comprar e receber os produtos — e evoluir a construção de uma melhor experiência de compra para diferentes momentos da jornada de consumo”, ressalta.
Segundo as tendências destacadas na NRF, a omnicanalidade é um caminho sem volta e que deve ser adotado até mesmo pelo pequeno varejo.
“Precisamos estar onde o consumidor está e oferecer conveniência e autonomia para que haja escolha de como, onde e quando comprar, seja no digital, no físico ou através da integração destes dois canais que não podem mais ter metas e buscar resultados de forma isolada”, aponta Salek.
Além do mais, outro ponto é que a sustentabilidade está em pauta, deixando de ser apenas palavras de discurso para ter uma participação ativa nas metas no varejo.
“É preciso construir essa jornada, pois não vamos mudar do dia para a noite, mas precisamos começar hoje”, reforça a fundadora da Vimer.
Confira a seguir as 10 lições trazidas por Camila Salek da NRF 2022 para ajudar o pequeno empreendedor neste novo renascimento do varejo:
Foco no relacionamento! Examine o calendário de ações comerciais para incluir datas além da sazonalidade convencional.
Natal, Dia dos Namorados, Dia das Mães. Essas datas já integram a lista de momentos importantes para o varejo alavancar as vendas.
Mas e em relação ao resto do ano? De acordo com Camila, os varejistas podem criar outros momentos de venda para manter o diálogo constante com o consumidor.
“O ponto de atenção está em analisar o contexto da marca e as demandas do consumidor para estabelecer esse relacionamento”.
Nas datas sazonais, por outro lado, é necessário procurar alguma diferenciação, pois todas as lojas tratam sobre o mesmo assunto.
“É preciso chamar a atenção do consumidor com ações diferenciadas, que podem ser o princípio e a sequência de uma boa conversa”, afirma.
Escolha um tom de voz para se comunicar com o consumidor
Na NRF 2022, Carla Harris, vice-presidente e diretora executiva do banco americano Morgan Stanley, destacou a necessidade de que os focos de investimentos do varejo sejam direcionados para as ofertas de escolha e voz para transformá-los em atração e retenção por parte das organizações.
O tom de voz deve trazer transparência, posicionamento, propósito, valores da organização e como ela se comunica e se envolve nesses discursos.
“Com um consumidor que cobra cada vez mais clareza de posicionamento e propósito das marcas com as quais se relaciona, toda ativação – inclusive comercial – deve carregar uma mensagem capaz de gerar identificação, envolver e engajar”, completa Camila.
Porém, a especialista faz um alerta: “Ao levantar bandeiras de causas, é preciso estar verdadeiramente envolvido e pronto para responder aos questionamentos da sociedade e dos consumidores”.
Adote conceitos flexíveis de visual merchandising
Na opinião da especialista, as lojas físicas se transformaram em um verdadeiro palco “É fundamental ter ambientes vivos e capazes de receber diferentes narrativas todos os dias”, reforça.
É nesse contexto que surge a necessidade de promover renovações constantes no visual da loja. “É preciso planejar a troca de peças expostas em todos os ambientes do comércio, incluindo as vitrines, fazer novas produções nos manequins, sempre alinhadas ao contexto ou data sazonal em que a loja está inserida”, acrescenta.
Torne a vida do consumidor mais fácil com uma aposta em conveniência e curadoria
Um dos pontos que o varejo precisa levar em consideração no momento de pensar o layout de seu ponto de venda é a conveniência.
Por isso, é importante estabelecer a jornada de consumo, fazendo-a relevante e descomplicada.
“Quer coisa pior do que chegar em um restaurante e precisar ler um cardápio de 10 páginas para tomar a decisão sobre qual prato escolher? A curadoria entra em cena para mostrar o prato especial do dia, a sugestão do chefe, do vinho adequado para a harmonização perfeita, entre outros. Com isso, o consumidor não perde tempo e define rapidamente a sua opção de consumo”, conclui a profissional.
Acolha iniciativas sustentáveis
“Cada vez mais projetos de loja e ativação de PDV devem buscar a adoção de recursos mais sustentáveis e incentivar a consciência ambiental do consumidor por meio do diálogo e adoção de boas práticas”, analisa Salek.
Um dos exemplos de iniciativas que existem atualmente no Brasil é o projeto Reciclo, que tem espaço de destaque desenvolvido pela Vimer na loja conceito da Havaianas.
A intenção é orientar o descarte de sandálias usadas para que sejam recicladas.
No mundo inteiro, um dos melhores exemplos que marcaram presença na NRF é a Ikea. No decorrer do evento, Javier Quiñones, CEO e diretor de Sustentabilidade da marca nos Estados Unidos, disse que o sucesso de suas ações sustentáveis está em mantê-la como um princípio do DNA da empresa.
Para ele, entre as razões para isso está o fato de que é correto fazer algo pelo planejamento e pela sociedade. E ainda: é a única maneira de um negócio sobreviver no futuro.
A valorização de produtos e iniciativas sustentáveis é uma tendência que vai continuar. De acordo com um levantamento da Fortunly, 66% dos consumidores estão propensos a pagar mais por produtos e serviços com viés sustentável.