Lançado oficialmente em novembro de 2020, o PIX promoveu uma verdadeira revolução na transferência de dinheiro aqui no Brasil. Seja como maneira ágil de fazer repasse de valores entre pessoas físicas, seja como forma de pagamento em estabelecimentos comerciais, esse recurso rapidamente se consolidou entre os brasileiros.
O motivo para isso é bem simples: a digitalização, que permite que a transação seja rápida, eficiente e segura. O dinheiro sai de uma chave e vai para outra instantaneamente. A questão é que essas são as mesmas características das criptomoedas, o que deixa uma dúvida no ar: será que o PIX impede uma maior popularização das moedas digitais no país?
Trata-se de um questionamento válido. Afinal, se grande parte do nosso dinheiro em real já está disponível em contas que podem ser acessadas digitalmente e, graças a esse recurso lançado pelo Banco Central, é possível transferi-lo na mesma hora para outra conta, sem custo para as pessoas físicas, por que iríamos utilizar criptoativos com esse mesmo fim?
A resposta passa pela compreensão das vantagens que os ativos digitais têm a oferecer em nossa relação com o dinheiro. O Brasil pode até não repetir o exemplo de El Salvador, que instituiu o Bitcoin como moeda oficial, mas isso não significa que esses recursos não possuem espaço de crescimento por aqui, mesmo com o PIX.
Primeiro porque as criptomoedas podem ser utilizadas até em relações de compra e venda, como as moedas fiduciárias tradicionais. Entretanto, essa é apenas uma das funcionalidades que elas possuem. De fato, há diferentes categorias e estilos de criptoativos e cada um deles atende um objetivo específico.
Os mais conhecidos, como o próprio Bitcoin, são vistos como ativos de investimento devido a sua volatilidade. Há ainda as stable coins, que são vinculadas a ativos reais, a exemplo do ouro, e também servem para uma carteira de investimento. Isso sem falar dos tokens e suas inúmeras possibilidades. Logo, é possível adquirir essas soluções com outras finalidades além do pagamento em si.
Além disso, a utilização das soluções cripto e do PIX indica que, mais do que a digitalização em si, os usuários valorizam exatamente a experiência de realizar transações cada vez mais seguras e eficientes – sem que isso demande a burocracia de ir a uma agência bancária, por exemplo.
Nesse sentido, a pessoa busca ter mais opções justamente para utilizar aquelas que mais lhe interessam em determinados momentos. Ele pode preferir pagar as contas no PIX e fazer compras no varejo com os tokens e os criptoativos. Ele prefere ter mais alternativas a ficar preso a poucas ferramentas.
Os dados mostram que há espaço para esses dois modelos de pagamento. O PIX já é uma ferramenta consolidada, com quase 110 milhões de brasileiros que já a utilizaram em algum momento – mais da metade da população nacional. Não bastasse isso, em maio de 2022, esse recurso registrou mais de 1,6 bilhão de transações, movimentando mais de R$ 784 milhões, segundo levantamento do Banco Central. Mesmo com todo esse sucesso, mais de um terço dos brasileiros (36,2%) afirmou que pretende utilizar os criptoativos em lojas físicas, segundo uma pesquisa conduzida pela CoinsPaid.
Como se vê, em um mundo em constante transformação digital, há espaço para todos os recursos que prometem melhorar a vida das pessoas – ainda mais se facilitar a relação delas com o dinheiro. Tanto o PIX quanto as criptomoedas exercem esse protagonismo atualmente, ao agilizarem as transações financeiras.
Se em alguns momentos elas realizam a mesma função, em grande parte podem atuar até de forma conjunta. O importante mesmo é compreender as vantagens de cada modelo e o momento em que eles são mais indicados. Dessa forma, estaremos prontos para estabelecer um novo padrão com os meios de pagamento.
* Rubens Neistein é Business Manager da CoinPayments, a primeira e maior processadora de pagamentos em criptomoedas do mundo
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