Depois de firmar acordo com Comissão nos Estados Unidos, plataforma anuncia mudanças em seu sistema a fim de oferecer mais proteção aos dados de crianças.
O Google, empresa detentora do YouTube, anunciou, semana passada, que firmou um acordo com a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC) e pagará multa de US$ 170 milhões por coletar e utilizar, ilegalmente, dados de crianças na plataforma de vídeo, com o intuito de segmentar publicidade dirigida ao público infantil.
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O Google é acusado de violar a lei americana de proteção à privacidade on-line de crianças (Coppa), que proíbe a coleta de dados pessoais de crianças com menos de 13 anos sem o consentimento dos responsáveis.
Após o acordo, o YouTube anunciou que, em um prazo de até quatro meses, modificará seu sistema para oferecer mais proteção às crianças e deixará de segmentar anúncios personalizados para os vídeos infantis.
Além disso, usará recursos de inteligência artificial para identificar vídeos que contenham elementos infantis, como personagens, brinquedos e jogos – sendo que os criadores deverão sinalizar quando seus conteúdos pertencerem a essa categoria – e desativará os recursos de comentários e notificações em vídeos infantis.
O programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, que há 13 anos atua pelo fim da publicidade infantil, entende que as mudanças anunciadas representam um passo importante para a proteção da criança no ambiente digital, mas atenta que as medidas ainda são insuficientes. Principalmente, porque a plataforma continuará veiculando mensagens publicitárias em canais e vídeos infantis.
Outra preocupação que ainda se mantém é a publicidade velada que acontece dentro do conteúdo, especialmente por meio de canais de unboxing e de youtubers mirins.
"É fundamental que os espaços de socialização digital das crianças não tenham nenhuma comunicação mercadológica, já que qualquer tipo de publicidade infantil é ilegal. A linha entre anúncio e entretenimento, na plataforma, é quase imperceptível até para um adulto. As empresas sabem disso e fazem questão de tirar proveito dessa zona cinzenta se valendo de um espaço de comunicação e entretenimento para promover marcas e produtos, aproveitando-se da relação de confiança que se estabelece entre a criança produtora de conteúdo e a espectadora.", explica Livia Cattaruzzi, advogada do Criança e Consumo.
Para Joe Simons, presidente da FTC, "O YouTube se aproveitou de sua popularidade entre as crianças para conseguir potenciais clientes corporativos. Porém, quando se tratava de cumprir a Coppa, a empresa se recusou a reconhecer que partes de sua plataforma eram claramente direcionadas para crianças."
O YouTube tem cerca de 2 bilhões de usuários mensais no mundo, e, segundo seus termos de uso, é necessário ter mais de 18 anos para usar o serviço no Brasil – o que não ocorre na prática, já que muitas crianças produzem e acessam conteúdos na plataforma, e são expostas a conteúdos de publicidade infantil.
No Brasil, segundo uma pesquisa realizada em 2017 pela ESPM Media LAB, entre os 100 canais da maior audiência no YouTube Brasil, 52 eram de conteúdo direcionado ou consumido por crianças, e a audiência do conteúdo infantil na plataforma de vídeos ultrapassou 115 bilhões de visualizações.