A pandemia do Covid-19 ampliou o interesse do consumidor por compras online em supermercados. A segunda edição do Índice de Preferência do Consumidor (IPCon), da consultoria britânica Dunnhumby, mostra que em maio, 83% dos consumidores fizeram compras online da categoria no período e o digital foi o canal preferido de 30% deles no segmento.
Quem liderou as compras no segmento foi o Mercado Livre, com uma fatia de 17%. A Amazon ficou na vice-liderança, com 16%, seguida por Americanas e Magazine Luiza, ambas com 11%. Entre as redes tradicionais, o Carrefour/ Atacadão somou 11%, o Extra/ Pão de Açúcar, 6%, e o Assaí, 5%.
“Esse é o maior segmento do varejo, responde por 5% do PIB e tem uma recorrência de oito vezes por mês, muito diferente da média. E sua penetração online ainda é baixa, de 2%. Mas a pandemia virou completamente esse jogo”, diz Julia Rueff, diretora de marketplace do Mercado Livre.
O levantamento mostrou ainda que essas plataformas foram o canal escolhido para a compra de alimentos por 19% dos consumidores. Já os apps e sites próprios dos varejistas físicos registraram uma fatia de 9%.
“Estamos capturando essas vendas por meio de parceiros como GPA e Mambo. Mas esse fluxo passa pelo Mercado Livre, porque é onde o consumidor já está mais acostumado a comprar online”, afirma a executiva.
Nesse cenário ainda em maturação, algumas tendências ajudam a explicar a disposição dos marketplaces e das redes tradicionais no ranking. Ao mesmo tempo, tais fatores deixam claro quais são os obstáculos e oportunidades para que as duas pontas ganhem escala nas “gôndolas virtuais”.
Segundo o IPCon, os marketplaces se destacam por sua penetração em produtos de tíquete mais elevado, como artigos para casa, incluídos na pesquisa. Especialmente, em categorias como cama, mesa e banho, e eletrodomésticos.
Nos últimos anos, essas plataformas ganharam tração na esteira de algumas dessas categorias o que, na visão de muitos especialistas, ajuda a explicar a derrocada do formato de hipermercados no País.
“A vantagem dos players digitais é que eles já são top of mind em itens de alto valor e têm experiência na gestão de operações e portfólios online”, explica André Rocha, country head da Dunhumby no Brasil. “Mas eles precisam ganhar relevância em produtos de compra recorrente.”
Já os canais online das redes tradicionais têm um giro maior de itens de menor valor, comprados, porém, com mais frequência. Entre eles, produtos infantis, para pets, naturais, orgânicos, bebidas e refeições prontas. Aqui, o desafio é avançar em produtos de tíquete mais elevado.
Rocha ressalta ainda que o online ainda é um canal complementar às lojas físicas, já que 41% dos clientes usam o digital para compras de conveniência e reposições pontuais. “Nenhum player conseguiu ainda se apropriar das compras abastecedoras e de itens como perecíveis”, diz.
Esse contexto é atestado pela participação das compras online nos gastos totais com alimentos. Apesar de o canal ter sido acessado por 83% dos consumidores, ele representa 37% do montante reservado à categoria.
“Esse consumidor omnichannel pode valer duas ou três vezes mais, mas é menos fiel. Ele pesquisa muito mais entre as opções que têm para fazer as suas compras”, revela Rocha.