Imagine você ter que organizar um evento duas semanas depois dos atos de insurreição contra o Congresso americano durante a sessão de certificação da vitória de Biden, num país com o atual presidente “impeachmado” em meio a uma pandemia com 24 milhões de pessoas contaminadas e 400 mil mortes, e, ainda, dividido e tendo como sede Washington, sob estado de emergência.
É um desafio além da conta para os cerimonialistas convocados para este feito, não é mesmo?!
Não estamos falando de somente um dia de evento, e, sim, de quase 10 dias entre eventos de transição, transmissão de cargos, comemorações e homenagens.
São mais militares do que os que foram enviados ao Iraque ou Afeganistão, para vocês terem uma noção. Outros profissionais como agentes sanitários e muitos técnicos de tecnologia também entram em cena. O desafio é grande, com certeza.
Os presidentes em mandato costumam comparecer às cerimônias de posse de seus sucessores. O conturbado Trump conseguiu se evadir dessa obrigação, simplesmente porque sofreu impeachment, mas por quatro vezes outros políticos também não estiveram presentes, mas por outros motivos: Doenças, rivalidade ou renúncia no caso de Nixon.
Os moldes de cerimonial americano que temos hoje, começou no Século XIX, em 1801, Thomas Jefferson, tornou-se o primeiro presidente a ser empossado na recém-declarada Capital federal, Washington, D.C, antes acontecia em Nova York, sempre na data de 04 de março, depois, com a Constituição de 1933, mudou para dia 20 de janeiro.
Esse dia é conhecido como o Inauguration Day e acontece o tão famoso juramento do Artigo II, Seção 1 da Constituição dos Estados Unidos e a vice-presidente também faz juramento, logo após existe a performance da Banda dos Fuzileiros Navais dos Estados Unidos e Salva de 21 tiros de canhão*.
Segue com o esperado discurso inaugural que dá o tom do trabalho do eleito. O Uso da Bíblia é a mais comum, mas existiram presidentes que não utilizaram documentos, ou usaram livros de leis.
Barack Obama, por exemplo, em sua segunda posse, usou uma Bíblia de Mather Luther King. Kamala, a primeira mulher negra a assumir a vice-presidência dos EUA, vai usar duas Bíblias.
A primeira é a mesma que Kamala usou quando assumiu o cargo de procuradora-geral pelo Estado da Califórnia e a segunda Bíblia pertenceu ao ícone do movimento de defesa dos direitos civis Thurgood Marshall, o primeiro juiz negro a servir na Suprema Corte dos EUA.
Aqui temos arquibancadas e todo um protocolo com o limitado número de convidados – 1000 no total – devido as restrições do Covid-19.
Dá-lhe espaço entre as pessoas, luvas, e afins, sem falar da estrutura ‘parafernálica’ de transmissão, já que o público não poderá comparecer, mas será representado por meio de bandeiras representando os vários Estados do país.
Quem vai cantar o hino nacional neste ano é Lady Gaga, voltando a tradição de mulheres cantoras, quebradas por Trump.
Usualmente, bandas militares realizam performances de hinos tradicionais e oficiais, o simbolismo nisso é a transferência pacífica de poder, mesmo sob o olhar das forças armadas. Na sequência, presidente e vice-presidente e seus pares, depositam flores na Tumba do Soldado Desconhecido.
Outra tradição é a ida de carro até o capitólio em desfile, o que gera um momento de tensão na segurança, ainda mais depois do ocorrido com Kennedy e com o momento atual. Por isso será um breve percurso.
A dupla, presidente e vice, recebem convidados de honra num almoço oficial oferecido pela liderança do Congresso logo após a cerimônia de posse, no Salão das Estátuas do Capitólio.
Os convidados, costumeiramente, são: Membros do Congresso, oficiais da Suprema Corte, oficiais e representantes das Forças Armadas, recipientes da Medalha de Honra, outros dignatários, membros da equipe e presidentes anteriores.
A próxima primeira-dama, Jill Biden, e o segundo-cavalheiro, marido de Kamala, Doug Emhoff, também participarão de uma transmissão virtual voltada ao público infantil e adolescente, que inclui uma apresentação dos animais de estimação presidenciais, no caso são 02 pastores alemão, sendo que um resgatado.
Tem também a “Parada pela América”, um desfile virtual com apresentações de representantes dos 50 Estados, com muita inovação, como a de um coral formado por pessoas transgêneras, além de atletas olímpicos e artistas como a cantora Andra Day e a banda Earth, Wind & Fire.
Já de noite, um especial intitulado “Celebrando a América”, apresentado pelo ator Tom Hanks, o programa é para substituir o tradicional e luxuoso baile de inauguração, com participações como Jon Bon Jovi, Demi Lovato, Justin Timberlake, Foo Fighters, Bruce Springstein, Eva Langora, Jeniffer Lopez, entre outros.
Enfim, it´s show´s time e Viva a América das megaproduções, mesmo que híbridas, no momento atual. No caso desta posse, protocolos, tradições, logística operacional e extrema segurança, além de curadoria de conteúdo com cores, convidados, atrações que reflitam o que este novo governo se propõe a fazer e mudar o status quo anterior, trazendo ares apaziguadores.
É muito mais do que uma posse e um monte de produtores de eventos e cerimonialistas enlouquecendo naquilo que melhor e mais gostam de fazer, entregar tudo perfeito.
*A origem mais provável data da Idade Média,
quando cavaleiros europeus sepultavam militares de alta patente dando três tiros ao alto,
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para afastar maus espíritos.
Os 21 tiros surgiriam depois, ainda no período medieval,
quando os rituais de salva fúnebre e de gala (para cumprimentos militares) se unificaram.
Ao se aproximar de uma fortificação, tropa de guerra descarregavam canhões e mosquetes,
demonstrando vir em paz. O procedimento também foi adotado por tripulações de navios,
avisando sobre sua chegada em território alheio (site mundo estranho).