Uma reunião memorável com Lázaro de Mello Brandão.
Estava no meio de minha trajetória de 17 anos no Bradesco.
Um certo dia, meu diretor me chamou, e disse que estava saindo de férias, e que havia indicado meu nome, para que qualquer necessidade da diretoria, me fosse encaminhada.
Saí da sala dele, já pensando nos pepinos que viriam, com a maior certeza.
Mas, é sempre uma oportunidade.
Bom dia!
Secretaria geral do banco Bradesco.
O Sr. Brandão pede que o senhor suba, pois ele deseja falar-lhe”.
Para contextualizar a todos, alguns detalhes importantes da cultura da organização.
1 – Quando alguém da executiva chama, o mundo para, e você atende imediatamente.
Até aí nada demais. Em todas as empresas que trabalhei era mais ou menos assim.
2 – O expediente começava às 8 da manhã; mas como eu estava substituindo um diretor, deveria chegar à Cidade de Deus, até às 7 da manhã.
Voltemos a situação.
Atendi, muito assustado. Afinal, eram 6 da matina, e a secretária estava me dizendo que eu precisava subir imediatamente.
Quando se tratava do Sr. Brandão era sempre para ser o mais imediatamente possível.
Eu respondi incrédulo: Olha, muito bem, mas você sabe para qual telefone ligou, não é?
“Claro, tentei o seu celular, mas o senhor não atendeu”.
Pois é, eu disse. Ainda estou em casa, respondi como se eu estivesse atrasado umas 2 horas.
“Tudo bem Senhor Luiz, mas venha que ele está te esperando”.
Bem, só dava para escovar os dentes.
Fazer a barba muito rapidamente.
Colocar o terno, ainda bem que a gravata era muito fácil de vestir.
Pegar o carro, e ignorar todos os radares do caminho.
Da minha casa, até Osasco, gastava 25 minutos em um dia bom.
Mas eram 6:15 da manhã, e de certa maneira era a minha sorte.
Consegui chegar faltando 5 minutos para as sete.
Subi, me apresentei na recepção do quarto andar, e aí mais uma notícia inesperada: “Bom dia Senhor Luiz. O Senhor está procurando o Sr. Brandão, não é”?
Respondi, quase antes da moça terminar a pergunta: sim, sim.
“Ah, só um momentinho. Ele está na sala vermelha com uma visita”.
Nossa, mas que maravilha. Além de deixar o presidente do Conselho de Administração do Banco esperando pelo substituto do diretor, ele ainda está com uma visita.
Era impossível me acalmar.
A situação só se complicava.
Subi, e ao chegar na antessala, uma pessoa me avisou baixinho: “Ele está com o Sr. Laudo Natel”.
Gente é assim. Eu queria sumir. Eles estavam me esperando há 56 minutos.
Entrei.
E como sempre, Seu Brandão, muito educadamente se levantou, me cumprimentou, e me apresentou ao Sr. Laudo.
Eu de pé, tentando pensar um jeito de desaparecer, rapidamente.
Mas, Seu Brandão virou-se para mim e disse: “Luiz, sente aqui conosco”.
Eles estavam tomando café da manhã.
Sentei, apesar da vontade de querer sumir.
“Então Laudo, faça a pergunta que você queria fazer. O Luiz é do marketing, e certamente vai saber te responder”.
Eu imaginei, agora é que desandou de vez. O que será que esse homem vai me perguntar. Será que vou saber responder?
E aí veio a questão: “Luiz, o Bradesco vai patrocinar o Corinthians”?
Até hoje, mesmo quando estou escrevendo este texto, lembro-me do que senti naquele momento. Sabem aquele cara, que vai para uma prova oral, com o reitor da escola, e cai o ponto que ele mais sabia? Pois foi isso.
Respondi, e Seu Brandão disse a Seu Laudo: “E agora Laudo, satisfeito”?
E emendou, dirigindo-se a mim: “Não quer tomar um café conosco”?
Agradeci muito e saí, me dirigindo à minha sala.
Ao chegar em minha mesa, vem um engraçado e diz, “É chefe, chegando tarde, não é? São 8:05. Vai que alguém da executiva te chama”.
Não respondi. E ele ainda virou para mim e perguntou: “Quer tomar um café?”