Experiência de Marca

Um criador de sonhos a serviço de marcas e produtos

Abel Gomes chega aos 40 anos de carreira criando cenários para os principais eventos do País e figura na lista dos 20 homens Mais Influentes do Mercado Promo, publicada aqui no Promoview. Histórias é o que não faltam na vida deste português. Conheça algumas.

Abel Gomes, 40 anos de carreira, é o maior cenógrafo de live marketing do País, e está entre os maiores do mundo. Neste período desenvolveu sua técnica com a criação de cenários de programas famosos como “Chico City” e “Chacrinha”, entre outros.

Preferido por dez entre dez executivos de marketing para desenvolvimento de projetos, Abel é o criador da Árvore de Natal da Lagoa para Bradesco Seguros e dirige a festa de Réveillon em Copacabana para a Prefeitura do Rio de Janeiro.

Em 2015 novamente ele marca presença na lista dos 20 homens Mais Influentes do Mercado Promo, que será apresentada nas páginas do Anuário Brasileiro de Live Marketing 2015. O livro será distribuído ao mercado nas próximas semanas. E a historia deles você conhecerá aqui ao longo do ano, nas atualizações diárias do Promoview.

Apaixonado por pintura desde criança, ele nasceu em Portugal, em 1950, e veio para o Brasil com a família quando tinha três anos de idade. O pai era dono de um empresa de ônibus e queria que o filho seguisse no mesmo negócio. Mas, depois de Abel descobrir um ateliê de pintura no Catete, bairro onde morou na adolescência, sua vida mudou radicalmente.

ABEL GOMES

O dono do espaço era um artista plástico alemão, que o cenógrafo considera uma das pessoas mais importantes da sua vida. Foi o artista plástico que o levou para começar a fazer pinturas em teatros do Rio de Janeiro, em 1966. Por três anos, Abel pintou em espaços como o Teatro Carlos Gomes, onde trabalhou em espetáculos como “A noviça rebelde”

A partir daí, sua carreira decolou. Após fazer pinturas para capas de discos de artistas como Roberto Carlos, Elis Regina e Wilson Simonal, Abel foi convidado pela TV Globo, em 1969, para montar cenários de programas – como o do Chacrinha e o do humorista Chico Anysio – e do Festival Internacional da Canção (FIC).

“Não fiz nenhuma novela. Não tenho nada contra, mas prefiro montar grandes shows ou programas, porque tenho mais liberdade.”, diz Abel.

Sete anos antes de sair da TV Globo, Abel criou a empresa P&G (nenhuma referência à multinacional americana Procter & Gamble; o “P” é uma homenagem a Federico Padilla, um cenógrafo da TV Globo que lhe ensinou muito sobre o ofício no início da carreira, e o “G” é de Gomes). O objetivo era prestar serviços no ramo cenográfico. Como queria dedicar-se 100% do tempo ao próprio negócio, em 1985 ele deixou o canal de TV.

A empresa cresceu e se tornou uma espécie de usina de sonhos. Em um terreno de 200 mil m² em Jacarepaguá, Abel comanda o escritório e a fábrica, que produz todos as peças de que ele precisa para  megaprojetos.

Dali saíram os materiais para as duas visitas do Papa João Paulo II, ao Rio de Janeiro, em 1980 e 1997, assistida por um milhão de fiéis e mais recente um outro Papa, o Francisco, rezou missa num palco montado por Abel em Copacabana, durante a Jornada Mundial da Juventude.

Foto: Divulgação.
Palco da Jornada Mundial da Juventude.
Palco da Jornada Mundial da Juventude.

Ele também cuidou da cenografia das cerimônias de abertura do Jogos Pan-Americanos (2007), dos Jogos Mundiais Militares (2011) e da Rio+20 (2012); Coca-Cola Vibezone; Free Jazz Festival; apresentação cenográfica do Rio em Copenhague e a montagem do QG da campanha; relógio da contagem regressiva para a eleição da cidade-sede na Praia de Copacabana; Rolling Stones; e achegada do Papai Noel no Maracanã.

Além disso o cenógrafo também assinou o Projeto Aquarius; Hollywood Rock; TIM Festival; Estátua do Zico, no Maracanã; árvores de Natal da Lagoa, em Lisboa e em Varsóvia; e da cena para apresentação de Frank Sinatra, com público de 150 mil pessoas no Maracanã, de onde traz as lembranças que conta aos leitores do Promoview.

Foto: Reprodução/Google.
Show de Frank Sinatra no Maracanã em 1980.
Show de Frank Sinatra no Maracanã em 1980.

Uma delas foi do dia em que ficou frente a frente com os olhos azuis de Frank Sinatra, que se apresentaria no Maracanã, em 1980. Abel se recorda do plano de fazer um palco 360º para o cantor americano, que seria iluminado por 32 canhões de luz.

Segundo ele, o público de 160 mil pessoas foi o maior já registrado num show pago em todos os tempos. Isso teria provocado em Sinatra uma tremedeira nas pernas antes de subir ao palco – planejado por Abel durante cinco meses. Debaixo de chuva, o intérprete contagiou os espectadores e revelou para eles que aquele show era uma das experiências mais encantadoras da sua vida.

Em outra, no ano de 1997, durante a segunda passagem do Papa João Paulo II pelo Rio de Janeiro, o cenógrafo projetou a imagem de uma catedral refletida na cobertura do Maracanã. A obra fez o Sumo Pontífice interromper por alguns instantes uma oração para falar, em português: “Que bela catedral.”

