Desde a reforma ortográfica que ao digitar a palavra ideia e não acentuá-la, eu sinto que deixei algo faltando. Talvez fosse um simples acento, mas na realidade e que me perdoe os outros países de Língua Portuguesa, eu não acho que a gente precisava de forma alguma unificar grafias e construir uma unicidade de língua, quando ela precisa honrar e valorizar as características específicas de cada país, do seu próprio jeito e não cabe aqui qualquer tipo de julgamento.
Ouvir uma música ou um poema escrito com português de outro país é uma descoberta de significados, grafias e sonoridades. Ajudando-nos a entender o que vêm de Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, além claro de Portugal e do nosso país.
A gente demora tanto tempo para escrever direito, pra vir alguém e mudar as regras para termos que reaprender de novo. Tirar o acento da palavra ideia foi apenas o prenúncio de algo que depois ficou mais forte quando tivemos que mudar todo o sistema de tomadas elétricas, porque também precisávamos mostrar ao mundo que tínhamos nossa própria tomada (sic).
Mas desabafos à parte, eu queria falar de ideia com acento e sem acento. Porque independentemente de escrever do jeito atual ou no antigo, vamos falar de ideia que se escreve, se acentua, se sente, se desenha, se significa ou simplesmente aquelas que a gente aceita, acata e aplica a regra, e não vai passar disto.
A gente vive um contexto onde obviamente as ideias estão aí, no ar, ao nosso lado e convivendo diariamente com a gente, mas se não tivermos a ousadia de contrariar regras, de sermos contestadores, incomodados, quebrarmos barreiras, sermos disruptivos ou como eu costumo dizer: inconformados, simplesmente continuaremos a usar uma ideia xôxa, sem acento, sem maiúsculas, sem ponto, vírgula ou aspas… algo que qualquer um poderia ter feito, um conceito que pode trazer consenso, mas que passará longe de ser brilhante, inovar, gerar encantamento ou se destacar. Resumindo: uma ideia sem acento.
Experimente por um acento na ideia por uma metafórica forma de discordar de regras estranhas, para ver um briefing de outra forma, para discordar quanto todo mundo pensa numa linha só, para ver um outro lado, para experimentar outra versão, para estudar novos formatos, para buscar soluções em caminhos menos óbvios ou quem sabe nos tortos.
Traga para suas reuniões de brainstorming ou de inspiring uma pergunta matadora feita ao final de uma linha consensual: “Esta ideia tem acento?”.
Que acento, muito menos do que um sinal gráfico, traga o valor da diferenciação, do brilho e às vezes de um simples detalhe que faça a diferença.
Há muitos anos atrás, em uma agência da qual era diretor de Criação, passamos por uma situação interessante quando perdemos algumas concorrências para uma agência do Chile. Como um brasileiro que quer sua própria tomada ou valorizar sua língua, ficamos indignados e fomos tentar entender porque eles estavam conseguindo emplacar conceitos melhores do que os nossos.
Descobrimos que por não dominarem o português, eles eram mais objetivos, diretos e começavam o conceito pelo básico. Justamente aquilo que a gente “passa batido” quando conhece tanto um assunto ou nossa própria língua. Foi daí em diante que definimos como checking final de criação, aplicarmos uma lente que tinha o nome da agência chilena e era um convite para vermos se estávamos esquecendo de falar aquilo que para nós seria óbvio ou subentendido, mas que numa comunicação muitas vezes faz muita falta.
Buscar ideias com acento, aplicar uma lente de double checking no que estamos criando, construindo ou inovando não é tão óbvio assim. Precisa de treino, foco, disciplina, e, principalmente, de processo.
Já disse nas outras colunas e repito, dá para trabalharmos juntos nisso! O Projeto TheThingThinkers é uma realidade e só estou esperando você, para acentuarmos juntos a ideia, o voo e definirmos claramente quando “para é para parar” rs ou um convite para ir mais longe.
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