Os novos aparelhos de realidade virtual que chegarão ao mercado em 2022 vão contar com o rastreamento ocular, uma novidade que deve mudar a experiência dos consumidores.
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Essa tecnologia mapeia os olhos para detectar em qual ponto da imagem digital o usuário está prestando atenção. Normalmente, o sistema depende dos comandos das mãos ou do movimento da cabeça para receber essa informação.
Para profissionais da área, isso deve melhorar a eficiência do processamento de gráficos em três dimensões e acelerar o desenvolvimento de aplicações no metaverso.
A tecnologia deve acompanhar os principais lançamentos VR do ano, como o PlayStation VR 2, o Project Cambria da Meta (ex-Facebook) e, segundo rumores, até o misterioso futuro aparelho de realidade virtual da Apple.
Ao concentrarmos nosso olhar em algum objeto da vida real, mesmo que muito rápido, todo o entorno fica desfocado para que aquele ponto específico seja visto com o maior nível de detalhes possível.
O que os desenvolvedores querem é simular essa mesma dinâmica: quando você olhar para um objeto digital, o restante do quadro não precisará ser renderizado por completo. Assim, aumenta-se a eficiência do processamento de imagens no hardware.
“Existe uma limitação física na quantidade de processamento e gráficos necessários para renderizar o campo de visão completo, o que é um desperdício. O usuário não precisa que tudo seja renderizado dessa forma”, diz Anand Srivatsa, diretora-executiva da Tobii, uma das maiores fabricantes de componentes para rastreamento ocular do mundo, ao site norte-americano CNet.
A promessa é que a renderização otimizada torne jogos e aplicativos em dispositivos VR mais leves, permitindo rodá-los via streaming. Games em streaming é uma das mais importantes tendências do mercado, em serviços como o Stadia e o XBox Cloud Gaming (ainda focados em jogos tradicionais, sem realidade virtual).
Além disso, com o suporte de tecnologia 5G, a renderização otimizada poderá viabilizar a redução no tamanho e no peso dos óculos de RV, dois grandes empecilhos desses equipamentos hoje.
Olho no olho
“Há duas consequências importantes do rastreamento ocular. A primeira é conseguir enganar seus sentidos para pensar que aquilo é real, de forma que você queira passar um tempo lá [no metaverso]”, afirma Srivatsa.
“A segunda é ter uma interação que seja semelhante a da vida real, que permita a imersão e você não sinta que a experiência é estranha.” Imagine, por exemplo, uma festa com vários avatares.
Como os outros participantes sabem que você está falando ou interessado em um deles? Na vida real, essa comunicação não-verbal é feita parcialmente pelo “olho no olho”. O rastreamento poderá replicar esse efeito.
E como fica a privacidade?
Não que essa seja uma preocupação nova, mas tanta tecnologia lendo nossos olhos levanta questionamentos legítimos sobre segurança e privacidade.
Afinal, a íris é também um dos aspectos físicos mais usados na biometria, permitindo, por exemplo, destravar certos celulares.
Para a diretora da Tobii, é fundamental que os usuários tenham controle dos dados que podem ser coletados. Ela lembra que, em tese, a tecnologia de rastreamento ocular não deve armazenar dados sensíveis.
Principalmente quando é utilizada apenas para direcionar um controle, como um clique no mouse.
“Essa informação não é registrada, ela apenas conduz uma interação específica. Nesse tipo de comando, há muito pouco impacto em relação aos dados armazenados”, diz.
A história muda de tom se uma empresa decidir usar um método de rastreamento ocular chamado de “mapas de calor”. Nele, o dispositivo VR reconhece a direção do olhar por meio da captura de imagens dos olhos.
“Esperamos que nossos clientes estejam em conformidade com a nossa política de transparência de dados.
Se essas empresas estão armazenando dados de rastreamento ocular, elas precisam do consentimento do usuário e explicar o que estão fazendo com esses dados”, alerta Srivatsa.