A Coca-Cola HBS Hungary, que é para a Hungria o mesmo que a Coca-Cola FEMSA é para o Brasil, inaugurou recentemente a sua primeira loja autônoma, dotada de sistemas de pagamento automático que elimina a necessidade de um “check-out assistido”.
De acordo com a empresa, a empreitada foi feita em parceria com a fornecedora de serviços tecnológicos Kende Retail, e é a primeira de seu tipo no país do leste europeu, em um formato similar ao que foi praticado (e abandonado) pela Amazon há alguns anos.
O que há por trás da loja autônoma da Coca-Cola
A abordagem de loja autônoma da Coca-Cola HBS não é de todo uma novidade, e o objetivo dela é bem claro: a ideia da empresa é ser mais atraente para um público jovem, cada vez mais conectado e familiarizado com sistemas automáticos de gestão de rotina.
Tudo isso é uma forma pomposa de dizer que consumidores atuais querem perder cada vez menos tempo à ação de “pegar fila no caixa” quando fazem as suas compras diárias.
A ideia por trás de uma loja autônoma é simples, do ponto de vista tecnológico: toda a estrutura é permeada por sensores e câmeras que monitoram os produtos a todo momento – desde quando eles são colocados nas prateleiras, até quando o cliente os retira e os leva à saída, normalmente contando com algum app ou outra solução digital conectada que permita o pagamento em forma de débito ou cobrança posterior.
Assim como dissemos, nada de muito novo: a Amazon já tentou algo similar no passado com o projeto “Amazon Go”. Entretanto, ao contrário da engarrafadora de bebidas húngara, a rede varejista estadunidense na verdade empregava o trabalho humano no monitoramento e checagem de produtos e pagamentos – ou seja, era inteligência artificial (IA), até descobrirem que não era.
Ainda assim, a tendência de uma loja autônoma parece estar crescendo no setor varejista global.
Automação no varejo cresce, mas não é livre de discussões polêmicas
Segundo uma análise da plataforma de mercado Statista, a China é, hoje, o maior mercado de sistemas de loja autônoma. Pelo levantamento, a gigante asiática contou com faturamento de US$ 11,8 bilhões no setor em 2022, e a projeção é a de que, até 2027, esse valor suba para US$ 75,58 bilhões.
Nos EUA, o conceito da já mencionada Amazon Go ajudou a popularizar o conceito no Ocidente, haja vista que a eficiência aprimorada da experiência de compra atrai os olhos de potenciais investidores. Entretanto, há discussões a serem debatidas.
O que aconteceu com a Amazon levanta discussões de transparência nas informações tratadas por uma loja autônoma, já que os dados dos consumidores estariam armazenados – ou, ao menos, vistos e utilizados – pelas marcas por trás dessas estruturas automatizadas.
Mais além, o caso da Amazon não necessariamente pode ser o único, onde a comunicação do projeto diz uma coisa, mas sua execução mostra outra: a rede dos EUA ainda dependia da força de trabalho humana para funcionar, mas isso nunca havia sido divulgado até se tornar uma “descoberta” da imprensa e da comunidade tecnológica.
Ainda assim, o prospecto da redução de custos e aumento da agilidade podem impulsionar a adoção. Críticos, então, começaram a avaliar a questão por outros fatores: potencial aumento de taxas de desemprego, falhas técnicas e resistência cultural. Mesmo assim, 72% dos consumidores globais veem a tecnologia como útil, segundo a McKinsey.
Uma loja autônoma teria sucesso no Brasil? Tendências apontam para avanço do setor
O Brasil não é alheio da discussão da implementação de uma loja autônoma. Por aqui, duas empresas têm destaque neste campo – ambas na oferta de soluções tecnológicas para isso: a Muffato Gourmet e a startup Market4u.
O primeiro é um mercado próprio, inaugurado em 2022, no Paraná. A loja, totalmente autônoma, usa sensores para rastrear produtos, e o pagamento é feito por uma plataforma acessível via smartphone, sem filas.
Já a segunda é responsável por desenvolver ferramentas para automatizar a precificação dos produtos, a fim de criar uma estrutura para locais menores. A tecnologia integra dados de estoque e demanda em tempo real. Ela é majoritariamente vista em condomínios, mas seu plantel de clientes inclui alguns nomes bem reconhecidos, como Intelbrás, Ambev e GOL – Linhas Aéreas.
Na prática, entretanto, a Market4u e o Muffato oferecem a mesma solução: um mercado onde você não pega filas, nem interage com figuras humanas para as suas compras. Dadas as devidas reservas, esse formato tem o adendo de usar tecnologias de IA e machine learning para executar suas tarefas com precisão e transparência.
Sobre as grandes redes varejistas, algumas marcas já flertam com pagamentos automáticos: o Grupo Pão de Açúcar, o Grupo Carrefour e as lojas Extra, por exemplo, contam com sistemas do tipo. Entretanto, nenhuma delas tem, até agora, uma “loja autônoma” no conceito literal da expressão.
Segundo a FGV, isso pode aparecer no futuro brasileiro, mas ainda deve demorar: 82% dos brasileiros ainda não confiam plenamente em pagamentos automatizados, e se sentem mais seguros dentro dos formatos tradicionais.
Isso não significa que nós sejamos avessos à ideia, é importante lembrar: mas a julgar como as redes varejistas de grande porte tendem a oferecer ambos os formatos, a introdução de uma loja autônoma, 100% independente da força humana, pode demorar um pouco mais para aparecer.