Como tudo, em nossa vida “moderna”, onde nem nos damos conta de quanto tempo, tem o tempo que curtimos determinados eventos que apreciamos, Tóquio 2020, parece que aconteceu há muitos anos.
Na verdade, começa pela confusão de números. Algo que tem em seu nome menção a uma data, e que aconteceu no ano seguinte, já nos traz um certo desconforto de assimilação.
Ainda mais, porque se formos olhar para nossa rotina, parece que 2020 nunca termina.
Mas nosso assunto aqui, são os fatos que me chamaram a atenção nos Jogos.
Poderíamos falar da desistência de uma das grandes protagonistas desta edição, Simone Biles, mas acho que já se falou o suficiente.
Para entender toda a jornada desta grande ginasta, sugiro, para quem não viu, o filme que trata de toda a sua história, até a chegada ao time americano de ginástica artística. Vale a pena conferir.
Outra abordagem que poderíamos ter, seria a estreia, nos Jogos, dos novos esportes: surf, skate e escalada. Os dois primeiros, por conta de termos atletas de destaque internacional em nossas equipes, com certeza.
Mas quero citar um fato que me chamou muito a atenção. Nas provas do skate park, era impressionante ver o comportamento dos skatistas em relação aos seus adversários.
Eles realmente entenderam o significado do espírito olímpico, onde o adversário, não é o inimigo. Para que exista um medalhista de Ouro, precisamos ter os competidores, que se classificaram em outras posições. Por isso, devemos honrar nosso adversário.
Foi impressionante ver como eles torciam e vibravam pelo desempenho de seus adversários. E encaravam que, para vencer, eles é que tinham que dar o seu melhor.
Uma demonstração fantástica de garotos e jovens, que pareciam ter se encontrado numa pista, em um final de semana, para fazer um tira-teima entre eles.
A esta altura, devemos falar do desempenho do Brasil.
Cantamos em verso e prosa, como nos superamos em Tóquio.
Talvez devêssemos pontuar, o que todos já sabiam.
O fato de, no surf e no skate, termos os melhores do mundo, ajudou muito no resultado.
Assim, se analisarmos o que rolou, tivemos um desempenho semelhante à nossa participação na Rio 2016. Mas isto é outro tema.
É preciso pensar e avaliar a formação que oferecemos aos nossos atletas. Dentro e fora das competições.
Recentemente, por exemplo, Rebeca Andrade compareceu ao programa Super Dança dos Famosos, como uma jurada artística. Pois bem, a primeira intervenção da moça foi um desastre. Não por culpa dela. Mas sim, porque convidaram a menina para aparecer num programa de grande audiência, e não houve preparo, deixando até o Tiago Leifert, desconcertado.
Resultado? Um enorme constrangimento de todos após a primeira análise feita por ela.
O que faltou? Formação. Preparo. Instrução. Lidar com o sucesso, exige. Não tê-la, pode significar um ostracismo precoce.
Por outro lado, Martina e Kahena, na vela, Rayssa, no skate, e Douglas, no vôlei, protagonizaram momentos importantíssimos para o esporte brasileiro, e, naturalmente, para nossa sociedade.
Nossas velejadoras mostraram que preparação, é tudo. Passaram todo o ciclo olímpico planejando, se preparando e treinando para serem bicampeãs olímpicas.
Rayssa, com a pouca idade que tem, mostrou a todos que, mesmo concorrendo numa das mais importantes competições, pode-se competir e se divertir. Maravilhosa participação.
Douglas, do vôlei, teve a coragem de assumir publicamente, sua homossexualidade. Neste momento tão obscuro de nosso país quanto à diversidade de gênero, uma ousadia muito importante para todos nós. Assumir publicamente uma opção desta natureza não é nada fácil.
Todos estes fatos são relevantes, e poderiam, tranquilamente, serem os grandes destaques destes Jogos.
Mas, quero colocar aqui, mais um desempenho absolutamente surpreendente.
Na quadra de vôlei, a música explode entre um ponto e outro, como se fosse uma festa. A trilha sonora ultrapassa os limites da quadra e viraliza nas redes sociais.
Uma conexão extraordinária entre o que está acontecendo na transmissão e o som que está rolando.
Na house mix, um austríaco surpreendente, comandando o evento: DJ Stari. Ele aproveitou a pandemia, pesquisou as músicas que mais caracterizam cada país, com chances de irem longe na competição.
Nos momentos em que tinha que entrar em cena, um show à parte.
Imaginem só, com um pequeno exemplo: Ponto do Brasil feito pela Gabi. Trilha que entra, a música Gabriela, e justo no verso cantado “Sempre Gabriela”. E o cara é austríaco. Muito bom.
E como sempre, tudo que é muito bom, exige uma preparação cuidadosa.
DJ Stari conseguiu ressignificar o papel de quem atua fora da quadra e está ali para contribuir com o espetáculo. Ele conseguiu ser um dos pontos de atração, sem fazer barulho, adequando, completamente, a sua função e o jogo em si.
Tóquio 2020 ficará marcado pela ausência do público, pela pandemia que adiou o evento, e o perseguiu até 2021, e, principalmente, pela resiliência do povo japonês, que não desistiu, e conseguiu entregar as Olimpíadas e as Paralimpíadas, trazendo para o mundo, jogos de altíssimo nível.
Poderia citar como, destaque destas Olimpíadas, os recordes, as atuações, os desempenhos dos atletas.
No entanto, como todos nós estamos repensando um pouco nossas vidas, acredito ser mais importante destacar as pessoas, seus sentimentos e sua superação, em relação aos obstáculos que surgiram.
Simone Biles e sua corajosa decisão.
O time USA, e a forma como aceitou esta decisão.
Os skatistas disputando o Ouro na modalidade park.
Martina e Kahena e sua na preparação para o bi.
Rayssa e suas reações de menina, mas, sabendo exatamente, o que fazer.
Douglas e sua enorme coragem.
E, finalmente, DJ Stari, que transformou por completo a atuação de um DJem jogos de vôlei.
Paris 2024, está aí. Faltam menos de 3 anos.