“Só de me lembrar daquele momento, fico arrepiado. A frase que ele disse não poderia estar escrita em lugar nenhum, já que eu não tinha avisado ao Vaticano sobre a projeção. Eles achavam desnecessário e haviam me pedido que esquecesse a ideia.”, conta Abel, que gosta de driblar as regras quando acredita que suas ideias podem deixar um espetáculo mais bonito.

Foto: Ricardo Chaves.
Maracanã foi palco da celebração da missa do Papa João Paulo II.
Maracanã foi palco da celebração da missa do Papa João Paulo II.

Casado e pai de dois filhos, Abel, nascido no Vizeu, considera-se um “carioca da gema“. Prova disso foi a “malandragem” operada no México em 2005. No auge da disputa pelo Pan 2007 ele conseguiu autorização da Odepa para esconder no palco do encerramento do Pan 2005 o material usado na apresentação.

“No primeiro dia ficamos das 20h30 às 06h30 montando tudo e camuflando. No segundo, ensaiamos das 22hs às 04h30.”, conta. No terceiro dia, fez surgir uma lona do tamanho do campo de futebol onde se realizou o evento, com a imagem do Rio de Janeiro diante das 400 pessoas da comissão julgadora que decidiria a sede dos Jogos Pan-Americanos de 2007 entre a Capital carioca e San Antonio, no Texas (EUA).

Sem esconder o deslumbramento com o painel de 30 metros de comprimento com a Baía de Guanabara ladeada pelo Pão de Açúcar e o Cristo Redentor, os delegados da Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) escolheram o Rio, impondo a primeira derrota de uma cidade americana em disputas desse tipo.

“Foi uma das grandes emoções da minha carreira.”, resume o autor da façanha, que recentemente foi homenageado com o troféu COI no Prêmio Brasil Olímpico.

Abel Gomes.

Nos últimos oito anos, Abel também assinou grandes eventos esportivos como o lançamento da marca Rio 2016 no Réveillon de Copacabana e o Fifa Fan Fest Rio durante a Copa do Mundo de 14, e vai estar à frente das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

De acordo com o comitê organizador dos Jogos do Rio, o custo estimado das cerimônias olímpicas (de abertura, encerramento e revezamento da tocha) é de R$ 250 milhões -valor que deve ser revisto em 2015.

“São 17 eventos, seis que vamos produzir e os outros 11 que vamos gerenciar. Provavelmente, vamos subcontratar outras empresas de produção para fazer os subeventos.”, antecipa Abel.

Responsável por comandar o Ano Novo carioca em Copacabana – uma operação que envolve até mil pessoas, na festa da virada – ele dirige desde o espetáculo da queima de fogos até a realização dos shows, contrata artistas, e, claro, cuida do cenário da festa.

“Só não cuido do que é público, como a segurança e o transporte. O resto é comigo. É claro que minha especialidade é cenografia, mas procuro fazer uma ambientação impecável. Quero que o público saia de Copacabana impressionado com o que viu”, diz Abel.

Foto: Divulgação.

Mesmo sendo o responsável pela Árvore de Natal da lagoa há quase duas décadas, o cenógrafo Abel Gomes não perde o hábito, adquirido há anos, de frequentar o entorno do espelho d’água nas semanas seguintes à inauguração da atração. Religiosamente às 19h45, hora em que as luzes da árvore são acesas, ele chega ao local e por lá permanece atento, ouvindo o que cariocas e turistas comentam sobre sua obra.

Foto: Guto Costa.
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Árvore de Natal da Lagoa Rodrigo de Freitas 2014.

“É nesse momento que tiro ideias para o projeto seguinte. Quem pensa nas melhorias para a árvore são os visitantes. Eu ouço o que cada um deseja e tento executar.”, diz Abel.

Foi fingindo ser um mero espectador que, há dez anos, ele decidiu que as luzinhas pisca-pisca em volta da árvore não teriam apenas uma cor. Como forma de torná-la mais moderna, foi implantado um sistema automático que, a cada cinco segundos, a deixava toda acesa numa cor diferente. Um dia após a inauguração, lá estava ele atento aos comentários.

“A nova ideia agradou aos visitantes, mas percebi que cinco segundos eram pouco tempo para tirar uma foto. No projeto seguinte, decidi que cada fase duraria um tempo maior. E assim a árvore foi aprimorada.”, explica o empresário.

Se hoje é possível trabalhar vários elementos na cenografia como painéis eletrônicos e luzes de LED, Abel é crítico em dizer que a cenografia no Brasil está um pouco banalizada. “Na minha visão, estão usando LED para tudo, e isso não é legal. Certa vez, vi uma Árvore de Natal em Belo Horizonte com tanta luz que parecia um outdoor luminoso.”, conta.

“Posso fazer qualquer objeto, qualquer escultura, não há limites. Certa vez, criei um Cristo Redentor de 20 metros de altura para uma loja de departamentos de Londres. Em outra ocasião, me pediram uma réplica de um prédio da região da Central. Quando posso fabricar o que quero e da maneira de que gosto, consigo fazer qualquer cenário capaz de agradar ao público.”, afirma Abel.

Em seu escritório, chama a atenção uma máquina de café vintage, usada apenas como objeto de decoração, já que ele não sabe nem como se liga o aparelho. Também se destacam seis réplicas de aviões monomotores. Aliás, Abel tem mais de três mil horas de voo pilotando monomotores.

“Voar para mim é terapia. Durmo com a ajuda de remédio, pois tenho dificuldade para me desligar do trabalho. Amo o que faço, por isso dedico quase todo o meu tempo a ele.”

Quem o ajuda no dia a dia da empresa é o filho Flávio, e a diretora e produtora Sheila Roza, sua segunda mulher, com quem está casado há mais de 30 anos. “Agradeço a Deus por tudo que conquistei, porque cresci imaginando que um dia ia fabricar sonhos.”