Apesar de todo o esforço dos líderes das agências especializadas, as gigantes do segmento de alimentação mantém práticas detestáveis, e, novamente, a BRF volta à cena.
Na mesma semana que anunciou participação no Programa Nós, para ajudar estabelecimentos ligados ao trade marketing (bares, restaurantes e afins), a empresa lançou um BID, voltado justamente para serviços de agências na área de trade marketing, com prazo de pagamento para 120 dias.
E foi além: O BID propõe um “Plano de financiamento” do valor a ser pago, com uma antecipação a taxa de juros de 0,50%.
Isso mesmo! Você não leu errado!
A BRF vai contratar as agências, pagar em um prazo de 120 dias mas poderá adiantar o valor que deve, desde que a agência contratada que legitimamente tem o direito de receber um valor integral, deixe 0,50% deste valor a receber no caixa da BRF para ter uma antecipação.
Entenda o caso
A nova proposta surge em meio a uma onda de reclamações depois que a BRF foi criticada por representantes do mercado ao promover processo no formato de leilão reverso (onde quem ganha é quem oferece o menor preço) com prazo de pagamento de 90 dias.
Este movimento ganhou repercussão pelo fato do CEO global da BRF ter excluído um post no seu perfil do LinkedIn que trazia junto uma série de mensagens de lideranças de agências condenando o formato da concorrência.
Em um deles, de acordo com informação do Propmark, Alexis Pagliarini, presidente da Ampro, que tem participação no jornal com uma coluna semanal escreveu: “Caro Lorival Luz, louvável a atitude da BRF por um mundo mais responsável e solidário. De fato, é a hora de se pensar em todos os stakeholders e não somente nos shareholders. Como representante de uma categoria bastante presente nas ações de marketing da BRF – o Live Marketing – gostaria mesmo é de ver tal atitude refletida nas relações da empresa com seus fornecedores do setor. O leilão reverso de ontem, continua o executivo, foi “um mal exemplo de relações sustentáveis e solidárias. O estabelecimento de 90D para pagar e uma taxa de 2% de remuneração contrariam todas as boas práticas difundidas no mercado. A Ampro está aberta ao diálogo e posso dizer que seus pares de outras empresas do mesmo porte estão se mostrando sensíveis. Fico à disposição para uma interlocução com seu pessoal de marketing e suprimentos. Vamos, juntos, contribuir por mundo mais sustentável e solidário?”
Na sequência disso tudo, a companhia retirou o BID do ar chamando a atenção, inclusive, dos tradicionais sites da publicidade Meio e Mensagem e Propmark.
Depois da repercussão, a BRF surpreendeu a todos e recolocou o BID no ar alegando “problemas técnicos”, argumento discutível diante da robustez do sistema da gigante do setor de alimentos.
Posteriormente, os líderes do movimento anunciaram uma reunião com a área de compliance da BRF. O processo, com verba de 15 milhões, contou com a participação de 10 agências estabelecendo o prazo de 90 dias para pagamento dos serviços.
Até o fechamento desta matéria ainda não havia sido divulgado nem o resultado da reunião, tampouco a agência ganhadora desta concorrência.
Procurado pela reportagem, Cristiano Muller, responsável por este novo BID de trade na área de compras da BRF não respondeu.
O mercado interpretou o prazo de 120 dias como uma atitude hostil da BRF ao momento de negociação que a empresa vive com as agências especializadas.