Agências

Censo mostra baixa diversidade nos níveis mais altos das agências

O estudo é assinado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP) em parceria com a Gestão Kairós.

O mais recente estudo do Censo de Diversidade das Agências Brasileiras mostrou uma estatística que muitos já sabem, mas fingem não saber: quanto maior o cargo, menor o nível da diversidade dos trabalhadores na área da publicidade.

O estudo é assinado pelo Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP), entidade setorial fruto da união de agências para construção de metas para acelerar a inclusão de grupos sub-representados no setor, em parceria com a Gestão Kairós.

Os dados demonstram a composição das empresas do setor desde o quadro geral de funcionários, com ênfase em lideranças, incluindo gerências e presidências. Para isso, o diagnóstico contou com um público total de 28 agências, entre as fundadoras e apoiadores que compõem o observatório. Assim, a amostragem de participação chegou a cerca de 6.266 funcionários.

]Ao pesquisar os postos de decisão, o censo demonstrou um cenário com acentuada disparidade de gênero. Conforme o estudo, homens representam 85% dos cargos de CEO e as mulheres são apenas15%. Ao todo, participaram da pesquisa 13 profissionais.

Os postos de trabalho de gerência e acima, por outro lado, possuem um equilíbrio maior, com 50,2% de homens e 49,8% de mulheres. Já na macrovisão demográfica, que inclui todos os funcionários nas mais diferentes funções, mulheres são maioria no setor publicitário, correspondendo a 57% do número.

Graficos-mostram percentual de homens e mulheres nas agências (Fonte: ODP e Gestão Kairós)

Cor da diversidade

Os autodeclarados brancos ocupam 92% dos cargos de CEO, enquanto que os negros correspondem somente a 8% das presidências. Entre pesquisadas, nenhuma agência tinha uma mulher negra no comando mais alto.

Além disso, segundo o diagnóstico, brancos também são maioria na gerência e acima, chegando a 88%. Nesse ambiente de hierarquia, os negros são 10,3% – ou seja, oito vezes menor do que de brancos. As mulheres negras possuem somente 4,6% de representatividade nesses cargos.

Na visão geral, por sua vez, o censo mostrou que brancos representam 68% do quadro e negros 30% – dentro desse grupo, as mulheres negras têm 21% de percentual. Além disso, amarelos e indígenas correspondem a aproximadamente 1%.

Brancos e negros na publicidade
Percentuais de brancos e negros na publicidade, segundo o Censo de Diversidade (Fonte: ODP e Gestão Kairós)

Entre os CEOs, o estudo apontou que não existia nenhuma representatividade de pessoas com deficiência (PCDs). A ausência de pessoas com deficiência também é grande na gerência das agências, com apenas 0,7% das autodeclarações.

A macrovisão demográfica mostrou que o cenário é preocupante e desafiador, tendo em vista que as agências contabilizam 1,6% de colaboradores PCDs. No entanto, o dado conflita com a legislação brasileira, que determina, na Lei Nº 8.213/91, que empresas com 100 ou mais empregados é obrigada a preencher, proporcionalmente, de 2% a 5% dos cargos com pessoas que deficiência.

Mulheres negras e pessoas com deficiência na publicidade
Gráficos mostram percentuais de mulheres negras e de PCDs nas agências (Fonte: ODP e Gestão Kairós)

Mais diversidade

O censo também comprovou a baixa participação da comunidade LGBTQIAP+ no comando das agências de propaganda – com 8% os CEOs se declarando homossexuais. Porém, o levantamento não trouxe camadas de interseccionalidade.

Por falta de dados específicos nas bases das empresas, as informações sobre lésbicas, gays, bissexuais e pessoas transgênero foram calculados sem separação metodológica. Logo, o censo não conseguiu apontar “os desafios da diversidade sexual no setor publicitário, principalmente quanto às pessoas transgênero (travestis e transexuais)”.

Entre as posições de gerência e acima, os profissionais LGBTQIAP+ correspondem a 16,2%. Já no quadro geral de funcionários, o percentual chega 24%.

LGBTs e 50 anos ou mais na publicidade
Percentual de profissionais LGBTQIAP+ e da faixa etária de 50 anos ou mais (Fonte: ODP e Gestão Kairós)

Por fim, do que diz respeito à diversidade geracional, um ponto também levantado pelo censo, 23% dos CEOs têm 50 anos ou mais. Na gerência, as pessoas dessa faixa etária ocupam 6% dos cargos, o que, de acordo com a análise, representa uma inversão ao que, normalmente, ocorre em outras áreas, em que essas posições são ocupadas por pessoas mais experientes. Além disso, na macrovisão geral, o percentual cai para 5%, percentual que se relaciona diretamente com a sinalização da liderança sobre o etarismo presente no setor, conforme o texto.

Análise qualitativa

Resultado do processo de entrevistas em profundidade, o diagnóstico apontou que existe transparência da liderança em falar sobre os números das suas respectivas agências, sendo um “bom diagnóstico de que diversidade e inclusão são temas essenciais para o discurso e prática de executivos e executivas do setor”.

Ao contrário disso, o levantamento mostrou que há também uma recorrência de críticas sobre o perfil da publicidade como um todo. O setor ainda tende a reter informações e melhores práticas, principalmente aquelas relacionadas à diversidade e inclusão. De acordo com o texto, esses fatores um entrave no fortalecimento e engajamento das agências.

“Um dos principais resultados deste trabalho é a autopercepção das principais lideranças de agências como sendo – em suas próprias palavras – ‘historicamente regionalista, etarista e que tem uma dívida com a inclusão racial’, pois exportam serviços de comunicação do eixo Sudeste/Sul para todo o País sem, de fato, representar a diversidade do País em suas estruturas”, afirma o censo.

(Este post é inspirado na matéria de Caio Fulgêncio, do site Meio E Mensagem)