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No tabuleiro das criptomoedas, há novos lances no cenário de pagamentos

O que está em jogo nesse intrincado tabuleiro não é se os criptoativos se tornarão ferramentas de pagamentos, mas quando acontecerá esse xeque-mate.


Rubens Neistein

Fosse um jogo de xadrez, diríamos que o mercado de criptomoedas aplicou um garfo, isto é, uma jogada em que uma mesma peça faz dois ou mais ataques ao mesmo tempo durante o jogo. Ainda em um cenário de desvalorização dos principais ativos deste segmento, a metáfora é totalmente válida. Percebido apenas como opções de investimentos no início, hoje o setor também é visto como uma importante alternativa para realizar operações de pagamento e recebimento nas empresas.  

Diferentes pesquisas reforçam esse status. Um levantamento realizado pela Mastercard, por exemplo, mostra que praticamente três em cada quatro brasileiros (72%) dariam preferência a pagamentos por criptomoedas se as suas instituições financeiras de confiança oferecessem essa oportunidade. Já um estudo da plataforma PYMNTS mostrou que 85% dos varejistas em todo o mundo enxergam o pagamento em criptomoedas como forma de alcançar novos consumidores. Em suma: há uma forte demanda e interesse em atendê-la.  

Mas quais são os lances que permitiram essa mudança no jogo das criptomoedas? Diversos fatores contribuíram para esse cenário. Confira: 

1 – Uma nova cultura em relação aos pagamentos  

Qualquer transformação só é possível quando as pessoas passam a enxergar as novas possibilidades que aparecem. É assim também em relação aos pagamentos. O surgimento de diversas soluções digitais, como pagamento por aproximação e wallets, estimulou uma nova cultura entre os consumidores. Daí para utilizar as criptomoedas no lugar das moedas fiduciárias foi um pulo. Apenas no primeiro trimestre de 2022, o número de transações em criptos cresceu 32,5% e o volume financeiro praticamente dobrou, de acordo com uma análise em nosso banco de dados.  

2 – Novas peças em jogo 

Por muito tempo, bitcoin foi sinônimo de criptomoeda. A primeira solução desse tipo mantém a liderança deste então. A questão é que, em 2022, ela perdeu espaço principalmente como recurso de pagamento. Há um ano, o ativo representava três quartos (74,1%) do volume total processado – hoje, é apenas 35,6%. Quem aproveitou para subir foi o tether (USDT), que saiu de 4,1% para 35,3%. Não à toa, é atrelada ao dólar americano e funciona como uma ponte entre os criptoativos e as moedas fiduciárias. 

3 – Bem mais fácil e rápido de usar  

Um pagamento em dinheiro vivo pode parecer simples, mas exige contar cédulas e moedas na fila do caixa. Com o cartão, é necessário lembrar a senha em muitos casos. Mas com as criptomoedas basta aproximar o smartphone na maioria dos casos para completar a transação. É um modelo bem mais simples, fácil e ágil de utilizar – e condizente com a transformação digital citada no primeiro tópico. Além disso, oferece segurança contra fraudes e custo operacional bem menor para os varejistas, uma vez que elimina taxas cobradas por intermediários. 

4 – Novas regras em jogo para regular transações

A principal característica das criptomoedas é a descentralização, ou seja, não estão vinculadas a nenhum órgão financeiro de controle. Isso as diferencia das moedas fiduciárias, protegidas e reguladas pelos bancos centrais. Mesmo assim, o avanço delas no mercado financeiro obrigou os países a debaterem marcos regulatórios que protejam tanto os clientes finais quanto as empresas envolvidas. O fato de ser um tema debatido por autoridades (inclusive aqui no Brasil) aumenta a confiança das pessoas em utilizá-las como forma de pagamento em suas compras.  

5 – Criptoativos são a base do Metaverso 

A discussão em torno das possibilidades do Metaverso só é possível com a popularização das criptomoedas – sobretudo os NFTs, que já são negociados em plataformas on-line por meio de outros criptoativos. Com a possibilidade de integrar ambientes físicos e virtuais em uma mesma experiência, é evidente que os pagamentos também precisam incorporar essa característica. Ou seja, as moedas digitais serão os principais meios de troca nesse cenário.

Portanto, o que está em jogo nesse intrincado tabuleiro não é se os criptoativos se tornarão ferramentas de pagamentos, mas quando acontecerá esse xeque-mate. As empresas e consumidores têm duas opções: resistir a eles com o risco de serem engolidos pelos concorrentes, ou se adaptar ao jogo e realizarem movimentos certeiros para aproveitar os benefícios que podem oferecer.

* Rubens Neistein é business manager da CoinPayments, a primeira e maior processadora de pagamentos em criptomoedas do mundo