Diferentemente de diversas outras datas comemorativas, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, é muito mais do que presentear e fazer homenagens sem conteúdo para as mulheres.
Incomoda muito a maioria delas ganhar recompensas, experiências ou presentes sem propósito e conexão. Sempre bom revisitar o contexto histórico antes de sair executando qualquer ideia inusitada de live marketing.
Oficializado pela Organização das Nações Unidas em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher era celebrado muito tempo antes, desde o início do Século XX.
Nasceu de um movimento trabalhista, mas hoje a data é lembrada como um pedido de igualdade de gênero e com protestos ao redor do mundo.
O papel feminino foi fundamental para a evolução do varejo no início do Século XX, período da 1ª Guerra Mundial, quando um contingente grande de mulheres substituiu os homens nas fábricas, escritórios e lojas de varejo.
Foi o momento em que aquelas, que antes não tinham necessidade financeira de trabalhar foram para o mercado de trabalho. Mais de um século depois, são mulheres análogas que estão disputando nas empresas postos de liderança com os homens.
Minha experiência com disparidade de gênero está calcada nessa esfera. Fui a primeira mulher a assumir um cargo de superintendência de shopping centers no Brasil há mais de 20 anos.
Os desafios encontrados no cotidiano eram relacionados a ter uma postura masculina e uma aparência feminina segundo o padrão da moda. Era uma situação tão motivadora que nunca pensei em me valorizar e pedir pagamentos iguais aos de meus coworkers.
Embora não tenha sido fácil, entendo que foi necessário para abrir as portas para as próximas gerações. Mostramos que é possível chegar lá e agora cabe a elas dar continuidade a essa luta e abrir novas portas.
Esse assunto foi bastante discutido na NRF2019, maior feira de varejo do mundo realizada em Nova York em janeiro. Os organizadores, notando que a inclusão gera lucro, destinaram um especial destaque às mulheres, com mais representatividade nas palestras, o que era raro; e com metas ambiciosas de chegarem a 50% de participação feminina na programação, além do espaço exclusivo – The Girl’s Lounge – desenvolvido pelo The Female Quotient, que cria pop-ups experienciais em conferências, corporações e campi universitários em que as mulheres se conectam, colaboram e ativam as mudanças em conjunto. Há poder nesse pacote.
Em um dos encontros, a designer Rebecca Minkoff afirma que as mulheres ainda se sentem mais à vontade de falar de sexo do que de dinheiro quando precisam se valorizar.
Em outro debate levantaram a questão de como você deve e pode negociar uma contraproposta para aumentar seus honorários e assumir mais responsabilidade.
Neste debate, as líderes que estiveram lá, incentivaram as mulheres a serem as suas próprias defensoras, seja para receber o que você vale ou para pedir um horário flexível.
As mulheres chegam a se sentir recompensadas apenas pela indicação a um cargo de liderança, ainda que com remuneração inferior ao que o seu antecessor homem recebia pelo mesmo trabalho.
Diane Detz entende que é preciso angariar aliados nesta luta, sendo preciso chamar homens para este diálogo. Abordagem esta, há muito destacada por uma amiga e brilhante profissional, Cris Kerr, idealizadora do Fórum Mulheres em Destaque e do Fórum Gestão e Diversidade, que acontece anualmente em São Paulo.
Paralelo a isto, as estimativas recentes sugerem que elevar a paridade econômica de gênero poderia acrescentar cerca de 2,8 trilhões de dólares ao PIB mundial (considerando estudos realizados em países como EUA, Inglaterra e Japão), no Brasil não há sequer essa estimativa.
A participação feminina precisa ser urgentemente incentivada, pois, independentemente de qualquer outra abordagem que se possa dar à questão da igualdade de gênero, não há argumento mais contundente do que o potencial econômico que desperdiçamos ao deixar de valorizar a participação da mulher na economia e em todas as outras esferas de poder.
Porém, ainda não foi atingida a situação ideal, e, para que um dia isso aconteça, é necessário, como coloca a socióloga Eva Blay, que “A gente continue reclamando, porque os problemas persistem. Historicamente, isso é fundamental.”
Desejo que cada mulher seja protagonista de sua história e simplesmente viva sua essência. Parabéns para todas nós e para os homens que nos complementam.