Esta famosa frase de Nelson Rodrigues parece não ter muita conexão com os dias atuais, pois basta nos transformarmos em adultos que já passamos a idolatrar os jovens e tudo o que eles representam.
Queremos nos manter jovens, atraentes, sexies, saudáveis e cheios de energia, porque em nossa sociedade ser jovem é estar no topo da pirâmide de influência e inspiração.
Desejamos a liberdade de poder ousar com novas linguagens e comportamentos, e, assim, ditar os hábitos de consumo e fazer o mundo girar ao nosso redor.
Nos-fascina o modo não linear de pensamento que os jovens desenvolvem, assim como seus dons de transcender os lugares onde estão, a partir das redes sociais e suas multitelas.
Então, com tantos poderes, por que envelhecer pode ser uma boa opção? Porque quem é adulto já foi jovem e sabe que a vida real, sem filtros, não é a timeline de um Instagram.
Sabemos que, mesmo para os jovens, as pressões e as fragilidades são grandes e obviamente todo esse excesso de informação e possibilidades têm consequências e estão causando uma grave crise de ansiedade e depressão.
Somos nós, os adultos, que nascemos nas gerações anteriores, que de alguma forma aceleramos esse processo, convencendo-os a serem a melhor versão possível deles mesmos.
Mentimos para os jovens, afirmando que eles são maravilhosos e superevoluídos. Eles sabem que não são, que são humanos, como nós.
Mas, afinal, quando deixamos de ser jovens e passamos a ser adultos mentirosos? Segundo a psicologia comportamental, nos tornamos adultos quando adquirimos independência financeira, saímos de casa, conseguimos manter um relacionamento estável ou, finalmente, quando temos filhos.
Por esses marcos citados, podemos entender que os jovens estão permanecendo jovens por muito mais tempo. Existe uma crise global de empregos e de achatamento de salários que dificulta a independência financeira, e, também por isso, eles estão retardando ao máximo a saída da casa dos pais.
E os relacionamentos, coitados, estão cada vez mais líquidos e virtuais. Já sobre os filhos, por que tê-los? Dão muito trabalho para criar e custam caro. É muita pressão, né?
Jovens são revoltados justamente porque são inseguros. Muitas vezes querem mudar o mundo, mas não conseguem sequer arrumar o quarto.
Até que dá para entender, porque não é fácil nascer exposto nas redes sociais, sem vida privada, editando sorrisos e lágrimas e vivendo entre curtidas e ameaças de cancelamento. É como participar de um eterno Big Brother da vida real, com métricas precisas, que dizem medir a felicidade.
“Tal empresa me decepcionou” é uma frase típica das novas gerações. Então, basta que o chefe ou a chefe tenha usado uma palavra indevida ou fora de contexto, que não combina com seus valores, para motivar um pedido de demissão.
Corremos o risco de que essa pureza de valores seja um caminho fértil para transformar jovens em pessoas intolerantes.
O desafio é que são esses jovens que estão entrando, e, em breve, estarão liderando as empresas em que trabalhamos. Pela primeira vez na história temos cinco gerações trabalhando ao mesmo tempo: Os veteranos da geração clássica, os workaholics Baby boomers, os divorciados da Geração X, os tecnológicos millennials e os mais jovens, da Geração Z.
Segundo Chip Espinoza, autor do livro Managing the Millennials, a Geração baby boomer abriu espaço para a criação de programas de apoio aos funcionários, a Geração X tornou o ambiente de trabalho mais informal e buscou o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas são os Millennials, também conhecidos como Geração Y, que estão misturando tudo.
Eles não se importam em acessar sua vida profissional de casa, mas também querem acessar sua vida pessoal no trabalho.
Inteligência emocional, autoconsciência, autorregulação e construção de relacionamento serão a chave para os locais de trabalho do futuro.
Os Millennials querem solucionar as coisas, e, por isso, estão sempre desafiando os processos. Gostam de pensar formas diferentes para os desafios de sempre.
O mais engraçado é que, no dia a dia do mundo corporativo, as gerações não se falam. Elas promovem conversas sobre todos os assuntos, menos sobre a integração entre elas. Então, esse é o desafio das corporações.
Porque quando o diálogo acontece as pessoas percebem que, além dos rótulos, elas são muito mais parecidas do que diferentes, e que, como profissionais, querem coisas semelhantes, como exercer uma atividade relevante, gerar resultados que deem prazer e boa remuneração.
Querem ter flexibilidade e autonomia, ter auxílio, reconhecimento, um bom café, e tantas outras coisas que não estão ligadas à tribo geracional à qual pertencem.
Estamos esquecendo que pessoas são pessoas. Quando elas se aproximam e se conectam, aceitam com mais facilidade suas diferenças e percebem o que “só elas” podem contribuir com o todo. E é isso que enriquece o trabalho e a vida.
Quando promovemos o diálogo entre gerações, eliminamos as pressões e estabelecemos métricas mais humanas, que consideram também o prazer e a realização.
Ao escolher conectar diferenças, ressignificamos até nossos ídolos, que deixam de ser figuras idealizadas do passado para se tornarem pessoas comuns, acessíveis, que realizam pequenos e possíveis sonhos.
A vida fica mais fácil e assim, de forma simples, partindo de cada um, contribuímos com esse necessário processo de integração e transformação.
Foto: Adam Kaz/iStock.