Lida assim, a frase do General Eric Shinseki parece apenas retórica, mas vivemos um mundo onde todos de alguma forma anseiam o privilégio de ser protagonistas, mesmo sabendo que tem até Oscar para coadjuvantes.
Vivemos o mundo mais conjugado na primeira pessoa do verbo de todos os tempos e sem o “eu”, não tem essa de tu, nós, vós ou eles. Afinal, “Irrelevância é um fardo, ser comum é um saco, ser parte de um todo é uma bosta, não ter notoriedade é frustante e não aparecer na “Caras” é foda, foda mesmo.”
Com este tipo de provocação, inicio minhas palestras ou aulas em faculdades e em empresas. Colocar as pessoas em xeque, confrontando seus paradigmas pessoais é muito importante quando decididamente o fato “ser eu” não está nada fácil no mundo de hoje.
O mais irônico é que construímos por anos a segurança e a liberdade de poder nos expressar e de valorizar o nosso lado “self“, para descobrirmos que existe em antagonismo, um grande movimento que nos força a não sermos mais um “eu”, mas pertencermos a um “modelo plural”, onde é mais importante o “nós” e ai se você tentar sair desta teia.
Este texto fecha uma sequência de pensamentos que sintetizam a necessidade de construirmos nosso legado, de sermos reconhecidos e de buscarmos visibilidade. Afinal, quem cria, pensa diferente, se transforma em conteúdo ou busca o reconhecimento digital quer a relevância, mesmo que um ar blasé dê a impressão que você não se importa com isso. No fundo, tudo o que fazemos, estudamos, pesquisamos, criamos, trabalhamos e expressamos é justamente para isso: para chamar a atenção. Acredite, é isso mesmo!
Mas cuidado, continuamos falando de benchmarking, outstanding, out of box, innovation, unexpected e disruption dentro de briefings e/ou modelos criativos que pouco estimulam um pensamento mais aberto, confirmando a ótica perversa que Sir Ken Robinson brilhantemente apresenta em suas palestras: “Quando crianças assumimos riscos e não temos medo de errar, mas quando nos tornamos adultos, a maioria perde esta capacidade, adquirindo um verdadeiro pavor de errar.”
Nosso mercado é assim, nós somos assim: estigmatizamos os erros. E se você não estiver preparado para errar, nunca vai ter uma ideia original.
Aspiramos ao novo, às tendências e à disrupção, só que na hora do vamos ver, é mais safe ir para aquela ideia mais justinha, com menos riscos, que custe menos e que não seja questionada. Caímos na armadilha da troca do insight irresistível por um pensamento grupal e abrimos mão de uma ideia diferenciada por outra que busque o consenso.
Você não conseguirá aspirar a relevância se não for uma voz discordante, insistir num pensamento autoral, ser diferente, inovador ou seja: tudo aquilo que teoricamente se espera da gente ou esperamos de nós mesmos.
Então resista bravamente a esta força que procura tirar o seu “modo eu” para te classificar apenas em um grupo 0 ou 1, como um modelo binário e lembre-se que se você não gosta de mudança, vai gostar ainda menos de irrelevância, que por sinal é um fardo e não aparecer na “Caras” é foda, foda mesmo.
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