Produtos

Realidade Aumentada revoluciona varejo, fortalece vendas e reengaja clientes

Desde 2019, varejistas dos mais variados segmentos vêm testando uma série de abordagens para o uso da RA para melhorar a experiência do cliente.

por Dr Hendrik Witt – Diretor de Produtos da TeamViewer

O constante avanço da Realidade Aumentada no universo das vendas no varejo para o consumidor final, assim como registrado anteriormente com outras tecnologias digitais, é seguramente um passo inevitável da Transformação Digital nas empresas do setor rumo à construção e solidificação de um novo relacionamento com seus clientes. 

Desde 2019, varejistas dos mais variados segmentos vêm testando uma série de abordagens para o uso da RA para melhorar a experiência do cliente, bem como o próprio desempenho comercial das equipes de vendedores. E os resultados iniciais são animadores. 

O-inicio do Covid-19 abalou profundamente o ramo varejista, esvaziando lojas e provocando a demissão de funcionários, o que acabou por aumentar o número de expedições de compras on-line, acelerando por anos a adoção ordenada da Realidade Aumentada — desta vez, apenas como forma de os vendedores varejistas se conectarem com potenciais compradores sem envolvimento físico, uma vez que a pandemia obrigou a sociedade como um todo ao distanciamento social. 

De um número relativo de aplicações de tecnologia projetadas até então para basicamente prestar ajuda aos clientes em suas decisões de compra, a eclosão da pandemia promoveu o surgimento de um grande interesse em como a Realidade Aumentada poderia auxiliar o varejo a sobreviver no que rapidamente se tornou um cenário volátil, imprevisível e até mesmo hostil para as vendas. 

Tal impulso, por sua vez, desencadeou o surgimento de um mundo de possibilidades para o desenvolvimento de usos inovadores da tecnologia RA para manter viva a indústria varejista — lembrando, é claro, que o interesse foi também encorajado pelos resultados das pesquisas pré-pandêmicas, que já mostravam que os consumidores provavelmente gastariam mais em um produto se pudessem o ter “experimentado”, “sentido”, “vivenciado”, digamos assim, através da Realidade Aumentada, e que prefeririam comprar mais frequentemente de comércios varejistas que utilizassem a RA em seus  negócios.

Isso foi reafirmado, inclusive, em um dos períodos mais intensos da Covid-19, quando em outubro de 2020 a famosa plataforma de e-commerce Shopify observou que os itens à venda que dispunham de conteúdo RA apresentavam uma taxa de conversão muito maior que os produtos sem a tecnologia. 

É claro que produtos diferentes são “experimentados” de forma também diferente, o que nos leva a concluir que as maneiras pelas quais a RA pode melhorar a experiência do consumidor também devem ser diferenciadas.

Como exemplo, vou citar o caso da marca global de móveis e decoração IKEA e da loja de comércio eletrônico de móveis e produtos também para decoração Wayfair. Ambas foram early adopters da Realidade Aumentada para demonstrar aos clientes como os móveis e itens de seus catálogos ficariam em suas casas. Graças à tecnologia, os usuários podem mover os móveis virtualmente para verificar se encaixam nos espaços disponíveis, se combinavam com as cores, com o estilo e a aparência geral de suas residências. 

O aplicativo IKEA Place, por exemplo, foi desenvolvido em colaboração com a Apple e permite aos compradores visualizar os produtos sobrepostos em seus espaços domésticos.

Versões anteriores do Magic Mirrors, uma ferramenta de RA para os clientes experimentarem diferentes itens de vestuário em frente a um espelho equipado com sensores, têm sido utilizados pela loja de departamentos norte-americana Macy ‘s desde 2010, quando lançou seus camarins inteligentes. 

Essa tecnologia ajudou a impulsionar o desenvolvimento de espelhos ainda mais inteligentes que foram implantados em um programa piloto com a loja de departamentos de luxo Neiman Marcus.  E o interessante é que ambas as versões usam instalações on-prem projetadas para atrair visitantes para suas lojas.

A Sephora, empresa varejista de produtos de beleza baseada na França, tem uma abordagem diferenciada por meio de um aplicativo de RA que mostra como as mais variadas tonalidades de batom ficariam nos lábios de seus clientes graças a imagens em tempo real produzidas por seus smartphones.

