Experiência de Marca

OVLE – LVOE – VLOE – EVOL

Na decoração da sala da minha casa, entre outras coisas tenho 4 letras caixa: L, O, V, e E. Óbvio que formam talvez uma das palavras inglesas mais conhecidas do mundo: LOVE, mas nem tanto.

Na decoração da sala da minha casa, entre outras coisas tenho 4 letras caixa: L, O, V, e E. Óbvio que formam talvez uma das palavras inglesas mais conhecidas do mundo: LOVE, mas nem tanto.

Por um estranho processo, toda vez que nossa querida colaboradora doméstica mexe nestas letras para limpá-las e as reorganiza, cria uma nova palavra. Como uma destas aí em cima.

Claro que num primeiro momento a gente se pergunta se haveria a possibilidade de alguém desconhecer esta palavra no mundo ou ainda podemos teorizar sobre o nível de alfabetização das pessoas e a dificuldade em ouvir, escrever e falar. Mas já que sabemos que a língua mais falada no mundo não é o chinês, mas “bad english”, também nos abrimos para uma possibilidade muito clara: a não associação das letras naquilo que formam, como se estívessemos aleatoriamente ordenando indecifráveis ideogramas japoneses sem fazer a mínima ideia do que estaríamos originando.

Estou falando tudo isso para gente refletir um pouco sobre o quanto os padrões (teoricamente óbvios ou não) são realmente algo tão acessível assim e para todo mundo – a começar pelo básico deles: a ordenação compreensível de letras, que formam palavras e elas por si, formando frases, textos e conteúdos. Por outro lado, a gente sabe que hoje as novas gerações possuem um vocabulário muito menor do que os mais velhos e onde poucas palavras se transformam em muitos significados, ao mesmo tempo em que o conceito de falar, escrever e ouvir têm hoje um significado, importância e forma de abordagem muito diferentes.

Conheço pessoas que são profissionais de sucesso, com formação universitária e conhecimento técnico reconhecido, mas que escrevem como uma criança: com um vocabulário restrito, tentando repetir o som do que ouvem e com uma lista de erros de deixar com vergonha qualquer professor.

Conheço outros que ainda possuem um linguajar empolado e de um requinte estético tão refinado que não combinam com o hoje e muito menos o dia a dia. Talvez estivessem melhor inseridos em um tribunal e todas as suas terminologias jurídicas. Outros ainda se negam a usar os anglicismos, achando que isso protege a língua pátria, mesmo sendo se dizendo um heavy user do iPhone, do Whatsapp, do Google, do Facebook e um craque no World e PowerPoint.

E se podemos reafirmar que o grande segredo daqueles que falam e principalmente escrevem muito bem seja justamente ler bastante, como ficaremos então a partir de agora com esta forte tendência (ou realidade) de nos vergarmos à pouca capacidade de muitos jovens em conseguir acessar/consumir conteúdos mais completos, variedades de opções ou um pedido claro para interagir, concluir, interelacionar, associar ou deduzir?

Por muito tempo, ser profundo era a maneira de mostrar conhecimento, estofo e background ou em outras palavras: em deixar bem claro que quem estava falando ou escrevendo sabia muito bem o que estava fazendo. Hoje, ele corre simplesmente o risco de não ser entendido e não porque não tenha se esforçado em ser didático ou claro, mas por que o receptor simplesmente não consegue acessar e entender. Ele mistura as letras e cria uma outra que não existe ou não entende ou fica inseguro ou ainda não chega na conclusão desejada, simplesmente não conecta.

Vivemos um dilema que não é estético ou de conteúdo, mas de forma: reduzir drasticamente o punch do que sabemos ou podemos passar, para respeitar a pouca capacidade de retenção do interlocutor e isso as vezes soa como uma violência. É como se alguém lhe pedisse para escrever um livro formado apenas de palavras com letras de A a L, porque o leitor não tinha aprendido o abecedário inteiro. O que seria certo aceitar o menor ou propor o mais? Se adaptar à um processo restritivo ou forçá-lo a ser por inteiro?

Já falamos nesta coluna sobre o paradigma da nova audiência e a dificuldade das novas gerações em se manter conectados e receptivos à conteúdos que passem de 15, 10 ou até mesmo 8 minutos. Muitos dirão que isso pede a criatividade em desenvolver formatos mais concisos, resumidos e objetivos. Outros dirão que é muita canastrice nos vergarmos à incapacidade, quando poderíamos propor a qualificação.

E você, o que pensa sobre isso? Passa por algo parecido? Como convive com outras gerações? Como vende ou apresenta um projeto para uma pessoa muito mais jovem?

É desta provocação que estamos falando hoje: sobre a desconstrução ou a disrupção da comunicação, que da clássica fórmula: emissor – mensagem – receptor, tem agora muito ruído no meio de tudo isso, inclusive a dificuldade de apenas ouvir, ler, assistir, entender, interagir ou compreender. Aqui temos um grande questionamento sobre a efetividade da comunicação e ela é chave para tudo o que fazemos.

Por muito tempo me diverti ao me autodefinir como prolixo, verborrágico e sem botão de síntese. Hoje, infelizmente entendo que isso significa em muitos casos não ser entendido. E não, não mudei o conteúdo ou as técnicas didáticas, mas posso ter alguém na minha frente que ao ver as letras L, O, V e E, poderá concluir que eu esteja falando OVLE, LVOE, VLOE ou EVOL. E na falta de outra definição, me perdoem, mas acho isso uma merda!