Essa é uma pergunta recorrente na minha mente sempre que vou a eventos, desenvolvo projetos ou visito clientes. Sinto na pele, literalmente, a necessidade de avançarmos nas questões de representatividade racial em todos os setores econômicos, incluindo o nosso.
É verdade que o mercado publicitário brasileiro tem evoluído nas práticas que se referem aos profissionais afrodescendentes. As campanhas ganham cada vez mais estrelas negras. O ator Lázaro Ramos, por exemplo, é um dos preferidos das marcas.
Só para citar os mais recentes, ele protagoniza anúncios da Avon, da Fiat e da Italac – este último, com a sua esposa, a atriz Taís Araújo, que também já balançou seus cachos com outras celebridades negras para propagandas da L´Oréal, com jingle da Iza. Outras cantoras negras, como Karol Conka e Ludmilla, também representam grandes marcas, respectivamente, Avon e TIM.
Exemplos bacanas, que certamente poderiam constituir uma brilhante lista negra, não faltam. E as estatísticas mostram um pequeno avanço: pesquisa da Heads com a ONU Mulheres demonstra que a participação de mulheres negras em campanhas publicitárias na TV brasileira subiu de 4%, no primeiro semestre de 2016, para 21% no segundo semestre de 2017. No entanto, isso basta? Parece que não.
Atrás das câmeras, os profissionais de comunicação ressentem a desigualdade. Entre 1.000 funcionários nas 50 maiores agências do Brasil, apenas 35 são afrodescendentes, como aponta o levantamento “A presença dos negros nas agências de publicidade” (Instituto Etnus).
Recentemente, as agências começaram a se articular para a formação de (ainda incipientes) políticas afirmativas. Vagner Soares e Letícia Pereira, da Artplan, criaram o projeto “Dear Publicidade People”, inspirado na série Dear White People (Netflix), para discutir o tema. A J. Walter Thompson conduz o projeto 20/20, que visa alcançar 20% de colaboradores negros em cargos estratégicos até 2020.
No nosso segmento, temos um caso exemplar: a agência de live marketing UM trocou de nome para UMA, para refletir seu posicionamento a favor da diversidade, e preocupa-se não apenas com a questão de gênero, mas também racial: 18% dos seus colaboradores são afrodescendentes. O patamar, segundo a agência, é próximo da meta de 20%, recomendada pelo Projeto 20/20 da Coalizão Empresarial para a Equidade Racial e de Gênero, organizado pelo Instituto Ethos.
Sabemos que a questão da desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro é extremamente profunda. Trata-se de um problema estrutural, que começa com acesso à educação e à saúde, para ficar nos níveis mais elementares. Entretanto, acredito que combatê-la é responsabilidade de todos. No live marketing, abrir as portas para os profissionais negros é apenas o primeiro passo.