Já a Eyebuydirect, um das várias empresas online que comercializam óculos com receita médica, fazem uso do telefone ou da câmera do computador para mostrar as mais diferentes molduras e como cada uma delas ficaria no rosto do consumidor. 

Entretanto, exceto para óculos de leitura padrão, uma vez que é altamente recomendado uma avaliação com prescrição de um optometrista para avaliar a acuidade visual do paciente e determinar a graduação. Ainda assim, ao contrário dos espelhos mágicos da Macy ‘s, ambos os usos de RA permitem que a venda final seja concluída sem que o cliente passe no balcão de beleza de uma loja ou no escritório de um optometrista.

A GAP, por sua vez, criou um aplicativo especialmente para vendas remotas. É o DressingRoom, que permite aos usuários da maior varejista de roupas dos Estados Unidos experimentar uma peça de vestuário usando um espelho virtual no qual um manequim virtual em tamanho real pode vestir as roupas que o cliente está considerando comprar. 

Para que o manequim tenha o mesmo biotipo físico do consumidor, cada usuário deve inserir as medidas de seu corpo dentro do aplicativo. E, ao contrário dos try-ons que usam um provador convencional, este tipo de interação varejo/consumidor é totalmente livre de contato humano e pode ser operacionalizada de qualquer lugar do planeta. 

Mas e quanto aos aspectos sociais das compras com grupos de amigos, todos juntos em tempo real?  Sim, acredite, há um aplicativo para isso também. A marca de jeans de renome mundial Levi ‘s lançou um app de vídeo que pode ser seguido por pessoas dos mais diferentes locais e que foi projetado justamente para ajudar a recriar a experiência social de compra — algo que a pandemia nos fez perder de várias formas. 

E quem diria, até mesmo a quase bicentenária Burberry, famosa casa de moda britânica fundada em 1856 e especializada em roupas, acessórios de luxo, perfumes, óculos de sol e cosméticos, desenvolveu uma aplicação semelhante a um jogo usando conteúdo de entretenimento para atrair consumidores mais jovens. 

A verdade é que a pandemia forçou uma reviravolta no varejo e no status do ato da compra. Se comprar era antes uma atividade comum e praticada diariamente pela quase maioria dos 7,9 bilhões de habitantes do planeta, com a pandemia tanto as pessoas como as empresas se viram obrigadas a ajustar seus hábitos e adotar medidas preventivas para impedir a disseminação do vírus — o que, consequentemente, falando de negócios, remodelou rotinas e levou a um aumento acentuado da demanda por compras online com opções de entrega no mesmo dia. 

Pense em um supermercado, por exemplo, com milhares de produtos, marcas, tamanhos e sabores. Imagine o tempo para encontrar cada produto, consolidar o pedido e enviar as compras no mesmo dia para o cliente. Se isso já seria tarefa inglória para os funcionários seniores que conhecem de cor a disposição das gôndolas e seus itens, imagine para os novatos! 

A boa notícia é que a adoção de wearables habilitados para Realidade Aumentada tornou tais tarefas muito mais ágeis e simples de executar. Com o Google Glass, por exemplo, é possível fornecer graficamente ao trabalhador que atende ao pedido todas as informações sobre a disponibilidade de cada produto e sua exata localização dentro da loja, e tudo isso exibido de forma inteligente por meio do acessório hands-free em forma de óculos que possibilita a interação dos usuários com diversos conteúdos em RA. 

Com o Google Glass, os funcionários podem realizar suas tarefas com liberdade e autonomia, escolhendo produtos, movimentando o carrinho e agilizando os processos de cada pedido, promovendo um aumento de até 40% nas taxas de seleção e separação de produtos para cada pedido. 

A Realidade Aumentada oferece também inúmeras possibilidades no pós-venda. A montadora coreana Hyundai desenvolveu um manual digital que utiliza a tecnologia RA para auxiliar os proprietários a resolver problemas comuns em seus carros, como a troca de um pneu furado, por exemplo. 

O dono do veículo usa a câmera do próprio celular para mostrar qual é o problema, o software reconhece o que é mostrado e imagens digitais e instruções passo a passo aparecem na tela do dispositivo para que o proprietário possa resolver a situação.

