Na Escuta #28

Brand experience não funciona quando a ativação não tem propósito, diz diretor da Ambev

Novo episódio do podcast “Na Escuta” traz Leandro Mendonça, diretor da empresa, para falar sobre como a Budweiser e a Corona criam ativações que emocionam, engajam…e vendem

As cervejas Corona, Brahma e Budweiser são bem reconhecidas pela criatividade e apelo emocional de suas ativações. Seja em festivais globais ou trabalhos exclusivos, ambas as marcas são facilmente reconhecidas — até por quem não é seu público — e trazem enorme engajamento no mundo virtual e no real.

A fim de descobrir qual a “receita” para esse sucesso, o novo episódio do podcast Na Escuta, do Promoview, conversou com Leandro Mendonça, que completa 20 anos de Ambev e atua como Diretor de Patrocínios e Experiências das marcas e, nos estúdios da MAXI, finalmente entendermos o processo de criação de todas essas ações.

Para a Ambev, “propósito sem execução é só PowerPoint bonito”

Imagem de Leandro Mendonça, diretor da Ambev
Imagem: Promoview/MAXI/Reprodução

O podcast apresentado por Cindy Feijó, CEO do Promoview, contou com diversos ensinamentos por parte de Leandro. Para o entrevistado, o sucesso de Budweiser e Corona são mais evidentes porque ambas as marcas entendem o propósito por trás das ações.

Especificamente, o executivo da Ambev listou dois cases específicos: o pocket show secreto que Budweiser promoveu com o cantor Bruno Mars; e o apoio de Corona ao Festival de Parintins.

No caso da Budweiser, a marca promoveu uma ação dedicada de sorteio de ingressos a quem comprasse produtos da “Bud”. Todo o faturamento das notas credenciadas em um site próprio foi direcionado a entidades de auxílio aos afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul.

“O mais legal: o Bruno topou porque entendeu o propósito”, comentou Leandro.

A premissa de estabelecer um propósito para uma ativação de marketing não é necessariamente nova, embora muitas marcas ainda não compreendam esse processo inteiramente: segundo um levantamento da Forrester (via Investopedia), 52% dos consumidores tendem a se alinhar a marcas com as quais compartilham os mesmos valores.

Paralelamente, uma análise da Bain & Company revelou que 70% dos consumidores estão até dispostos a pagar preços mais altos por produtos relacionados a ações sustentáveis, e 7% das marcas que trabalhem a ideia de um propósito por trás de suas ações chegando a mais de € 50 milhões em faturamento.

“É bonito falar de propósito quando tá todo mundo olhando. Quero ver segurar o discurso quando ninguém tá batendo palma”, comentou Leandro.

Regionalização é essencial para atingir o público certo, do jeito certo, na hora certa

Imagem do episódio #27 do podcast Na Escuta, mostrando a apresentadora Cindy Feijó e o entrevistado Leandro Mendonça
Imagem: Promoview/MAXI/Reprodução

O case Brahma do Festival de Parintins abordou outro tópico de interesse: o impacto positivo gerado pela regionalização na hora da contratação de serviços e direcionamento de público.

Para Leandro, um aspecto incompreensível de algumas empresas é a contratação de agências e fornecedores que não estejam envolvidos nos cenários locais da região onde uma ação será veiculada.

“Tem muita marca que fala de diversidade, mas contrata a mesma agência de sempre”, ele disse.

“Não adianta chegar com um template de São Paulo e achar que vai funcionar em Parintins. A gente viu isso nas ações da Corona, por exemplo. Lá no Nordeste, a gente trabalha com equipes locais, que sabem o que funciona em cada canto. Teve um evento em Parintins que só deu certo porque a gente ouviu os caras de lá. Eles falaram ‘faz assim que aqui é diferente’, e a gente fez. Se fosse só no nosso feeling, tinha dado ruim.”

Leandro Mendonça, Diretor de Patrocínios e Experiências

Outro ponto dessa regionalização é a determinação de limites dentro da própria empresa. Ao Na Escuta, Mendonça explicou que as ações de Budweiser e Corona têm parâmetros muito específicos, que impedem que as marcas “cruzem caminhos”.

Especificamente, a Budweiser é mais presente em festivais de grande porte e eventos premium (como o Lollapalooza, que tem até palco assinado pela cerveja). A Corona fica nas ativações mais voltadas ao lifestyle e têm uma pegada mais praiana (vide a ação dela no show de Lady Gaga, no próximo final de semana, na Praia de Copacabana — mais sobre este logo abaixo).

Outras marcas, como a Brahma, são mais visíveis no Carnaval e outras festas populares.

“Isso facilita a logística das ações de cada uma”, ele comentou, ressaltando que esse processo impede que uma marca canibalize a audiência da outra.

