O #MTT (MondayToThank) de hoje vai para o exemplo e inspiração de todos aqueles que estão se esforçando para se adaptar às novas rotinas.
Dos que seguem em home office, com demandas maiores ou diferentes, reduções, acréscimos e uma dinâmica muito diferente do que tinham.
Gratidão aos que souberam conduzir seus negócios e empresas, se adaptando e gerando o menor impacto possível aos seus.
Um grandíssimo obrigado aos que buscam caminhos de ajuda, de correção de rotas, de ajuste de acordos e buscam assim um mundo mais justo e em todos os sentidos. E uma especial homenagem a todos aqueles que estão sem as suas ocupações, buscando opções, desenhando cenários ou simplesmente convivendo com uma grande e inexplicável abstinência e é dela que eu queria falar logo abaixo.
Por muito tempo, ela agia como um reloginho. Daqueles movido a uma pilha atômica ou uma Duracell de carga infinita que não tirava dela nenhum pingo de energia.
Sempre tinha um ar risonho e a toda prova, tinha resposta para tudo e não havia problema que depois de um breve suspiro não encontrasse nela a vontade necessária para resolvê-lo.
Foram muitas empresas nos últimos anos, muitas coisas também haviam acontecido em sua vida, um vendaval de mudanças, perdas, ganhos e grandes questionamentos. Mas hoje, mais tranquila, numa vida igualmente mais tranquila, vivia um conto de fadas. Ainda mais para alguém que duvidava que coisas assim acontecessem.
Queria conseguir deixar toda aquela loucura do dia a dia realmente para trás, mas sentia falta, mesmo se ocupando o dia todo com suas coisas. Tinha se tornado uma artista de mão cheia, fazia coisas lindas que eram vendidas imediatamente. Cozinhava cada vez melhor, tinha aprendido outros afazeres e hoje se surpreendia com a facilidade de aprendizagem e qualidade de tudo aquilo que fazia. Não tinha como não dizer que sua qualidade de vida era infinitamente maior. Até um grande amor achou tempo para ter.
Questionava-se fortemente porque ainda sentia um certo vazio. Parecia que tudo aquilo era pouco, faltava algo a mais e foi aí que contando e recontando seus causos, foi falar com um velho amigo. Daqueles que em duas ou três palavras, resumem de uma forma tão clara as coisas que parecia que ele a estava lendo por dentro.
Ele chamou tudo isso de saudades.
Mas ela questionou do quê, se muitas lembranças não eram as mais felizes. Havia sido vítima de pressões, más palavras, maus hábitos, pouco profissionalismo e isso lhe tinha trazido problemas de saúde, além de questionamentos fortes de quem era de verdade.
O amigo completou: “Você está sentindo falta de pequenas vitórias”. E antes que ela o interrompesse veementemente com o seu costumeiro questionamento, ele completou:
“Quando a gente sai de uma vida assim tão corrida, complexa e conturbada, a gente sai viciado e intoxicado. Você precisa urgentemente de um detox e de um rehab.” E com uma longa gargalhada, buscou logo aliviar a mensagem que parecia não ter importância, mas tinha e muita.
E continuou: “Nossa vida corrida é feita de pequenas e inúmeras vitórias pessoais todos os dias. Vencemos o sono, a necessidade de atividade física, o café mais frugal do que desejava, o transporte, o mal humor das pessoas pela manhã e a lista surreal de “To do’s” de todos os dia.” E já no pessoal, disse que ela:
Vencia cada tarefa que vitoriosa “tickava” na agenda cheia, como a neurolinguística dizia e sentia aquela descarga de dopamina que o curso de neurociências também havia ensinado.
Vencia ao reagendar um compromisso.
Vencia quando alguém a agradecia.
Vencia quando achava um tempo para ir ao banheiro.
Vencia quando achava tempo para um cigarro, imagine então comer aquele brigadeiro ali da esquina.
Vencia quando conseguia participar de todas as reuniões e calls.
Vencia quando anotava tudo certinho e em uma letra que depois compreendia.
Vencia quando atendia várias ligações ao mesmo tempo e quando anotava todos os recados e pendências que tinha.
Vencia quando lembrava ao chefe daquilo que ele não lembrava e quando um tapinha nas costas recebia.
Vencia também quando dava um carinho rápido para aquela pessoa que não parecia estar num bom dia, enquanto dividiam um curto break para um café.
Vencia tantas provas, corridas, sets, tempos, rounds e tantas coisas no mesmo dia, que havia ficado viciada em vencer.
Eram pequenas vitórias, mas imagine o tamanho do pódio que ela subia quando dava uma roubada no pouco tempo que tinha e em uma fuga cinematográfica ia para o shopping comprar algumas coisas pra si. Não que precisasse, mas se premiar era tudo aquilo que mais queria.
No fundo, ser uma vencedora ela já sabia. Pois era só relatar o dia a dia para alguém, que arregalavam os olhos e surpresos perguntavam como é que isso podia?
E hoje, sem a sua dose de pequenas vitórias diárias, se sentia incompleta. Sem a sequência de provas cotidianas, não se sentia intimamente desafiada e sem o direito ao doce sabor das pequenas vitórias e isso pegava na sua lembrança.
É claro que hoje ela também se sentia vitoriosa. A vida lhe havia sorrido com coisas muito boas, mas comparadas com a maratona, Olimpíada, Copa do Mundo, Campeonato Mundial de Fórmula 1 ou batalha que tinha todos os dias, ela pareciam poucas.
Eram importantes, mas sem as quantidades gigantes de todas aquelas “inas” (endorfina, dopamina, serotonina, oxitocina, adrenalina e outros hormônios) que ela havia sido sistematicamente acostumada a conviver.
E no decorrer dos dias, entendeu que cada parte deles teriam que ser pautadas por uma prova, uma tarefa, um lembrete numa agenda e que ela vibrasse muito a cada vez que a cumprisse, configurando assim aquele sabor conhecido da vitória.
E foi assim, se pautando de um jeito diferente, mas condicionando a si própria a encontrar desafios, metas e recordes a serem superados, que reencontrou a guerreira, quebradora de recordes, atleta exemplar, ás do volante, a genial, incrível e super heroína que ela sempre acreditou que fosse.
Não eram os superpoderes que haviam determinado, eram os vilões e agora era só ela consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor que se importava.
Respirou profundamente, se carregou das melhores expectativas e mesmo com um cenário um tanto complexo disse pra si mesmo que iria pautar seus dias, a começar pelo sentido pleno de seu recomeço, buscando sentido e propósito a tudo que faz e a tudo o que fazia.
Criou uma agenda num caderno amarelado e ali anotava tudo e todos os dias. Não importava se era arrumar a gaveta de meias ou ligar para um possível negócio, respeitosamente anotava tudo e tinha um prazer quase orgásmico ao riscar a tarefa e entender que ela havia sido cumprida. Ali estava a vitória que tanto queria.
Abriu aleatoriamente uma página na rede social e ali estava e todo bendito dia: uma Pauta do Dia. Seguiu-a como diversão e como uma forma de trazer tarefas para sua agenda, mas hoje ela é só a primeira, aquela logo no comecinho do dia.
(Pauta do Dia é um post feito diariamente desde os primeiros momentos da quarentena e que busca trazer verbos e atitudes que na sua aparente simplicidade ou desimportância, buscam criar exercícios para as pessoas se reconstruirem por meio de pequenas vitórias – porque elas realmente existem – e são construídas das mais simples tarefas aos mais loucos sonhos todos os dias).