O peixe-boi (Trichechus inunguis) é um símbolo da fauna da Amazônia. Apesar da popularidade, o mamífero consta como vulnerável em listas brasileiras e internacionais de animais ameaçados.
Além disso, faltam aos órgãos ambientais maior quantidade de informações ecológicas sobre a espécie. Com experiência de mais de duas décadas no estudo sobre os peixes-boi amazônicos, o Instituto Mamirauá recebe agora o financiamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza com o objetivo de identificar áreas prioritárias para a conservação do peixe-boi em uma importante região da Amazônia: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã.
Com cerca de 2,3 milhões de hectares, Amanã, no estado do Amazonas, é uma das maiores áreas protegidas em florestal tropical do mundo e lar de vários espécimes de peixe-boi.
Desde o início dos anos 2000, o Instituto Mamirauá desenvolve ações em conjunto com os moradores da reserva, unindo os saberes tradicionais aos conhecimentos científicos em projetos destinados à conservação do peixe-boi amazônico na área protegida. Uma dessas ações, o Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária (mais conhecido como "Centrinho"), oferece assistência veterinária a peixes-boi encontrados em situação de risco.
Com o apoio da Fundação Grupo Boticário, o Instituto Mamirauá dá continuidade ao trabalho de monitoramento dos peixes-boi reabilitados depois que eles são reinseridos na natureza. Eles passam então a ser rastreados por telemetria, um método que permite localizá-los debaixo d´água buscando os sinais de rádio emitidos pelo cinto transmissor instalado em cada peixe-boi. Em cima de barcos e munidos de antenas, os pesquisadores recebem os sinais dos animais e podem assim identificar sua distribuição nos lagos da Reserva Amanã.
"Vamos relacionar as localizações dos peixes-boi com as variáveis ambientais (como profundidade, turbidez e velocidade da correnteza de superfície) para tentar identificar um padrão de uso do ambiente para esses animais", explica a pesquisadora Camila Carvalho, uma das responsáveis pelo projeto. Os monitoramentos vêm sendo realizados durante dez dias consecutivos por mês desde setembro do ano passado e seguem até setembro de 2018, quando o projeto completa um ano. A meta é que quatro peixes-boi amazônicos (quatro fêmeas e um macho) sejam monitorados nesse período.
Camila Carvalho explica que o foco das pesquisas se concentra nas áreas de uso dos peixes-boi "para podermos entender todo esse grande cenário e tentar construir o passo a passo do caminho dos peixes-boi na região ".