Faltando apenas um dia para a abertura das Olimpíadas, um dos assuntos mais comentados é o uniforme do time Brasil criado pela Riachuelo. A patrocinadora oficial tem sofrido uma enxurrada de críticas e a opinião popular é que o traje não ficou à altura do evento. O contraste com as altas grifes dos outros países acentuou a discussão e o silêncio da marca — que passou a ignorar comentários no Instagram nos primeiros dias de crítica — não colaborou.
No lançamento oficial das peças, Gustavo Herbetta, Diretor de Marketing do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), revelou que a parceria com a Riachuelo se alinha perfeitamente com o que seria considerado “disruptivo” para o COB. No entanto, para os internautas a coleção de roupas exala simplicidade, o que não consideram adequado para a ocasião, ainda mais quando comparado com os de outros países.
Os uniformes da abertura, compostos por camisetas que fazem alusão às cores da bandeira, saia midi branca, calças da mesma cor, Havaianas e jaquetas jeans de lavagem escura com bordados feitos à mão pelas bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, uma cidade no semiárido do Rio Grande do Norte, foram apresentados como uma representação da moda brasileira.
Após isso, a marca começou a receber críticas, tanto dos consumidores quanto de celebridades, que falavam sobre a ausência de criatividade e representatividade, além da própria escolha do COB de escolher uma fast fashion ao invés de uma marca nacional e autoral. “Acho que o look representa exatamente como o atleta é tratado no país. Sem estrutura, sem oportunidades, desvalorizado. O atleta no Brasil é um grande vencedor só por resistir na decisão de ser atleta”, disse a cantora Anitta em uma rede social.
Apesar das cobranças dos internautas para a Riachuelo, o maior incômodo não foi com a marca em si, e sim com a falta de conceito nas peças. Sendo o Brasil um país repleto de cultura em todas as suas cinco regiões, para as pessoas as roupas não representam nem uma delas sequer.
Brasilidade
Com a polêmica, muitos internautas começaram a solicitar a intervenção de outras marcas brasileiras, como a Farm e a Dendezeiro. Com a hashtag #UniformeDendezeiro em alta, a marca baiana fez um pronunciamento oficial, se oferecendo para criar um novo uniforme em tempo recorde. No entanto, sem receber resposta, e atendendo aos pedidos dos consumidores, a Dendezeiro anunciou que faria uma coleção não oficial de uniformes para o Brasil.
A resposta
Com as horas contadas para a cerimônia de abertura, a marca se pronunciou sobre as críticas que vem recebido pela primeira vez. Em entrevista à Veja, Cathyelle Schroeder, CMO da Riachuelo, esclareceu como tem sido lidar com os comentários.
“Nossa política como empresa é ouvir e acolher. Esse trabalho envolveu diretamente cerca de quinhentas famílias, ao longo de dois anos, desde criação, costura, modelagem, corte, embalagem, transporte, controle de qualidade, bordado… Fizemos tudo com amor e paixão para fazer acontecer. Quando as críticas chegam, nosso papel é ouvir”, disse.
Ela ainda comentou sobre a representatividade nas peças, e explicou que a brasilidade se dá ao fato de que cada jaqueta é única, pois foi bordada por uma pessoa diferente.
“São bordadeiras no semiárido nordestino, de uma minúscula cidade do Rio Grande do Norte, chamada Timbaú dos Batistas, com apenas 2.300 habitantes. Foram oitenta mulheres trabalhando nisso”, explicou.
Além da marca, o COB também se pronunciou, demonstrando apoio ao uniforme que os atletas irão usar na sexta-feira (26). Paulo Wanderley, presidente do Comitê, afirmou que o feedback da delegação brasileira foi positivo.
”Não é Paris Fashion Week, são os Jogos Olímpicos. Então nosso foco está nisso. A gente sempre tem comentários excelentes, basta ver os vídeos dos próprios atletas nas redes sociais”, declarou.
De fato, os Jogos Olímpicos nunca geraram tanto interesse pelos uniformes como agora. Desde o anúncio da sede em Paris, considerado o berço da moda, até o patrocínio de marcas renomadas em cada delegação, como Puma, Adidas, Ralph Lauren, Berluti, Armani, entre outras, a expectativa sobre o que poderia ser feito para o Brasil aumentou consideravelmente.
As pessoas queriam ver os atletas que representam o país de cabeça erguida e vestidos de forma adequada. Por melhor que seja a intenção da mensagem da marca, os comentários do público deixam claro que a comunicação entre a marca e as pessoas falhou.