Experiência de Marca

Templos de consumo e seus portais

"Os consumidores frequentemente compartilham espaços físicos de consumo, como salas de concertos ou exibições, pontos turísticos, áreas de esportes, shopping centers e cafés, sem ter qualquer interação social real", explica a professora de marketing finlandesa Liisa UUsitalo, afirmando que nestes espaços de encontros contemporâneos as pessoas buscam a ação de consumir, integralmente subjetiva, e não efetivamente a interação com os demais.

marina

Dentro de seus templos, os compradores/consumidores podem encontrar o que zelosamente e em vão procuram fora deles: o sentimento reconfortante de pertencer – a impressão de fazer parte de uma comunidade.”

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Liquida.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 114-116).

“Os consumidores frequentemente compartilham espaços físicos de consumo, como salas de concertos ou exibições, pontos turísticos, áreas de esportes, shopping centers e cafés, sem ter qualquer interação social real”, explica a professora de marketing finlandesa Liisa UUsitalo, afirmando que nestes espaços de encontros contemporâneos as pessoas buscam  a ação de consumir, integralmente subjetiva, e não efetivamente a interação com os demais.

Com o pressuposto de que somos todos semelhantes, Sennet pontua que, mesmo assim, fazemos parte de uma comunidade, pois nestes espaços “não é preciso negociar pois temos a mesma intenção”. E mais: nesta imagética do pertencimento, completa Bauman, “o sentimento de uma comunidade comum… é uma fabricação da experiência.”

E para onde nos encaminha o rumo destes acessos, se não para o ponto alto e convergente dos templos, os seus portais, altares do upload, que os identificam? Todas as definições acima e outras tantas caberiam para definir experiências efetivamente virtuais que se processam nas mais diversas plataformas comerciais do espaço virtual, ponto-de-encontro onde se interconectam inúmeras comunidades virtuais, superficiais, aceleradas, multiconectadas e, surpreendentemente, reais.

Se o shopping center, para Marc Augé, era um “não-lugar”, o que dizer, por exemplo, de um restaurante virtual como o inaugurado pela rede Giraffas, no qual se consomem informações, contatos e acessos e não alimentos “de verdade”? (www.habbo.com.br/groups/giraffas)

E o que dizer da experiência virtual Gafisa, na qual você circula pelo empreendimento por projeção interativa com sensores virtuais nas paredes do estande? (www.gafisa.com.br/experiencia)

E o premiado HBO Voyeur, que transforma a parede de um prédio em uma grande tela, cujas histórias se desenrolam na web para divulgar as tantas outras histórias que o canal oferece? (http://archive.bigspaceship.com/hbovoyeur)

Sem contar o papa, que conectou o Vaticano com o Facebook para a troca de postais, discursos e mensagens com o intuito de se aproximar dos jovens (www.pope2you.net). Na Carolina do Norte, a igreja estimulou seus fiéis a twittarem sobre suas experiências religiosas, uma nova forma de competição entre os “templos” religiosos para atrair mais fiéis (http://twitter.com/churchsolutions).

E, para concluir esta pequena amostra, o “Obama Everywhere”( www.barackobama.com) , com links para não apenas o FaceBook como MySpace, You Tube, Flickr, Digg, Twitter, Eventful, Linkedin, BlackPlanet, Faithbase, Eons, Glee, MiGente, MyBatanga, AsianAve e DNCPartybuilder, sem contar o Mobile, todos convergendo para “asking you to believe”. Se quiser conferir o presidente assistindo o Super Bowl com óculos 3D, é só acompanhar seu recém inaugurado perfil no Flickr (www.flickr.com/photos/whitehouse)

Neste cenário, a definição de Michel Foucault para “templos de consumo” é perfeita para os “portais de consumo” web: “um pedaço flutuante no espaço, um lugar sem lugar, que existe por si mesmo, que está fechado em si mesmo e ao mesmo tempo se dá ao infinito mar”.  Soma-se a isso a quantidade inimaginável de contatos que se efetivam por dia, de forma viralizada, dando voz e força a um povo consumidor que se faz ouvir por suas brandtags (www.brandtags.net) e que tem potência não apenas para consumir como para construir ou destruir uma imagem de marca. Ora, ora, e isso, na era imagética, tem lá o seu poder.

Mudam os canais, modificam-se os templos, mas o consumo permanece.

Depois destes portais, o que virá?

Quem viver, verá!

Marina Pechlivanis é socia-diretora da Umbigo do Mundo, Mestre em Comunicação e Consumo pela ESPM e integante do GEA (Grupo de Estudos Acadêmicos) da Ampro. Palestrou no Festival de Cannes/Promo Lions 2008 lançando o conceito “Gifting”.