As marcas globais envolvidas direta ou indiretamente com a Fifa se pronunciaram a respeito dos casos de corrupção envolvendo dirigentes da entidade. Nike, McDonald´s, Adidas, Coca Cola e AB Inbev emitiram comunicado sobre o tema.
Na noite desta quarta-feira, 27 de maio, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), afastou José Maria Marin, vice-presidente da Federação e disse que vai rever os contratos de marketing.
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De todas elas, apenas a Nike está envolvida diretamente com o caso. No dia 27 de maio, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos revelou “supostos esquemas de propinas entre a CBF e uma grande marca de sportswear dos Estados Unidos”.
A Nike é fornecedora de uniformes da Seleção Brasileira. Sem citar a CBF, a empresa disse que colabora com as autoridades. “Como todos os nossos fãs ao redor do mundo, nós somos apaixonados pelo jogo e essas acusações são muito sérias. A Nike acredita em ética, em fair play tanto nos negócios como no esporte, e repudia fortemente toda forma de manipulação.”, disse a empresa.
A rede McDonald´s, patrocinadora da Fifa, demonstrou “extrema” preocupação com o tema e disse que acompanha as acusações contra a entidade. “O McDonald´s leva muito a sério as questões relacionadas à ética e à corrupção, e considera que as informações divulgadas pela Justiça americana são extremamente preocupantes.”
A empresa ainda destacou que está em constante contato com a Federação desde que o escândalo começou. “Acompanharemos de perto a situação.”
Já a fabricante de roupas e acessórios esportivos Adidas reforçou seu compromisso de apoiar o futebol e defender um posicionamento exigente. “Buscamos altos padrões em termos de ética e esperamos o mesmo de nossos parceiros.”
A Adidas também disse que incentiva estabelecer padrões consistentes com transparência em tudo que faz.
A cervejaria belgo-brasileira Ab Inbev, que patrocina a Fifa por meio da marca Budweiser, afirmou que espera altos padrões éticos e de transparência de seus parceiros.
A Coca-Cola também manifestou preocupação sobre as alegações. “Nosso desejo é que as questões relativas à corrupção sejam abordadas com seriedade.”
Entenda o Caso
Em colaboração com a Justiça dos Estados Unidos, autoridades policiais da Suíça conduziram uma operação no dia 27 de maio, em Zurique, para prender executivos do futebol que se reuniam para um evento da Fifa. Dentre eles, José Maria Marin, ex presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Os dirigentes estão na mira de uma investigação do FBI, a polícia federal americana, que os acusa de corrupção generalizada nas últimas duas décadas, especialmente envolvendo escolha das sedes da Copa do Mundo em 2018 (Rússia) e 2022 (Catar).
As prisões foram decretadas por uma corte federal do Brooklyn, Nova York, que informou em comunicado que os valores desviados no esquema seriam de até US$ 150 milhões.
Os presos, inclusive Marin, podem ser extraditados para os Estados Unidos a qualquer momento. Eles já estão na condição de réus.
Outros dirigentes esportivos detidos na Suíça foram Jeffrey Webb (presidente da Concacaf, entidade que comanda o futebol da América Central e Caribe), Eugenio Figueredo (ex presidente da Conmebol, federação da América do Sul), Jack Warner (Federação de Trinidad e Tobago), Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Costas Takkas, Rafael Esquivel e Nicolás Leoz (ex presidente da Conmebol).
Em comunicado, emitido também no dia 27 de maio, a Fifa disse que é a parte prejudicada nas investigações e está cooperando com a Justiça. “Ficamos satisfeitos que a investigação está sendo levada com seriedade para o bem do futebol e acreditamos que ela reforça as medidas já tomadas pela entidade para combater a corrupção.”
Propina na Libertadores e Copa do Brasil
Além da escolha das sedes das Copas, a investigação aponta pagamento de propina e comissões em cima de propriedades de marketing e direitos de transmissão de competições organizadas pela Concacaf (Federação de futebol da América Central e Caribe), Conmebol (que cuida do esporte na América do Sul) e CBF.
Assim, além dos dirigentes de futebol, estão sendo acusados profissionais ligados ao marketing esportivo e mídia. Dentre eles José Hawilla, dono da Traffic.
O executivo, inclusive, é considerado réu confesso, já que foi condenado nos Estados Unidos em 12 de dezembro de 2014 por lavagem de dinheiro e obstrução de Justiça e concordou em pagar multa de US$ 151 milhões.
Além de Hawilla, também já se declararam culpados anteriormente o norte-americano Charles Blazer, ex secretário-geral da Concacaf, e Daryan e Daryll Warner, filhos do ex vice-presidente da Fifa Jack Warner.
Segundo um comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos sobre o caso, os eventos esportivos que teriam sido parte do esquema de pagamento de propinas e comissões são Taça Libertadores, Copa América (organizadas pela Conmebol), Copa do Brasil (CBF), Eliminatórias da Concacaf para a Copa do Mundo, Copa Ouro e Copa dos Campeões da Concacaf (todas das Concacaf).
O comunicado também cita “Alegados esquemas relacionados a pagamento e recebimento de comissões e propinas em conexão com o patrocínio à CBF por uma grande marca de sportswear dos Estados Unidos (NR: a Nike não é citada, mas é a fornecedora de uniformes da Seleção Brasileira), a escolha da sede da Copa de 2010 e a eleição presidencial da Fifa em 2011.”
Além de Hawilla, estão na mira da Justiça americana outros executivos do setor de marketing esportivo e mídia da região, como Alejandro Burzaco, presidente do canal esportivo argentino TyC; Aaaron Davidson, presidente da empresa de marketing esportivo Traffic Sports nos Estados Unidos, companhia que comercializa direitos de transmissão das competições da Concacaf (Davidson também é dirigente da liga de futebol NASL, concorrente da mais tradicional MSL, e na qual joga o time Fort Lauderdale Strikers, que tem Ronaldo Nazário entre os sócios).
Também são investigados Hugo Jinkis e Mariano Jinkis, donos da Full Play Group, contratada da Conmebol para comercializar direitos de transmissão de competições da região, e o intermediário José Margulies, que é brasileiro e também conhecido como José Lázaro.
“Eles (os executivos), sistematicamente, pagaram mais de US$ 150 milhões em propinas e comissões para obter direitos lucrativos de mídia e marketing em torneios de futebol.”, aponta comunicado.
“Duas gerações de dirigentes de futebol abusaram de suas posições de confiança para ganho pessoal, por meio de aliança com executivos de marketing inescrupulosos que barraram concorrentes e mantiveram contratos lucrativos para si mesmos através do pagamento sistemático de propinas.”, conclui o texto.