O Brasil está dividido de uma forma que talvez eu não tenha visto antes (ou não lembro de algo assim). Estamos divididos em tudo, e não somente na política.
Discutir, discordar e ser agressivo contra opiniões diferentes das nossas está se tornando algo comum nos dias atuais. Se não prestarmos atenção, coisas como estas passam até mesmo despercebidas. Mas sim, entre tantas polarizações, a política é hoje a que mais ganha destaque. Afinal, são muitos críticos, entendedores, historiadores e futurólogos amadores (normalmente dentro da mesma pessoa) postando o que pensa nas redes.
Mas o que é que muda isso tudo pra gente, que atua diretamente com comunicação? Posso elencar três pontos diferentes, sendo um na área de estudo e entendimento e os demais em campos práticos de trabalho, dentro e fora da agência/cliente.
Nossos dias, em períodos eleitorais, não são os mesmos. É compreensível, alias, por conta do tamanho da representatividade destas datas. Mas vamos ao primeiro dos três pontos que citei acima.
O marketing político é uma das mais complexas áreas da comunicação. Mais que pesquisa, levantamento de dados frequentes e entendimento de flutuação de mercados e consumidores (neste caso, eleitores), ele se utiliza dos principais meios de comunicação para transmitir sua mensagem.
Trabalham conceitos complexos, já que em campanhas eleitorais, slogans são sólidos, mas mensagens são líquidas. Mudam de acordo com a maré. Assim, para quem atua com comunicação, não há como não acompanhar o marketing político sem analisar estratégias diárias. Ainda mais nestes dias altamente polarizados, onde ainda mais antes, a percepção da mensagem é mais importante que a própria mensagem.
Acredito que comunicação é, antes de tudo, a tentativa de se fazer entendido. Porém, logo em seguida, tem o objetivo de formar imagens e percepções no outro. Se produtos e serviços já comunicam e vendem percepções, em marketing político isso ganha ainda mais força. Em período de polarização, então? Vixe…
Aí entra o primeiro ponto: será que em dias como estes, onde as percepções estão líquidas e a polarização firme, marcas devem levantar bandeiras de um ou outro candidato? Não há resposta certa, como em tudo que envolve comunicação.
Algumas o fazem e se dão bem, outras se amarguram enormemente. Lembra do caso daquela que vendia camisetas com o texto “A culpa não é minha, eu votei no Aécio”?. Como imaginar, no momento da produção das peças, o que viria meses depois? Isso quer dizer que marcas não devem levantar bandeiras? Dever, não deve. Mas pode.
Ao mesmo tempo, nosso mercado se transforma também nestas datas por conta da própria polarização de equipes. Colegas que, por levantarem bandeiras diferentes, passam a discutir de forma mais acalorada. Não cito aqui casos, mas colegas de mercado contaram a mim casos complicados neste período eleitoral.
Profissionais brigando entre si, trazendo desarmonia ao clima da empresa ou agência. Chato, né? Mas pode acontecer em qualquer lugar. Mais um desafio a enfrentarmos neste momento. Ou seja: como fazer com que nossas equipes tenham seus ideais e briguem por ele somente no sentido figurado.
Por fim, mas não menos importante, apesar de conhecermos o poder das mídias sociais (afinal, somos profissionais de comunicação), parece que vez em quando esquecemos elas. Ainda esta semana, um profissional de grande agência postou algo preconceituoso na sua conta de Facebook e gerou sérios problemas: a ele e à agência. Somos pessoas físicas e temos total direito de postarmos o que quisermos, mas ao mesmo tempo, fazemos parte de empresas que não querem ser rotuladas a partir de comentários de seus funcionários. Como fazer?
Bom senso. Calma. Tranquilidade. Contar até 10. Respirar fundo. Talvez sejam estas cinco dicas que daria a você, que assim como eu, vive estes dias complicados e polarizados. Mais que isso: fé. Fé para que esta polarização nos traga algo bom (será possível?) e um país melhor.
A nós, profissionais de comunicação.
A nós e a todos, brasileiros.