Muitos outros fabricantes e varejistas de produtos B2C, entre eles a companhia norte-americana de calçados Converse, a multinacional francesa de cosméticos L’Oreal, a também francesa BIC, conhecida por fabricar produtos à base de plásticos, incluindo isqueiros, canetas, aparelhos de barbear, pilhas e até mesmo caiaques, e a dinamarquesa LEGO, player número 1 do mercado de produção de brinquedos, também têm encontrado valor significativo no uso da inovadora tecnologia. No Brasil, a fabricante holandesa de tintas decorativas Coral, a maior do mundo em seu segmento, tem um app que possibilita aos consumidores em todo o País visualizar como a cor escolhida ficará na parede de cada cômodo de suas casas. 

A Leroy Merlin, uma das maiores redes de varejo do Brasil, especializada em artigos de melhorias para o lar, oferece aos clientes um aplicativo que, misturando Realidade Virtual e Realidade Aumentada, disponibiliza, por meio da câmera do celular do cliente, simulações sobre como ficarão os produtos instalados na hora de planejar a construção ou a reforma da residência. Isso sem falar no crescente número de startups e agências em território brasileiro que estão investindo no universo da Realidade Aumentada para criação de novas aplicações de mercado. 

E as cifras falam por si. Só para se ter uma ideia, o mercado global de Realidade Aumentada, Realidade Virtual e Realidade Mista deve atingir US$ 30,7 bilhões em 2021, segundo pesquisa do Boston Consulting Group. No ano seguinte, o valor pode saltar para US$ 58,7 bilhões. A expectativa é que os próximos anos testemunhem um crescimento ainda mais impressionante no uso dessas tecnologias. A previsão é que em 2023 o mercado unificado deve crescer mais US$ 65,7 bilhões. E espera-se ainda que o valor de mercado suba para quase US$ 300 bilhões em 2025.

Uma das aplicações mais naturais da Realidade Aumentada é também o mundo das vendas B2B em que normalmente não há lojas de varejo e onde alguns dos produtos são tão grandes que não podem ser facilmente transportados para fins de exposição ou demonstração, como sistemas de tratamento de água, reatores nucleares e embarcações marítimas. Nesses casos, é oferecido aos potenciais compradores material de apoio com uso da tecnologia RA para ajudá-los a decidir se o produto é apropriado para suas necessidades.

A gama de aplicações da Realidade Aumentada no varejo continua a crescer e os fornecedores estão encontrando usos cada vez mais criativos a cada dia. Uma grande vantagem é que muitas de suas aplicações podem ser acessadas usando smartphones, que já se tornaram onipresentes na vida moderna com mais de 2,5 bilhões de dispositivos nas mãos de consumidores em todo o mundo. 

Mesmo lojas pequenas e independentes que não têm a capacidade de criar seus próprios aplicativos podem postar códigos QR para as mercadorias que transportam, permitindo aos clientes abrir o aplicativo do fabricante para conhecer, aprender, experimentar e se envolver mais com o produto. Como resultado, o fenômeno da RA no setor varejista não deverá arrefecer tão cedo. 

Ao contrário: ele tem ampliado significativamente o alcance das vendas e aumentado o poder de engajamento dos compradores.  

Desde um simples conceito de ficção científica até uma realidade totalmente possível baseada na Ciência, a RA percorreu um longo caminho. 

É inquestionável o fato de que a maioria dos gigantes de tecnologia, incluindo Google, Apple, Facebook e Microsoft, já está investindo fortemente em smartglasses com Realidade Aumentada, um sinal dos novos tempos e de que esses óculos inteligentes logo ultrapassarão os tradicionais smartphones. 

E, à medida que se tornarem cada vez mais onipresentes em nosso cotidiano, a presença de tais wearables no varejo nunca terá sido tão poderosa. 

Para os varejistas e proprietários de empresas, este é o momento certo para investir em RA, uma vez que nunca é demais lembrar que os primeiros a adotar essa tecnologia tão promissora serão claramente os campeões de um cenário corporativo inovador, criando maior rentabilidade e sobrevivência de longo prazo para os seus negócios no mercado.