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Espaços com conteúdo– A nova Era para os shopping centers

A maior parte dos shoppings continua focado na receita de sucesso de sempre: ambientes climatizados, seguros e protegidos, com facilidade de estacionamento e um mix de lojas, serviços e alimentação com o objetivo de impulsionar compras

Todo negócio vive um processo de reinvenção permanente para continuar relevante aos consumidores e não acabar obsoleto e entrar em decadência.

Nesses dias, em Las Vegas – de 19 a 23 de maio, acontece o maior evento mundial de varejo imobiliário – RECON, organizado pelo ICSC- Internacional Councilof Shopping Centers, com 37 mil profissionais da indústria participantes, além de 1200 exibitores.

A palestra de abertura do evento, começou discutindo nada menos do que o futuro do varejo e dos shopping centers americanos para os próximos 25 anos. Isso mesmo, caro leitor, 25 anos.

Mas como compreender o presente e idealizar um futuro promissor para o setor?

Quem sabe seguindo o pensamento do geógrafo e historiador grego, Heródoto, nascido no século 485 a.C.,em Halicarnasso (hoje Bodrum, na Turquia).“ Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”.

Vamos conhecer o passado e o passado do shopping center moderno começaquando um arquiteto judeu austríaco Victor Gruen imigrou para Nova Iorque, em 1938, com 8 dólares no bolso.

Nascido Viktor David Grünbaum,no coração de Viena em 1903, Gruen cresceu em meio ao ambiente modernista que definiu a cidade no início do século XX. Em meados da década de 1930, Gruen abraçou uma carreira em arquitetura, criando projetos de varejo no renomado Primeiro Distrito da cidade. De 1936 a 1938, Gruen projetou mais de meia dúzia de lojas para comerciantes vienenses.

Em Nova Iorque, Gruen experimentou sua primeira onda de sucesso nos Estados Unidos, trabalhando na exposição da Feira Mundial de 1939 e em várias lojas da Quinta Avenida.

Durante seu tempo em Nova York, Gruen se associou e logo se apaixonou pela designer ElsieKrummeck, e com ela se mudou para Los Angeles em 1941.

Victor Gruen via a arquitetura de varejo como uma maneira de criar comunidades em lugares onde elas não existiam, encorajando seu uso na melhoria da vida social e civil através da incorporação do design ambiental.

Considerado como o “Pai do Shopping Center Moderno”, Gruen projetou o primeiro shopping center dos Estados Unidos, o Southdale Center, com 74.000 metros quadrados, em Edina, Minnesota.

No dia da inauguração, o Southdale Center, em 1958, atraiu 75.000 visitantes.

Desse dia em diante o shopping center como conhecemos hoje se espalhou pelos Estados Unidos e pelo mundo inteiro.

A maior parte dos shoppings continua focado na receita de sucesso de sempre: ambientes climatizados, seguros e protegidos, com facilidade de estacionamento e um mix de lojas, serviços e alimentação com o objetivo de impulsionar compras.Fase esta identificada na palestra, como a era da conveniência, que foi muito afetada pela entrada do e-commerce. 
A chegada de tecnologias disruptivas, é um fator de risco permanente, exigindo sempre, uma reinvenção dos shopping centers.

Os shopping centers vivem ainda o dilema com o crescimento das vendas online. Em 2017, o e-commerce cresceu 12% em relação ao ano anterior, com faturamento na ordem de 59,9 bilhões de Reais. E a previsão de crescimento para este ano é de 15%.1

E aqui, voltamos ao propósito original do “Pai do Shopping Center Moderno”, Gruencriou o centro comercial para ser um lugar onde as pessoas poderiam se reunir, passear e socializar, seu shopping ideal incluiria teatros, bibliotecas, shows de jazz e mostras de arte. E não apenas fazer compras.

O que os sociólogos chamam de “terceiro lugar” – espaços públicos neutros e seguros fora da casa ou do trabalho que, nas palavras de Gruen, “proporcionam o lugar e a oportunidade necessários para a participação na vida comunitária moderna”. 

Agora, descobrimos que a vocação dos centros comerciais, idealizados por Victor Gruen, vai de encontro aos desejos dos novos consumidores, os jovens das gerações Y e Z.

Segundo pesquisas recentes, mais do que compras, eles querem um ambiente acolhedor, espaços onde eles possam se relacionar e conviver com as pessoas.

O foco deixa de ser exclusivamente compras e passa a ser o prazer de novas experiências, o encontro com os amigos, a gastronomia, o entretenimento, serviços e facilidades.Os espaços físicos só existem, quando são ocupados e apropriados pelas pessoas. E como consequência, o shopping passa ser um forte canal de mídia e muito atraente para novos anunciantes.

Os empreendedores de shopping centers passam a ser fundadores de novas cidades, 
os profissionais de marketing não mais irão gerenciar eventos, e sim criar oportunidades para que as pessoas dessa comunidade com mesmo propósito se encontrem, os profissionais de leasing não vendem mais lojas, agora são desenvolvedores de “espaços com conteúdo e experiência”.

Concluindo, a reengenharia do projeto original dos centros de compras dos anos 50 se transformaram nos LifeCenters de hoje– novo conceito que vai nortear a criação dos shoppings do futuro e que ainda vamos falar muito a respeito.

Mas isso é uma conversa para nosso próximo encontro, aqui na minha coluna.

1 Fonte: Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).