Com bom humor e dose de ironia, sempre respondi assim para aqueles – como talvez alguns de vocês – que me questionavam se eu não escrevia demais, se não poderia trabalhar com menos texto e se num mundo digital tendendo ao “menos”, não faria sentido eu me preocupar em ser mais conciso, curto, grosso… assim… mais rapidinho!
Muito diferente de qualquer autocrítica ou reconhecimento de algum tipo de dificuldade em conseguir me flexibilizar a um tipo de formato, usar esta frase sempre foi uma forma de deixar claro que escrever pra mim é algo tão natural, espontâneo, fluído e inexplicavelmente “tangibilizado” (como um download), que eu não me vergava a nenhum tipo de especificação ou formato e deixava o texto sair como saía.
Médio, grande ou extra grande, porque pequeno nunca era (rs), era como se eu disparasse a dizer, a falar ou a divagar e eu simplesmente respeitava isso em mim. Talvez até me preocupando mais com o repente do dizer do que com a adequação do ler ou receber, mas sabia que não andava sozinho nesse caminho: a internet é cheia disso, com a vantagem que escrevem menos, muito menos… eu sei!
Falar, escrever ou buscar se expressar muito é uma síntese do tempo que vivemos. Uma Era com tantas formas de comunicação, inclusive a pouco usada humana e direta, mas que gera um verdadeiro acúmulo de assunto que não encontra na maioria das vezes um canal livre para poder ser desaguado.
É comum a gente perceber que profissionais como dentistas, médicos, advogados, massagistas, fisioterapeutas, professores de vários tipos e outros tantos, acabam vendo seus ouvidos literalmente “alugados” pela necessidade das pessoas em dividir suas histórias, anseios, dúvidas ou apenas ouvir uma opinião.
A gente tem hoje uma captação de informação tão grande, uma experiência alucinante de vida tão voraz, estamos em constantes downloads diários e vivendo numa velocidade e movimentação tão grandes, que as vezes ou falta HD, ou memória ou uma impressora para pôr pra fora um pouco de tudo isso. Caso contrário, o disco cheio vem e com cheiro de placa queimada, processamento lento e uma grande dificuldade em fazer as coisas mais simples.
Eu super-recomendo que a gente readquira o hábito de escrever. Em um papel, um bloco de notas, um post-it ou no computador, celular ou iPad… A gente não só precisa pôr para fora o que a gente pensa, sente, sonha, imagina ou simplesmente quer desabafar.
A gente precisa tangilibilizar (como os homens nas cavernas já faziam com suas pinturas rupestres) o que está acontecendo com a gente, registrar para a história as nossas aventuras, pirações, loucuras ou até mesmo aquelas coisas mais comuns – que chamamos de cotidianas – mas que ainda trazem um traço incrível de verdadeiro e humano, porque simplesmente são verdadeiras histórias.
O mundo vive a síntese do conteúdo. E é importante que a gente também seja um. Não importa se com ou sem audiência, sendo lido apenas pelos mais próximos ou ganhando multidões. A gente precisa se expor, pois o nosso maior legado não são trabalhos, projetos, cases ou incríveis feitos. Nosso maior legado são pessoas, inclusive aquele que você vê no espelho.
Por que estou escrevendo tudo isso? Porque na última 3a.feira, fez um ano que eu comecei a escrever esta coluna e semana que vem eu intero exatamente 50 destes textos prolixos, verborrágicos e sem botão de síntese (e eu sempre dou uma risadinha quando escrevo ou falo isso rs).
E eu agradeço primeiramente ao querido amigo Júlio Feijó pelo convite e espaço que me abriu, a Cindy Feijó pelo incrível trabalho que vem desenvolvendo no Promoview, além de um agradecimento especial à dois supercraques das letras, que admiro e invejo pela inteligência e clareza na arte de escrever: os também colunistas: Tony Coelho e João Riva que sempre me incentivaram a fazê-lo, e, claro, a minha incentivadora maior: minha amada Luciana Guarino.
Mas quero agradecer em especial a você que me lê, ainda mais se heroicamente chega até o final. Te juro que pra mim faz todo o sentido o conjunto, independente do tamanho, mas entendo tranquilamente quando você dá um like apenas na postagem sem ler, quando não passa dos primeiros parágrafos ou quando deixa pra ler depois e isso nunca acontece. Quem disse que eu também não faço isso, né?! Quem nunca?
Talvez você não saiba, mas escrever essa coluna é quase um voo cego e sem instrumentos, mas como diz meu amigo coach ou coach amigo Jorge Neto (Gentólogo, como eles incrivelmente se descreve): “Quem quer voar não pode ter medo do vazio”.
Eu tenho pouca informação de BI, algo que me balize quantos leem, qual é o tamanho da audiência e sequer feedbacks recebo para saber se é esse o caminho. Faz exatamente 49 semanas que eu abaixo a cabeça para o teclado e incorporo o espírito datilógrafo ou digitador que num repente traz um pensamento, um questionamento, uma provocação ou o deleite do exercício da liberdade de escrever o que eu penso, esperando que alguém leia, seja tocado, reflita, ou que talvez possa sentir que isso faz sentido.
Alguns amigos já me retornaram algumas vezes com a gentileza de seus comentários e sou muito grato a eles: isso acelera a energia de me manter ativo nesta coluna. Outros me confessam que a leem quando eu os encontro pessoalmente, e eu aproveito a surpresa e alegria da notícia com a mesma ironia que mencionei lá em cima sempre perguntando: Ah, então é você que a lê?!
Ser prolixo, verborrágico e sem botão de síntese pode ser visto com uma dose de egoísmo, mas também sei que preciso ajustar isso a uma nova dinâmica… Afinal, a nossa Língua e seus quase 200 ou 300.000 verbetes (dependendo do dicionário), teve uma redução drástica no seu uso, as pessoas não têm mais paciência para ler algo longo ou assistir a um conteúdo que passe de alguns poucos minutos e isso significa, na pior das hipóteses, a desconexão ou a falta de comunicação. E isso seria um tremendo de um tiro no pé. Concordo!
Por que estou falando isso? Porque semana que vem intero esse número bonito: 50 colunas. Nunca havia escrito colunas, muito menos 50 delas. Sei que tiveram algumas bem legais e outras nem tanto, você pode ter se conectado com algumas ou com outras e talvez com nenhuma, mas esse número vai marcar uma mudança da minha linha editorial – vamos assim dizer rs.
E mudar é preciso, talvez até sendo curto, rápido, objetivo, direto e conciso. Simples assim. O mundo pede algo mais rápido e eu concordo, mas jamais permitirei que seja raso ou não traduza uma boa dose de conteúdo. Os assuntos poderão ser variados, posso falar mais de pessoas, mais do mundo corporativo ou de qualquer outro tipo de tópico, mas gostaria muito de saber sua opinião.
Afinal, apesar de até hoje ter resistido bravamente no meu projeto de um repente prolixo, verborrágico e sem botão de síntese, tudo isso só faz realmente sentido com alguém aí deste lado, lendo tudo isso que escrevi ou não…
Posso continuar contando com você?
Por Dil Mota.