A Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), em parceria com o Laboratório de Estudos em Sustentabilidade e Turismo da Universidade de Brasília (LETS/UnB), promoveu mais uma pesquisa entre os seus associados para medir os impactos na pandemia do Covid-19 no negócio das operadoras de turismo ao longo do mês de abril.
Um dos fatores preponderantes para essa estimativa de perda de faturamento em abril, é que a maioria das empresas (54%) não realizou nenhuma venda no mês, número superior aos 45% que não tinham tido comercialização no mês de março.
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Entre as empresas que comercializaram viagens, apenas 24% venderam produtos com embarques até julho, 93% delas tiveram vendas com embarque para o segundo semestre e 84% para 2021.
Dessas-vendas, 64% das empresas registraram 90% ou mais do faturamento em viagens nacionais, o que confirma a tendência de que as vendas do turismo doméstico serão mais beneficiadas em 2020.
Mesmo com vendas, o faturamento registrado no mês de abril não representou nem 10% do mesmo período de 2019, segundo 80% das empresas, o que representa cerca de R$ 1,08 bi.
As dificuldades advindas da pandemia se agravam com valorização do dólar e com a recente notícia de que o IRRF sobre remessas, para países que não fazem parte do tratado de bitributação, foi para 25%, com o veto da redução que estava sendo tratado na MP907.
Em meio a tantos desafios para o ano de 2020, a expectativa para este ano saiu de um crescimento para uma queda de faturamento das operadoras que pode ser de 7,7 a 11,3 bi, ou seja, entre 51 a 75 % do faturamento registrado em 2019 (R$ 15,1bi).
Vale destacar que para 48% das empresas houve um aumento de pedidos de cancelamento em relação a março. Enquanto 28% registraram cancelamentos constantes, 18% indicaram diminuição dos pedidos e apenas 5% não tiveram novas viagens canceladas.
Medidas para conter a crise
Em relação às ações tomadas para conter a crise, 100% das empresas pesquisadas lançaram mão de diferentes alternativas para reduzir custos, que passaram por renegociação de contratos com terceirizados (limpeza, contabilidade, TI etc.), redução proporcional de jornada de trabalho e de salário de equipes contratadas; diminuição do número de colaboradores internos, diminuição de estrutura física ou por suspensão temporária do contrato de trabalho. As demissões impactaram 760 colaboradores até abril.
Um agravante é a dificuldade de acesso às linhas de crédito com condições especiais. Das associadas, (39%) das operadoras de turismo buscaram crédito junto a instituições financeiras e 55% pretendem buscar. Entretanto, apenas 7,4% das empresas obtiveram os recursos financeiros solicitados.
Não obstante os desafios, 96% das empresas têm realizado esforços de marketing durante o distanciamento social, sendo expressivo o reforço de marca nas redes sociais (90%), seguido por envio de e-mail marketing (78%), realização de treinamentos on-line/webinars (76%) e contato telefônico/mensagem (72%). Entre outras ações (6%), aparecem: articulação com fornecedores, criação de produtos e visitas virtuais a clientes.
É importante também ressaltar o impacto econômico dessas viagens para os fornecedores (hotéis, pousadas, empresas de aluguel de veículos, entre outros) e para a economia local, já que os turistas consomem produtos e serviços não inclusos nas viagens, como alimentação, transporte, passeios extras, bares, presentes e artesanato, dentre outros, ajudando na geração de trabalho e renda nos destinos.
Nessa pesquisa, as operadoras estimam que a estagnação das atividades durante a pandemia já impactou ao menos 12 mil empresas que fornecem serviços turísticos, o que nos permite dimensionar melhor os impactos da crise em todo o setor, sobretudo aqueles que dependem diretamente da venda das operadoras.
Retomada das viagens
Considerando o cenário atual da pandemia, a maioria das empresas (58%) espera comercializar viagens nacionais no segundo semestre de 2020, enquanto 13% apontam para 2021.
Já em relação a viagens internacionais, 50% indica o segundo semestre e 42% apontam 2021, indicando uma retomada mais lenta para este mercado.
Os números indicam uma tendência que já é verificada no mercado europeu, que iniciou sua reabertura recentemente, com novas medidas de isolamento social.
Os consumidores tendem a buscar primeiramente as viagens nacionais, que dão maior segurança sanitária, e a retomada do turismo internacional será mais lenta, conforme ocorrerem as aberturas de fronteiras, houver mais estabilidade cambial e protocolos globais para garantir a segurança dos viajantes.
“Esses dados apresentam os impactos da pandemia sobre os operadores, ao lado de aspectos comerciais e de gestão voltados para a retomada após este difícil período. Fico contente de apoiar uma associação relevante como a Braztoa, sempre comprometida a gerar informações de qualidade, e, sobretudo, ações estratégicas para o turismo brasileiro.”, disse Helena Costa, professora associada do Departamento de Administração da Universidade de Brasília, doutora em Desenvolvimento Sustentável, mestre em Turismo e Líder do Laboratório de Estudos de Turismo e Sustentabilidade da UNB.