Experiência de Marca

Tradições, promoções e maravilhas - Marina Pechlivanis

Em cada uma das esquinas deste mundo você pode se surpreender com formas criativas de vender o peixe, de promover os negócios, para além das fórmulas tidas como vencedoras nos grandes prêmios internacionais e nos veículos de comunicação.

Marina Pechlivanis*

Nada como observar outras culturas para refletir sobre as nossas tradições. Especialmente as promocionais. Em cada uma das esquinas deste mundo você pode se surpreender com formas criativas de vender o peixe, de promover os negócios, para além das fórmulas tidas como vencedoras nos grandes prêmios internacionais e nos veículos de comunicação.

Afinal, para cada região, vale uma solução. Não existem resoluções globalizadas de prateleira que funcionem em qualquer situação. Existe pertinência, adequação e bom-senso somados a uma certa audácia, que tempera e personaliza as promoções.

Por exemplo, promover um mercadão em Cuzco, no Peru, daqueles que vendem frutas, pescados, verduras… Pensou em folhetos distribuídos por promotoras nos arredores do local? Em amostras grátis das principais ofertas? Em cupons, “leve-dois-pague-um”, gifts, descontos especiais? O-ou! Que tal um desfile em praça pública com todos os representantes de cada uma das sessões (flores, carnes, estivadores, legumes…) tipicamente trajados esbanjando cores e sons e mostrando para todos os clientes em potencial que, além de trabalhadores do mercadão, são pessoas vinculadas à história daquela região que irão atendê-los? O tom era de desfile de carnaval, com alas e passistas, com porta-bandeiras e mestre sala, até com ritmadores para o processo ficar bem animado. Tinha até fotógrafo com jaleco oficial da Cerveja Cusquenã cobrindo o evento.

Podem chamar como quiserem. Show, evento, happening ou até flashmob… O poder mobilizador foi tal que as pessoas começaram a dançar nas ruas, querendo ingressar nos blocos. Contagiante, viralizante, inesquecível para os moradores, que se divertiam cumprimentando amigos pelo evento, torcendo pelo desfile. E para os visitantes, gratos pela oportunidade oferecida pelo mercadão de poder conviver com a riqueza da música, da dança, do folclore regional.

Na mesma região, uma outra iniciativa promocional no mínimo inusitada: como vender roupas em uma viagem de trem? Vendedores passando de cadeira em cadeira? Chamadas pelo sistema de autofalantes do trem? Catálogos e folhetos? Não! Um desfile feito pelos comissários de bordo no corredor, ou melhor, na “passarela”. Um frenesi: trilha sonora como teaser e uma expectativa a cada entrada do rapaz ou da mocinha vestidos com as peças em Baby Alpaca de uma tradicional grife local.

A graça estava no fato de não serem modelos, logo qualquer movimento deixava tudo mais engraçado, mais despojado, mais envolvente. Os passageiros começaram a aplaudir e a clamar pela dupla, que depois ofereceu as peças para venda com muito êxito — fica mais fácil comprar depois de visualizar um produto. Sem contar o fenômeno curioso que surgiu logo na sequência, ressignificando a ação: qualquer um que passasse pelo corredor (para ir ao toilette, por exemplo), era apaudido por todos. Os mais desinibidos até faziam estilo de desfile, parando e fazendo um charme.

Tudo isso tornou a experiência da viagem algo memorável, associado tanto à companhia férrea:

https://www.perurail.com/en

como à marca de roupas:

http://www.solalpaca.com

E para promover o próprio local, vendendo a atração turística Machu Picchu, uma das maravilhas do mundo? No avião, embalagem histórica do snack de bordo patrocinada pela Claro e Samsung, e protetor de poltrona temático. Nos bares e restaurantes, uma embalagem edição especial da cerveja Cusqueña.

Na web, um concurso de fotos promovido por agência de viagens para participar de livro celebrando o centenário de Machu Picchu. Já foram escolhidas 99 fotos. Quem viajar pela empresa pode concorrer com a centésima foto:

http://www.condortravel.com/machupicchu100years/indexeng.htm

Vale para o Festival de Parintins, para a Festa da Uva, para a Oktoberfest, para a Festa do Peão de Boiadeiro, para o Desfile das Escolas de Samba. E para as promoções nos supermercados, padarias, lojas de departamento. Estudar a cultura local, compreender o entorno, e falar na mesma língua, gerando o envolvimento. Sem perder a criatividade, a oportunidade, a inovação. É bem aí que pode surgir uma promoção pertinente, surpreendente, mil maravilhas!

Na dúvida, vai a dica: tem que ter tradição e também muita, mas muita imaginação.

Marina Pechlivanis é sócia-diretora da Umbigo do Mundo, Mestre em Comunicação e Consumo pela ESPM, coautora do livro Gifting (Campus Elsevier, 2009) e integrante do GEA (Grupo de Estudos Acadêmicos AMPRO). [email protected]