“Minha primeira experiência em publicidade foi na McCann Erickson. Cheguei lá como estagiário, fui recebido, e, quando perguntado se era redator ou diretor de arte, disse que fazia as duas coisas (sic).
Na hora, a Patrícia disse que já sabia então onde eu deveria ficar: fui parar na sala onde ficava a dupla de Promoção (e eu nem sabia o que era isso…rs). O Othon (Teobaldo Ferreira) era o diretor de Arte e o Dirceuzinho (Dirceu Fernandes) era o redator.
Eu cheguei lá no gás, ficava o dia todo, havia também uma estagiária que vinha só a tarde e no nosso primeiro papo ela já avisou que o pai dela era amigo pessoal do presidente da agência (Jens Olesen).
Ficou claro então pra mim que ali o lance era ralar e foi o que eu fiz. O contrato era por 2 meses e consegui que fosse prorrogado mais 2 vezes, o salário era de chorar, mas eu ficava encantado em estar ali e conhecer tanta gente incrível como o Percival, Cebola, Paulão, Dadá, Horta, e toda a galera da Criação, Conrado e o pessoal do estúdio, Marisa e toda a galera da finalização, Paulinho Manetta, Lu e o pessoal do Atendimento, Mr. Chenney e tantas outras pessoas. Ok, eu era só um estagiário, muitos nem sabiam ou faziam questão de saber quem eu era, mas eu estava ali era para saber quem eram eles…
O Othon e o Dirceu me receberam com carinho e gentileza, me ensinaram e ainda – pra meu deleite e para horror do status quo de uma agência – se revezavam usando-me como diretor de Arte e redator, até que sabiamente me questionaram o que eu queria fazer, e aí segui como diretor de Arte (mas nunca esqueci da redação – mesmo prolixa, verborrágica e sem botão de síntese rs).
Ao final de cada par de meses, eles pediam para a liderança que eu fosse contratado. Mas eles – pressionados por uma regra de não contratação – ofereciam apenas uma prorrogação do contrato de estágio e foi assim que cheguei ao final de 6 meses, com a alegria de ver mais um pedido de efetivação assinado por outros diretores e num papo franco com o Perci, que dizia ter recebido boas informações minhas, mas que estava impossibilitado de me contratar, tive que – com uma dor no coração – abrir mão de mais uma prorrogação do estágio, porque depois de 6 meses e com a ajuda de custo que eu recebia, eu já estava falido.
Foram o Othon e o Dirceu que me fizeram conhecer esta indústria incrível da comunicação e foi deles também uma conversa definitiva e sem papas na língua onde me perguntaram: “Você quer ser mais um na publicidade ou tentar ser alguém na área promocional?” Ficou clara minha decisão!
Ao Othon e ao Dirceu, que infelizmente faz muito tempo que não os vejo e nem sei por onde estão, eu queria deixar registrado aqui o meu profundo agradecimento pelos profissionais e seres humanos fantásticos que foram comigo e sei que também com outras pessoas.
Não dá pra esquecer do Othon falando do seu rancho ou do Dirceuzinho fumando seu cachimbo, como também não posso deixar de lembrar que eram profissionais vividos, premiados, excelentes no que faziam, tinham uma posição na maior agência de publicidade da época, mas ainda tinham tempo para pegar na mão de um jovem iniciante e indicar o caminho pra seguir. E eu segui.
Espero vê-los algum dia, se alguém souber deles por favor me avise, porque é importante poder dizer a eles como foram importantes na construção do profissional e Ser humano que eu sou. A eles devo o start, a área que abracei e o exemplo de como pensar em deixar como legado não apenas projetos, mas pessoas”.
Foi procurando um insight para essa coluna de número 51, que pude ver como soava estranho que a marca mais associada a conceito de uma grande sacada fosse uma bebida: há mais de 40 anos, a gente associa a Cachaça 51 a uma boa ideia. E podemos esperar o quanto essa marca forte em um mercado cada vez mais disputado e exigente, seja sempre lembrada pelo seu famoso slogan: uma dessas criações geniais que colam no produto e se fundem com ele, caindo na voz do povo, se transformando em bordão e valorizando a marca e o produto de uma forma inquestionável.
Pouca gente sabe, porém, que quem criou esse slogan foi a ex publicitária Magy Imoberdorf, hoje artista plástica, e que lembrando da história, revela que “Nos primeiros cinco anos, eles não sabiam que era uma mulher que tinha bolado a frase, pois a campanha não podia se relacionar com mulheres ou religião.”
Ok, tudo isso choca comparado com a mudança brutal dos nossos costumes, mas a ironia não está só ai, está também no fato de que justamente uma aguardente – sabiamente um ótimo agente para não nos lembrarmos de nada rs – tenha um slogan daqueles inesquecíveis, com alto poder de fixação na memória e que hoje dificilmente se descolaria da marca ou da nossa mente.
Porque você não precisa sair fora de si para ter boas ideias e elas também podem ser algo simples. Também não são extraterrestres todos aqueles caras geniais que a gente admira ou que nos assombraram com sua criatividade. Ainda vivemos no mesmo planeta, porque não falar com eles?
É aqui que eu conecto estas três partes aparentemente desconectadas desta coluna: minha história com a 51 e a Área 51: eu apresento a vocês o Projeto Monday To Thank (Segundas-feiras para Agradecer), ) #mtt.
A “boa ideia” é justamente criar um costume (inspirado no #tbt – Throwback Thursday). Só que para falarmos o quanto algumas pessoas foram e são importantes para nós, seja em termos pessoais, acadêmicos ou profissionais.
Como já falado no texto da última coluna, a intenção é deixar marcado um depoimento que homenageie, aproxime, relate ou se faça chegar às pessoas que merecem saber o quanto foram especiais e que possamos fazer isso ainda em vida: na nossa e na delas.
Afinal, agradecer não é algo de outro planeta, escondido dentro de uma base secreta e a gente nem precisa tomar uma dose de 51 para isso.
Por Dil Mota.