“Imagine que você está na estrada em seu carro e com mais quatro pessoas, indo para uma reunião de apresentação de uma proposta ou projeto. Começa então a sentir que sua direção puxa um pouco para um dos lados e então resolve parar no acostamento. Faz todo mundo sair do carro, ignora o horário da reunião e ali mesmo começa a questionar o que poderia estar acontecendo para que seu carro tivesse essa tendência de não se manter em linha reta. Você ficou inseguro, começou a sentir medo do perigo e queria ouvir a todos, saber o que achavam da situação, descobrir se já haviam passado por isso, entender porque ninguém o tinha alertado sobre esta possibilidade e chegar a um consenso, ouvindo todos, do que deveria ser feito. E tão afoito estava em entender, dividir, compartilhar, compreender e tomar ciência do problema que não percebia que tinha parado 4 pessoas, caminhava para o atraso da reunião, estava discutindo o que não precisava discutir naquele momento, estava em um local inadequado e gerando ainda um stress desnecessário, justamente nos minutos importantes que antecediam uma apresentação tão importante.
Qualquer motorista com os mínimos conhecimentos de mecânica saberia deduzir que poderia ser apenas um PROBLEMA DE ALINHAMENTO, coisa simples de se resolver, e que na maioria das vezes bastaria se manter atento, continuar seu caminho até o destino e no momento ideal parar para fazer um diagnóstico e ajustar tudo o que fosse necessário.
E conhecedor do assunto ele também diria para aproveitar e fazer um BALANCEAMENTO. Afinal, aí sim o veículo estaria perfeito e obediente ao caminho e a direção tomada. E concluiria, sem ter dúvidas, que não haveria necessidade de parar o carro tão inesperadamente para discutir um assunto tão simples, ainda mais nas condições que aconteceram, pois se o motorista estivesse dirigindo com segurança e com as mãos firmes na direção, dificilmente ele sairia do trilho e do caminho…”
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Só de ouvir esta frase a gente já fica arrepiado: “O pessoal tá chamando para uma reunião de alinhamento!”. Na maioria das vezes ela acontece assim mesmo: repentina, não programada e desconsidera se você tinha ou não agenda pra isso.
Também nem leva em conta se naquele exato momento você estivesse trabalhando justamente naquele projeto: aquele mesmo que será assunto da reunião e que só foi resolvida agora em caráter quase emergencial porque alguém achou que precisava de alinhamento ou melhor SE ALINHAR, se autocolocar no game, entender o que está acontecendo, diminuir a sua ansiedade, ver se há algum remédio para sua insegurança, entender o que estão fazendo já que não está acompanhando e para isso a pessoa para todo mundo. Simplesmente assim: faz a empresa ou grupo envolvido parar tudo o que estava fazendo e virar cúmplice, testemunha, parceiro, conselheiro e terapeuta da sua incapacidade de deixar as coisas andarem no seu ritmo próprio. Pena que na maioria das vezes ela não entenda que sempre que a gente “alinha”, também tem que balancear.
Há um diagnóstico duro neste primeiro parágrafo, mas se você está acompanhando algum projeto, fazendo parte dele ou tem um time envolvido no desenvolvimento de algum, acompanhá-lo já é estar alinhado, se interar já é estar balanceado e utilizar ferramentas como feedback e follow up já te permitem ter a certeza de sua direção segura e que “suas rodas” não estarão tentando te tirar do caminho. Parece simples e é mesmo.
É assustador como cada vez mais e nas mais diferentes empresas, perde-se tempo com reuniões desnecessárias – que hoje só diminuíram de quantidade porque foram trocadas pelos inúmeros calls, longos e-mails, grandes conversas via grupo do WhatsApp ou pseudo diálogos por meio de mensagens de voz.
Tanto papo e burburinho que poderia ser resolvido simplesmente por uma coisa só: estar presente. Não só aquele presente de corpo e alma, materializado por intermédio de um contato humano mesmo, mas a presença de fazer parte, de estar conectado e de estar acompanhando tudo onde você esteja envolvido.
Sim, são muitas janelas abertas, muitos assuntos discutidos na paralela, você faz parte de muitos grupos, recebe dezenas de e-mails, é chamado para muitas conversas e reuniões… Como então dar conta? Será que realmente não é melhor fazer algumas reuniões de alinhamento?
Pois é aqui que entra a questão do BALANCEAMENTO. Se você não puder ajustar a medida certa do seu esforço dedicado a cada coisa, se não entender o que lhe pede mais ou menos energia e se não antevê onde você é mais ou menos necessário, certamente você está desalinhado, perdendo força, saindo do trilho, tendo dificuldade em tomar a direção certa e se tornando completamente refém do sentido que estão te levando – em outras palavras, você não está dirigindo também o seu carro, processo ou time.
Daí é um passo para a insegurança, o começo da desconfiança de sua própria capacidade, o medo do que podem estar falando, a pressão em fazer tudo dar certo e isso faz você pedir ajuda: vamos fazer uma reunião de alinhamento!
Será que ela vai te trazer tudo isso que está faltando naquele momento ou vai expor o quanto você está desconectado (desalinhado) de tudo o que está acontecendo?
Será que fazer perguntas e dar sugestões no meio de um processo on going e já delineado, te traz a imagem de alguém estratégico ou afobado por fazer parte?
Será que parar todo mundo para deixar clara sua insegurança, vai te fortalecer perante o grupo ou deixar claro sua incapacidade de lidar com tudo isso?
Será que nas vésperas de um projeto, propor o tal alinhamento faz o time ficar mais forte ou incurte nele um monte de inseguranças?
Alinhamento e Balanceamento são medidas profiláticas, coisas que são feitas em qualquer manutenção de rotina e isto significa numa tradução empresarial: estar atento, participar e acompanhar. Sendo que eu complementaria com uma coisa essencial: deixar rodar! Sim, “deixe o carro andar”, o seu time seguir em frente e tomar o caminho, acompanhe o vem acontecendo, faça um ou outro ajuste, não esqueça de colocar combustível, forneça um GPS e as coordenadas corretas e se assegure de que você tem pessoas devidamente habilitadas para conduzir o veículo, quer dizer: o processo. E isso é alinhamento!
O resto, que me desculpem os adeptos das reuniões ansiosas de última hora, é só falta de balanceamento.
Por Dil Mota.