Qual o valor de um profissional de marketing e comunicação conectado com a sustentabilidade?
“… as mídias hoje não são mais extensões do corpo e de seus sentidos, mas do cérebro enquanto centro nervoso de todo o corpo e que hoje parece interagir com uma mente rede que interliga e se sobrepõe ao conjunto dos cérebros individuais” (Philadelpho Menezes).
Do ponto de vista da capacidade de influenciar pessoas, mudar atitude, criar conceitos, mover multidões desconheço alguma ferramenta mais poderosa do que o conjunto de mídias que temos em nossas mãos.
Somos responsáveis pela mensagem e dispomos dos meios.
Mas se queremos manter nosso empregos precisamos defender os interesses dos anunciantes e falar a linguagem corporativa, não é assim? Precisamos vender campanhas aos anunciantes se formos agências, produtos se formos indústria, melhorar a imagem da marca.
A boa notícia é que tudo indica que as empresas também caminham para um alinhamento com a sustentabilidade. Estamos adiante do tempo em que ideias com as de Milton Friedman comandavam soberanas a economia global.
Milton Friedman nasceu em 1912 e morreu em 2006, foi o principal apóstolo da Escola Monetarista além de defensor do laissez faire e do mercado livre, muitas de suas ideias foram aplicadas na primeira fase do governo Nixon e em boa parte do governo Reagan.
Friedman é o autor da famosa frase “There’s no free lunch” (Não há almoço grátis) e foi o maior defensor do lucro a qualquer preço, do “Business as Usual” jargão utilizado atualmente.
Parece que este caminho tem seus limites e o fato é que as empresas estão se preocupando com um maior equilíbrio entre lucro, sociedade e meio ambiente.
Os motivos são vários, cito quatro que me parecem mais tangíveis atualmente:
1. O valor de suas ações pode estar atrelado a sua performance em sustentabilidade.
Hoje temos o ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial que foi criado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Este índice reflete o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a sustentabilidade.
São 38 empresas dentre as 150 maiores empresas listadas na Bolsa. Gerdau, Itaú, Natura, Vale, Bradesco, Suzano, Brasken são algumas delas.
A sustentabilidade vem conquistando seu espaço dentro da gestão empresarial, inclusive se tornando uma exigência de muitos investidores no mundo inteiro. Especialistas afirmam que empresas responsáveis, são mais transparentes e estão mais preparadas para enfrentar problemas econômicos, sociais e ambientais.
2. Os consumidores começam a cobrar esta postura e a sociedade organizada protesta.
Há vários casos, todos os dias, de denúncias graves que abalam a reputação das marcas e afetam seus resultados financeiros.
Recentemente, tivemos o caso da Zara, com problemas com a cadeia de fornecimento, mas apesar dos seis anos que já se passaram, o caso da Nike com trabalho infantil ainda está vivo em nossa lembrança.
O fato é que a não sustentabilidade pode custar muito caro.
3. Diminuir custos por meio da eco eficiência e manter a oferta de matérias primas.
A eco eficiência ajuda a aumentar margens. O uso consciente de recursos nas empresas pode trazer grandes reduções de custos com todo tipo de recurso, desde energia, água, materiais até o reaproveitamento de resíduos na produção de novos produtos.
Além disso a perpetuação do negócio depende tanto da disponibilidade de matérias-primas como do tecido social onde as empresas se inserem.
Como exemplo podemos citar o caso do Mel cuja escassez afetou gravemente o Reino Unido. A falta de polinização de vários alimentos por conta da redução da população de abelhas custou 1.8 bilhões de libras para os cofres britânicos.
Existe até uma campanha campeã em Cannes da Häagen–Dazs a favor da luta pela preservação das abelhas. O fenômeno foi chamado de CCD – Colony Collapse Disorder.
4. Antecipar-se a legislação
Por fim, mas não menos importante, é sabido que mais hora menos hora a legislação bate na porta das empresas e a adequação é inevitável. Tudo que é feito de forma planejada diminui o risco e dá uma vantagem financeira e estratégica para as empresas, refletindo em menores custos e mais competitividade.
Voltando então a nossa pergunta inicial podemos intuir, no curto e médio prazo, que os profissionais que forem capazes de agregar conceitos de sustentabilidade em suas campanhas, eventos, e ações promocionais serão mais uteis e mais valorizados pelas empresas.
Concluindo, se concordamos que a comunicação tem o poder de formar opinião, educar e induzir boas práticas; que ela é uma aliada das empresas na busca de seus próprios interesses com relação a sustentabilidade, nós profissionais de comunicação podemos contribuir muito para o engajamento da população nesta tarefa.