Com Corona e Lady Gaga, Ambev pode gerar cases mais positivos pelos próximos anos

Folder de anuncio da Corona como patrocinadora de shows em copacabana
Foto: Divulgação

Falando especificamente sobre Corona, a Ambev tem mais uma oportunidade de marcar o calendário anual com o evento. A marca é uma parte importante na parceria da iniciativa privada com a plataforma Todo Mundo no Rio — é por ela que Lady Gaga vem ao Brasil para o seu show em 3 de maio.

Isso porque, mesmo com o show sendo totalmente aberto para o público, a Corona conta com experiências exclusivas que prometem criar uma imersão ainda mais aprofundada — uma “participação VIP” para seus consumidores, por assim dizer.

Recentemente, no dia 14 de abril, a marca sorteou 25 pares de ingressos para levar 50 pessoas para uma área exclusiva do evento.

Mas as ações não param com Lady Gaga: a artista vai embora, mas a plataforma vai continuar, com Corona como sua maior patrocinadora: segundo a marca, a ideia é seguir apoiando o formato pelos próximos 4 anos, com diversas ativações celebrando o seu centenário.

“Mais do que ser a marca que trará os shows de lendas da música e popstars, queremos que essa parceria com a Corona seja um grande marco para a história de Copacabana, proporcionando um legado para o Rio e para o mundo”, disse Daniel Wakswaser, VP de Marketing da Ambev, na ocasião do anúncio do patrocínio.

O que é, afinal, o Brand Experience?

Imagem do estande da Budweiser no Lollapalooza
Imagem: Budweiser/Divulgação

Tudo isso serviu para que Leandro conseguisse definir, na percepção da Ambev, o seu entendimento sobre brand experience: para ele, não é uma questão de montar um estande e oferecer prêmios aleatórios.

Segundo o diretor, todas as marcas da Ambev estão dispostas a patrocinar eventos dos mais variados tipos, desde que atendam a três requisitos:

  • Fit estratégico: aderência ao posicionamento da marca
  • Storytelling: existência de uma narrativa emocional
  • Pós-mortem: análise rigorosa do que foi prometido versus entregue

Isso porque, dentro desses três pilares, tanto Corona como Budweiser (e Brahma, e qualquer outro produto da Ambev) conseguem avaliar a capacidade de conexão com o consumidor, determinando qual público se encaixa melhor em qual marca.

Mais além, a parte do “pós” também traz a sua relevância, permitindo que as marcas vão além das métricas normais de avaliação de ROI (“retorno de investimento”, na sigla em inglês) e buscando premissas mais subjetivas, como por exemplo o impacto na memória e no sentimento do consumidor.

“Brand experience são as ocasiões emocionais que constroem a lente pela qual o consumidor vive a marca. Não se trata de um canal específico, mas da convergência de todas as interações — digitais, físicas e humanas — em torno de uma ideia central.”

Leandro Mendonça, Diretor de Patrocínios e Experiências das marcas

Sobre o entrevistado

Leandro Mendonça

Apaixonado por experiências que conectam marcas e pessoas, Leandro Ribeiro Mendonça está na Ambev há mais de 20 anos. Ao longo dessa jornada, passou por diversas áreas estratégicas da companhia, incluindo Vendas, Trade Marketing e Marketing, com passagens tanto no Brasil quanto em operações internacionais. Atualmente, lidera a área de Experiential e Patrocínios, sendo responsável por transformar grandes ideias em experiências memoráveis que fortalecem o vínculo entre as marcas da Ambev e seus consumidores. Seu trabalho combina visão estratégica, sensibilidade criativa e profundo conhecimento do comportamento do público, consolidando sua atuação como uma das referências em brand experience no país.

Rafael Arbulu

Redator

Jornalista há (quase) 20 anos, passeando por editorias como entretenimento, tecnologia e negócios, sempre com um olhar crítico e praticamente nostálgico. Por toda a sua carreira, sempre buscou detalhar desde as tendências mais disruptivas do mercado até as curiosidades culturais que desafiam a lógica do "só porque é novo, é melhor". Fã de vinis, cervejas especiais e grandes sagas literárias, ele traz para os textos doses generosas de referências pop – mas sem esquecer que, no universo corporativo, até o lado B precisa fazer sentido.

Jornalista há (quase) 20 anos, passeando por editorias como entretenimento, tecnologia e negócios, sempre com um olhar crítico e praticamente nostálgico. Por toda a sua carreira, sempre buscou detalhar desde as tendências mais disruptivas do mercado até as curiosidades culturais que desafiam a lógica do "só porque é novo, é melhor". Fã de vinis, cervejas especiais e grandes sagas literárias, ele traz para os textos doses generosas de referências pop – mas sem esquecer que, no universo corporativo, até o lado B precisa fazer sentido.