Agosto de 1992.
Era a nossa estreia na empresa.
O lançamento de uma nova estratégia, um novo produto no mercado.
Na verdade, reconstruímos conceitos, superamos paradigmas e nossa proposta significava uma certa revolução no relacionamento com o cliente.
Precisávamos arrasar na apresentação para a força de vendas.
Uma no Rio, 2 em São Paulo e uma em Belo Horizonte.
Dois meses antes, meu chefe me convida para ir assistir uma dessas apresentações, de outra área.
Aprender é sempre bom.
E realmente os caras mataram a pau.
Brilhante.
Assunto difícil, mas muito bem colocado.
Proposta do chefe, vamos contratar o cara que dirigiu o evento para nos ajudar.
Bingo !!!
Tínhamos resolvido o problema.
Dias depois chega para a nossa reunião um cara com um layout meio fora de esquadro.
Pensei: olha o preconceito.
O cara é diretor de eventos.
Se apresentou – Tonny, meu nome é Tonny Wall.
No dia da apresentação do projeto, eu e minha equipe fomos convidados para ir ao escritório do Tonny.
Vamos lá.
Chegamos.
Assustamos.
Sabem aquele lugar que em cada janela tem uma antena de TV, um varal cheio de cuecas, calcinhas e meias.
E ainda um ar-condicionado, pois era isso.
Primeiro o endereço. Lugar, bem um prédio, no centro do Rio, com um monte de portas por andar.
Logo descobrimos que era um prédio residencial, de um só cômodo, mais cozinha e banheiro.
Ali ficava o escritório.
Na verdade, um bar no ambiente único.
Escuro, bem iluminado, com luz negra.
Não posso dizer underground, pois era no oitavo andar.
Começou a apresentação.
Meu Deus. Quanta bobagem, mas…vamos até o final.
E a estrela da noite seria um curta-metragem.
Projeto apresentado.
Um monte de pedidos de alteração.
Combinações feitas.
Resultado de nossas discussões, rachamos o job.
Nosso querido Tonny e equipe ficariam com o vídeo e a direção do evento.
Nós contratamos outra empresa para nos dar suporte.
Problema resolvido ????
Caros amigos, nunca está.
Na noite que antecedeu o primeiro evento no Rio, tudo pronto, menos o curta-metragem do nosso amigo.
Dia seguinte, 18 horas, nossos convidados começaram a encher o Scala, casa de espetáculos no Rio de Janeiro, local do evento.
Mas cadê a porra do Tonny?
E cadê o filme?
“Vamos fazer sem diretor. Vamos passar o evento e dividir as tarefas. Esse cara não vai aparecer”.
Depois de muitas tentativas conseguimos nos comunicar, soubemos que ele estava chegando.
Finalmente apareceu.
Um minuto antes das luzes se apagarem.
Tinha um aparelho UMatic de vídeo, debaixo do braço. Era o que de melhor existia na época.
Ótimo.
Lá vamos nós.
Mesmo com nosso diretor não dirigindo, outra pessoa quebrou o galho.
Até que chegou a hora de dar play no vídeo.
Começou meio estranho.
Parecia haver um problema de som.
Começa o corre corre para achar a solução.
Testa aqui.
Testa ali.
Checa as caixas de som.
Nada. Que stress.
A principal peça, uma bosta.
O filme não estava mixado nos canais.
O que quer dizer que passamos 6 minutos eternos vendo pessoas movimentarem a boca e só uma trilha tocando.
Um filme praticamente mudo que deveria explicar todo o trabalho que havíamos desenvolvido.
Um dos maiores desafios de minha vida conviver com esta história.
Dois dias depois estávamos no Palace em São Paulo para duas apresentações em dias seguidos.
Tonny estaria lá para dirigir e o filme estaria perfeito.
Gato escaldado tem medo de água fria.
Ele chegou, apresentou o filme.
Outra bosta.
Recusei. E o cara ficou doido.
Até porque, assim que saiu o último frame da tela, ele ouviu, “Não quero. Está recusado. E mais, não pago um centavo por esta merda.”
Eu sempre fui um cara muito calmo.
O cara era grande. Mas eu estava desesperado.
Ok. Depois de algumas discussões….
Ele iria dirigir os eventos e pagaríamos a parte de direção somente.
Convidados a postos.
E no rádio alguém aos berros: “Cadê o Tonny”.
Não aguentava mais ouvir a mesma pergunta.
Corre corre de novo.
Entra uma mensagem no rádio urgente.
Uma de nossas colegas havia voado pela escada e estava ido pro pronto-socorro.
“E o Tonny, cacete”???
Meu chefe nervoso dizendo pra mim: começa, começa!!!
Outra mensagem; “Luiz pode vir no camarim.”
Nessa altura não tem notícia boa.
Achamos o nosso diretor.
Deitado no chão.
Com duas garrafas de whisky vazias, caídas ao lado dele.
Mais tarde soube que ele ficou deprimido pois eu recusei o vídeo.
Terminado este dia magnífico, mandei o Tonny de volta para sua casa. Era o fim dos problemas.
Problemas em evento só acabam quando o evento termina.
E lá fomos para BH.
Chegamos.
Primeira coisa, ver se estava tudo certo no local que escolhemos.
Tínhamos 250 convidados que cabiam tranquilamente.
Tudo certo?
Mentira.
Na verdade, comecei a ouvir um zum zum zum sobre quantidade de pessoas sendo convidadas.
Nosso diretor-comercial da área sempre respondia: “Sim pode ir. Damos um jeito.”
Mas não me dizia o número de convidados.
Sorrateiramente pedi a secretária dele uma cópia da lista de convidados.
Precisávamos checar nomes etc.
Ela me pediu um tempo, mas depois me cedeu o papel.
Quase tive um treco.
Saímos correndo para o local do evento pois haviam 550 pessoas confirmadas para uma sala que cabiam 250, e comida e bebida provisionada para este número de pessoas.
Agora um puta corre corre.
Montar uma sala anexa com transmissão simultânea, alugar mais cadeiras.
Não coube em uma sala.
Precisamos usar outra.
Em outro piso.
E toca passar cabos e achar câmeras, telas e som para equipar estas dependências.
Mais refrigerante.
Mais garçons.
Seguranças.
Manda fazer mais coxinhas e pães de queijo.
Compra mais vinho.
Ah! Pelo amor dos céus, gelo. Não esquece.
Um sufoco.
Mas sobrevivemos.
E ainda tivemos que ouvir: “Foi o melhor dos eventos. Colocamos todo mundo aqui.” Nossa contagem deu 673 pessoas.
Aqui, meus caros leitores, compartilho com vocês o grande aprendizado que este evento me trouxe.
Só me arrependo de uma atitude que não tomei.
Estava paralisado.
Imóvel.
Sem ação.
Eu deveria ter interrompido o vídeo no Rio de Janeiro.
E não o fiz.
Depois daquele dia jurei para mim mesmo; jamais deixarei de tomar uma atitude, mesmo que seja drástica, para salvar uma situação difícil em um evento.
E assim foi.