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Turismo LGBT: o respeito começa a se fazer presente

Não haveria necessidade de um nome específico se as pessoas soubessem respeitar as diferenças e aceitar os outros como eles são.

Não haveria necessidade de um nome específico se as pessoas soubessem respeitar as diferenças e aceitar os outros como eles são. Infelizmente, não é assim que acontece, e, em função disso, até o mercado de turismo tem de adotar algumas medidas para que todos possam desfrutar de momentos de lazer.

No mês de junho aconteceu em São Paulo o Fórum de Turismo LGBT no Brasil que teve como objetivo, por intermédio de palestras, cases de sucesso e profissionais de entidades, orientar os agentes de viagens, hotéis e prestadores de serviço da cadeia turística para oferecer serviços qualificados e atendimento adequado para receber o turista LGBT.

Pessoas livres e desempedidas que estejam a fim de namorar sempre vão usar seu tempo livre em viagem para procurar o ambiente mais propício para isso, não importa a sua orientação sexual.

Agora, no geral os objetivos de um viajante LGBT são exatamente os mesmos de um turista heterossexual, seja em Bonito, Paris, Machu Picchu ou Marrakech. A diferença é que o viajante LGBT quer viajar a lugares onde não vá ser discriminado.

O viajante LGBT quer ir a um hotel, um destino, um restaurante, um passeio em que não se sinta tolhido. "Posso ser autêntico?" "Vou embarcar num tour em que o guia metido a engraçadinho vai fazer uma piada homofóbica atrás da outra?" Para os casais homoafetivos, a situação é ainda mais delicada: "Vamos poder nos assumir como um casal?", são as perguntas mais comuns entre o público LGBT.

Esses fatores pesam cada vez mais na definição das viagens. Imagine que dependendo de onde more, uma viagem pode proporcionar ao turista LGBT a sua primeira oportunidade na vida de poder andar de mãos dadas na rua com a pessoa que ama. Qual é o equivalente disso na vida de um viajante heterossexual? A primeira vez em que viu o mar?

Uma ‘indústria’ tolerante

O receio de não ser acolhido é mais justificado com relação a destinos. Existem países e cidades realmente muito conservadores, como os países muçulmanos linha-dura, e agora a Rússia.

Guias metidos a engraçadinhos à parte, o risco do preconceito é bem mais baixo na chamada ‘indústria do turismo’ — agentes de viagem, hotéis e companhias aéreas.

Muito antes da sociedade aceitar os homossexuais nos termos em que aceita hoje, a indústria do turismo já entendia e atendia muito bem o viajante LGBT. Até porque hotéis e companhias aéreas sempre foram tolerantes até na contratação de funcionários. São setores que empregam proporcionalmente mais pessoas LGBT do que a média das empresas, e mesmo sendo minoria na equipe acabam influenciano na cultura corporativa.

Hoje em dia, ao chegar num hotel, o casal homoafetivo pode ficar tranquilo que só vai ouvir a fatídica pergunta “Mas é cama de casal mesmo?” em pousadas muito familiares, ou se derem o azar de pegar um recepcionista muito obtuso. Muitas vezes pode acontecer uma confirmação de praxe, “Cama de casal, correto?”, mas na mesma entonação com que o recepcionista perguntaria “Reserva pra 3 noites, correto?”.

Visibilidade é o caminho

O que não dá para controlar são as reações dos outros hóspedes. Ainda há quem dê uma risadinha de surpresa ao ouvir as duas moças sendo atendidas na sua frente confirmam que a cama é de casal.

Uma dupla de rapazes ainda chama mais atenção do que deveria quando aparece para o café da manhã ou quando pega aquelas duas espreguiçadeiras geminadas à beira da piscina. Mas as coisas vêm evoluindo rapidamente, e para continuarem evoluindo dependem que o público LGBT (e os casais homoafetivos em particular) aumentem a sua visibilidade.

As grandes redes hoteleiras, os hotéis de luxos e os destinos mais antenados já estão trabalhando na próxima onda, que é de aproveitar os mercados de cerimônia de casamento LGBT, lua-de-mel LGBT e férias em família para famílias LGBT com filhos. Preste atenção na próxima vez que você for a um resort nas férias: é bem possível que veja criança com duas mães ou dois pais – exatamente, por sinal, como nas reuniões de pais na escola.

A próxima barreira a ser derrubada é a do turismo de pessoas trans. Por enquanto só um destino tem um programa específico pra esse público, que é Fort Lauderdale, na Flórida.

Os destinos mais desejados do Brasil e do mundo também são desejados pelos viajantes LGBT. Caso esse viajante queira aproveitar as férias para também paquerar ou cair na night, vai colocar alguma metrópole no seu roteiro – só isso.

Mas existem alguns destinos especiais, que atraem gays e lésbicas por proporcionar a oportunidade de, por alguns dias, não se sentirem uma minoria. Viajar a um lugar onde o público LGBT seja maioria é uma experiência transformadora para muitas pessoas.

No Brasil

O Brasil não chega a ter nenhum destino eminentemente LGBT. O lugar que tem a maior afluência constante de turistas gays é o Rio de Janeiro, onde os visitantes LGBT são bastante visíveis em Ipanema – mas estão longe de ser maioria.

Em Florianópolis, durante o Carnaval, a quantidade de turistas gays impressiona. Todo mês de agosto, por uma semana, Fernando de Noronha ganha as cores do arco-íris no Festival Love Noronha, direcionado ao público LGBT.

Festival Love Noronha (Foto: Amanda Dias).

No Exterior

Algumas cidades do Exterior, porém, têm bairros inteiros habitados por maioria de gays e lésbicas. San Francisco tem o bairro do Castro. Los Angeles tem West Hollywood. Montreal tem Le Village, também conhecida como Gay Village. Madri tem o bairro de Chueca. Munique tem o lGockenbachviertel. A Cidade do Cabo, na África do Sul, tem o De Waterkant. Tel Aviv, em Israel, não chega a ter nenhum bairro gay, mas é uma cidade incrivelmente tolerante.

E existem também destinos turísticos que, na temporada atraem enorme público LGBT. O melhor exemplo é Provincetown, em Cape Cod, a 45 minutos de barco de Boston: uma colônia de artistas que se transformou num enclave LGBT e tem vida intensa (cultural, inclusive!), entre maio e setembro.

Na Flórida, a grande Fort Lauderdale, do ladinho de Miami, é a cidade que tem mais investido para atrair o turismo gay; o epicentro lá é a cidadezinha de Wilton Manors. Na pontinha Sul da Flórida, Key West também tem uma grande comunidade gay permanente.

Na Europa, Sitges, a meia hora de trem de Barcelona, é um balneário praticamente gay. E ilhas como Ibiza na Espanha e Mykonos na Grécia têm os verões mais quentes da Europa graças à diversidade de visitantes.

Há de chegar um tempo em que não iremos mais precisar de diferenciações nos destinos turísticos. Por enquanto, apesar de já ter havido uma grande evolução, ainda temos muito que aprender em relação ao respeito que o público LGBT merece, não apenas em uma viagem de turismo, mas no dia a dia. Não há mais espaço para a homofobia em pleno Século 21!