Por décadas, Burning Man representou uma fuga da realidade atual. Um evento para espíritos livres repensarem ideais da nova Era dentro de uma entidade apátrida onde arte, música e festas reinam supremos nas planícies do deserto.
Ao longo dos anos, o evento fundado pela Bay Area tem lidado com um embate interno à medida que o encontro de Black Rock City cresceu e atraiu a rica classe tecnológica do Vale do Silício, e, com ela, vieram algumas “providências”, que aos poucos descaracterizaram o festival como acampamentos com ar-condicionado, helicópteros e jantares de lagosta.
O melhor do entretenimento está aqui.
Confira as últimas novidades sobre digital e tecnologia aqui.
Agora, sob a sombra de uma pandemia histórica, a chama do gigante não passa de uma tênue labareda, a organização tenta apagar o grande incêndio nas finanças.
A aposta dos organizadores do mais exótico, icônico e emblemático evento dos nossos tempos será numa edição no saturado e pasteurizado ambiente digital.
Com isso tenta, por meio de ações pro bono, proporcionar experiência em realidade virtual, blockchain, hipnotismo e teatro imersivo para recriar a atmosfera do Burning Man.
A promessa é de um “movimento sem precedentes”, o que é impossível para um evento que a mera existência já desafia os precedentes.
Burning Man é experiência social compartilhada, impossível de ser replicada em outros lugares físicos. Talvez seja uma das poucas iniciativas em que não é possível transmitir qualquer emoção que se compare à simples presença no deserto, assistindo à grande queima da última noite.
Second Life volta e tenta dar novo fôlego para o evento
Logo após Steven Blumenfeld, CTO do Burning Man e Kim Cook, diretor de arte e engajamento, anunciarem a versão virtual, mais de 14.000 pessoas se apresentaram para contribuir de alguma forma para a iniciativa. Entre elas, representantes de empresas dispostas a criar experiências virtuais em troca de tornarem-se marcas oficiais do evento.
Apesar de uma situação financeira precária, os organizadores recusaram a ajuda desses patrocinadores, avaliando que a infiltração corporativa no evento, com publicidade, exibição e ativações de marcas poderiam ser o golpe fatal na imagem do Burning Man.
Em sentido contrário, passaram a construir uma rede de pequenas equipes cheias de “Burners” dispostos a desenvolver as experiências digitais oficiais motivados por sua paixão pelo evento.
Nenhum deles foi pago na construção desses aplicativos. No entanto, a organização deu a eles licenças perpétuas para continuar operando essas plataformas digitais com o nome Burning Man e uma opção de monetização, transferindo uma porcentagem dos lucros para a organização.
Oito projetos tentarão proporcionar as emoções do deserto. Enquanto alguns concentram seus esforços em realidade virtual, outros adicionam camadas sociais ao bate-papo por vídeo ou constroem ambientes 3D em cima de plataformas existentes, como a Second Life ou a Microsoft AltspaceVR.
Expectativas de acesso
A maior incógnita paira sobre quantos visitantes vão aparecer neste ambiente virtual. Enquanto o COO Blumenfeld espera atrair até 30.000 pessoas durante seus nove dias de duração, o desenvolvedor de um dos ambientes, Ghazanfari, espera que centenas de milhares entrem na sua experiência.
Outro ponto nebuloso é como os grupos planejam monetizar essas experiências digitais.
Em 2020, o preço padrão do bilhete para Burning Man foi de US$ 475. A organização adiou a “venda principal” de ingressos antes do cancelamento do evento físico deste ano, mas eles já haviam vendido dezenas de milhares de ingressos.
Os portadores de ingressos terão a opção de serem reembolsados, mas a organização encorajou aqueles que “têm dinheiro” a fazerem uma doação total ou parcial do valor pago pelo ingresso.
Enquanto algumas das experiências pretendem dar acesso livre, outros comunicaram que os usuários precisarão pagar uma taxa de US$ 50 para acessar a experiência virtual.
Ideal seria um bilhete digital único que daria aos participantes acesso a todas as oito experiências digitais, mas devido à diferença entre os códigos — com alguns sendo construídos como aplicativos nativos, outros em HTML5 e outros dentro das plataformas tecnológicas existentes — significa que uma plataforma unificada de bilhetagem simplesmente não funcionará.
Também não será possível obter um grande numero de visitantes em uma única URL, pois as oito experiências possuem acessos distintos, e, no caso de sucesso, com milhões de visitantes, os desenvolvedores estão preocupados com sobrecarga em seus servidores, que poderá derrubá-los ou deixá-los lentos, frustrando os visitantes.
Incerteza financeira
Em 2018, a produção do Burning Man custou US$ 44 milhões de acordo com documentos fiscais. O Burning Man Project reportou cerca de US$ 43 milhões em vendas de ingressos desse evento, além de outras doações e fluxos de receita, elevando a receita total da organização sem fins lucrativos para cerca de US$ 46 milhões.
Para 2020, os organizadores informaram em seu blog que, embora o grupo tivesse seguro do evento, eles não estavam cobertos por um cancelamento causado por uma pandemia.
O Burning Man Project diz que tem US$ 10 milhões em reservas de dinheiro, mas que prevê drenar esse financiamento até o final do ano para se manter em funcionamento.
A organização está listada como beneficiária de um empréstimo do Programa de Proteção do governo americano recebendo entre 2 e 5 milhões de dólares.
Burning Man tem cobertura do Promoview desde 2007. Veja aqui.