Sim, há uma crise lá fora. Guarde o ‘mimimi’ político para outra oportunidade, pois este texto não se preza a isso.
Independente de sua visão política e do que ela atribua como a causa dessa retranca econômica, a crise é real e já tem afetado a vida de centenas de milhares de brasileiros por meio do desemprego e do aumento da inflação e do custo de vida.
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Por mais verborragia partidária que se destile nas redes, a realidade do empreendedor é uma só e reside na necessidade de se reinventar diariamente. O cenário político é indefinido, a tributação é excessiva e a desconfiança econômica aumenta na mesma medida em que a credibilidade de nossos representantes – todos, indistintamente – corre pelo ralo.
Empresas estão cortando na carne – leia-se ‘demissão’ – para tornar o próprio ‘barco’ mais manejável durante a tempestade. E isso tem requerido do empreendedor mola mestra de qualquer economia, um exercício de autoliderança e automotivação em níveis talvez pouco experimentados na trajetória de muitos.
Certa vez, quando saí de uma função técnica e passei a ser o principal executivo à frente de um novo negócio, comentei com um amigo empresário o quão difícil era montar uma empresa. De um jeito simples, ele respondeu ao inocente interlocutor que tentava impressionar:
– Pois é… eu estou há 20 anos montando a minha. Todo dia eu chego aqui pela manhã e encontro uma realidade nova, que me obriga a correr durante o dia que ainda está no início e tentar deixar a empresa o mais perto possível da necessidade que o mercado exige neste dia. Ao final do dia, percebemos o quanto conseguimos fazer isso, reconhecendo os erros e acertos e o quanto conseguimos avançar. Vamos pra casa cansados, dormimos, e, no dia seguinte, quando chegamos na empresa, temos que montá-la mais uma vez. Empreender é isso, meu caro…
Viver no limite. Essa é a sensação que todo empreendedor tem, especialmente em cenários desafiadores e volúveis como o nosso. No Brasil aprende-se resiliência na marra, e, para tanto, é preciso incorporar atitudes e comportamentos que nos façam ir além, mesmo quando seja necessário reinventar a estrutura do nosso negócio – quando não o próprio negócio – para seguir em frente mesmo quando os fatos que a crise e as mudanças decorrentes dela começam a bater em nossa porta e em nosso emocional.
Se o desespero insistir em bater, visite um pouco a sua história e relembre o que o fez seguir adiante em cenários de crise e de mudanças. Reforce o seu legado, a visualização criativa dos resultados que você quer construir e o impacto pelos quais deseja ser lembrado.
É natural, no desespero, optarmos por viver apenas o hoje, parando pra ver no que vai dar. Porém, diante da onda, quem para pra ver no que vai dar, acaba dando onde não quer. Ou, como bem disse o premier britânico Winston Churchill, um cabra que geriu algumas crisezinhas por aí, do tipo 2ª Guerra Mundial, “Se estiver atravessando o inferno, não pare”. Por uma razão óbvia: quem para durante a crise, derrete. Keep walking, amigo. Keep walking.
Sim, temos que nos preocupar com os efeitos, tais como perda de lucratividade, redimensionamento, entre outros. Mas nunca, nunca mesmo, esqueça a causa. Por quê, há pouco, eu disse para você visitar sua história, começando pelo início do seu negócio? Apenas para lembrar-se da seguinte questão: foi fácil? Certamente que não. Ainda mais se você sobreviveu à terrível estatística da mortalidade empresarial brasileira, aquela que resumidamente dá como certo que em média apenas duas entre dez empresas sobrevivem aos primeiros dois anos de sua existência.
Keep walking, continue a nadar, bata três vezes na madeira para espantar a uruca, dê um gole pro santo, mas não pare! Que 2016 seja um ano de reinvenção plena a você e ao seu negócio. E que cada qual de nós, dentro dos papéis que desempenhamos no trabalho e na vida, possamos ajudar a reinventar este nosso tão maltratado País.